No dia mais caipira do ano, arraial de escola de samba e de bloco surpreende
Vila Carvalho e bloco Calcinha Molhada trocaram a folia pela fogueira em festas com direito a música de Carnaval e quadrilha com casamento lésbico
Não há como negar que este fim semana foi o mais agitado no quesito festa julina. Só na programação aberta ao público foram mais de 15 eventos por Campo Grande. Teve muita quadrilha, traje típico e quitutes de deixar o público com água na boca, mas o que surpreendeu foi o verdadeiro pré-Carnaval protagonizado pela escola de samba Vila Carvalho e o Bloco Calcinha Molhada, que estreou na programação caipira rompendo até com os padrões de casamento nesse tipo de festa.
Quem abriu as portas do barracão às 17h, do sábado, foi a Vila Carvalho que deixou de cobrar ingresso por um motivo especial. Em 2019, a escola completará 50 anos de história que será narrada na avenida, no próximo desfile de Carnaval, com enredo já definido.
"Jubileu de ouro a Vila conta, canta e encanta seus 50 anos" é o enredo revelado pelo mestre de bateria e vice-presidente da escola, Wlauer Costa Carvalho, de 44 anos, que comemora a resistência no carnaval campo-grandense.
"A gente se emociona muito. Porque colocar uma escola de samba, que queira realmente ganhar o título, na avenida não é fácil. São anos de muito trabalho, perdas e ganhos para ver nossa escola ser campeã. Se a Vila Carvalho chegou onde está hoje, é por causa dessa comunidade".
Em razão disso a festa foi aberta a todos e o dinheiro arrecadado com a venda de bebidas e comidas será investido no desfile do ano que vem. "Queremos fazer uma festa linda, entrar na avenida de um jeito que ninguém nunca viu. Mas para colocar uma escola na rua, não gastamos menos que R$ 180 mil".
Apaixonada por Carnaval há 14 anos, Eda Alves, de 65, ficou ainda mais entusiasmada com a mistura de samba e forró numa noite só. "Eu amo o Carnaval e adoro arraial, todo ano quando mistura os dois eu fico muito feliz, é tudo de bom".
A noite foi de comidas típicas com doces, salgados e quentão. Na programação musical teve forró, muito samba e claro, apresentação da bateria da escola que faz tremer o coração da comunidade.
Foi para sentir toda essa energia que a engenheira civil Juliana Peres, de 35 anos, resolveu comemorar seu aniversário no barracão da escola. "Eu sou enlouquecida pelo Carnaval, participo de todas as festas e quando soube que o arraial seria hoje, dia do meu aniversário, quis arrastar todo mundo".
A turma topou e foi em peso para a escola. Com mesa decorada com balões de LED, Juliana contratou fotógrafo e até protagonizou uma sessão de fotos na frente do evento ao lado das amigas. "Está muito divertido e eu não tinha dúvidas que seria feliz aqui", resume.
Caipira, mas com estilo - As meninas do bloco de Carnaval Calcinha Molhada também fizeram sucesso com uma festa que contemplou todos os estilos. Do sertanejo ao forró, a programação musical também fez o povo curtir ao som do funk, reggaeton e reggae durante a noite, com músicas que ganharam até remix misturado com xote.
Mas o que surpreendeu, mais uma vez, foi a diversidade. Por considerar justa toda forma de amor e levantar a bandeira contra o preconceito, a quadrilha começou com um casamento nada convencional. No lugar do noivo, três noivas puxaram a dança com um casamento lésbico triplo.
A brincadeira rendeu muitas risadas e apoio do público que não se intimidou em fazer a grande roda. Depois da dança, a festa continuou com apresentações musicais, comidinhas mais alternativas como sanduíches no pão francês, choripan pantaneiro, sanduíches vegetarianos e quentão com catuaba.
Raína de Alencar Menezes, uma das fundadoras do bloco, enfatizou que a festa nasceu, principalmente, para as mulheres. "É para que elas se sintam à vontade e se divirtam com muito respeito".
O número de pessoas que lotou o espaço de eventos também surpreendeu. "A gente fica muito feliz porque é a primeira edição e fizemos com muito carinho. Cada detalhe foi pensando em tudo que o público do Calcinha Molhada gosta".
Assim como na escola de samba, o dinheiro arrecadado também será para investimento no Carnaval 2019. Quem espera ansiosa pela folia, viu a festa julina como um verdadeiro pré-Carnaval. "Eu fui em todas as edições do Calcinha e amo o jeito que elas fazem a festa. O mais legal foi que elas conseguiram reinventar a festa caipira", diz a acadêmica de Psicologia Camila Barros, de 23 anos.
Milena Ferreira Lima, de 18 anos, foi a que mais se soltou na pista. "Eu amo dançar e a festa está linda. O público nos respeita e eu acho que deveria ter festa julina com Carnaval o ano todo", acredita.
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