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Diversão

Rainha grávida de 9 meses, ala trans e medos marcam 1° dia de desfile de escolas

Primeiro dia de desfile das escolas de samba de Campo Grande foi realizado nesta segunda-feira (24); confira os detalhes

Thailla Torres | 25/02/2020 08:05
Eliza está no nono mês de gestação e não abriu mão de desfilar pela escola de samba Unidos do Aero Rancho. (Foto: Paulo Francis)
Eliza está no nono mês de gestação e não abriu mão de desfilar pela escola de samba Unidos do Aero Rancho. (Foto: Paulo Francis)

Unidos do Aero Rancho, Unidos do Cruzeiro e Cinderela Tradição foram escolas que empolgaram o público na primeira noite de desfile das escolas de samba de Campo Grande realizada nesta segunda-feira (24).

Repleta de reflexões sobre o papel da imprensa, jogos e o os medos que consomem o ser humano da infância à vida adulta, a noite também teve escola de samba prejudicada por problemas em carros alegóricos.

No entanto, cercado de esperança, segundo os próprios carnavalescos, o desfile foi bonito porque há um momento em que “se usa a voz do coração” para levantar a energia e fazer com que nada apague o sorriso durante os 60 minutos de trajeto pela Passarela do Samba.

Carro alegórico que faz referência à imprensa entrou faltando águia, símbolo da escola. (Foto: Paulo Francis)
Carro alegórico que faz referência à imprensa entrou faltando águia, símbolo da escola. (Foto: Paulo Francis)
Comissão de frente sobre como o mundo se comunica. (Foto: Paulo Francis)
Comissão de frente sobre como o mundo se comunica. (Foto: Paulo Francis)
Ala em que casal transexual foi destaque. (Foto: Paulo Francis)
Ala em que casal transexual foi destaque. (Foto: Paulo Francis)

A festa ao lado da Praça do Papa começou às 20h00 com a escola de samba mirim Herdeiros do Samba fazendo a abertura, sem disputar pelo título. Com o enredo “Animais: escravos? Amigos? Companheiros? Ou explorados o ano inteiro?” a meninada falou sobre a relação do homem com os animais.

Já em disputa, a Unidos do Aero Rancho foi primeira escola a desfilar homenageando a imprensa e o futebol no “terrão”, que nos últimos anos ganhou destaque nas mídias.

Com a comissão de frente mostrando que o tempo comunica, a escola falou em todas as suas alas e alegorias sobre instrumentos de comunicação. O carro abre alas, por exemplo, trouxe como elemento principal a coroa, símbolo da agremiação, e utilizada também pela escola para lembrar o período em que as notícias eram em nome da coroa.

A águia que estava prevista no mesmo carro alegórico precisou ser abandonada minutos antes do desfile, o que prejudicou e decepcionou integrantes da escola de samba. “Ela está linda, mas não tempo de colocar, não havia um ferreiro neste momento para nos ajudar e a escola também estava sem recursos”, lamentou a diretora de Carnaval Elizangela Cerqueira.

Mas a águia que não apareceu no carro encantou em forma de desenho na barriga da rainha de bateria Eliza Cerqueira, de 22 anos, grávida de nove meses que, mesmo com barrigão, não abriu mão de desfile. “Eu tive permissão da minha médica e pude realizar o sonho de desfilar com a minha escola. Eu e minha princesa Eduarda.”

A escola ainda falou sobre o papel social da imprensa de dar voz às minorias em todos os cantos do mundo e a importância da sensibilidade no jornalismo. Algumas alas levaram para à avenida reportagens que foram destaques no jornalismo brasileiro e campo-grandense, uma delas, definida no último mês, surgiu após o Lado B contar sobre a história de amor e resistência do casal transexual Cecília e Arthur. O casal, inclusive, foi destaque da ala que fechou o desfile com integrantes da Casa Satine e o carro alegórico com protestos que ganharam as mídias no último ano.

“O nome da nossa fantasia é transcender, representa o ouro, a realiza e a majestade do povo LGBT que a sociedade apaga”, comentou Cecília.

Unidos do Cruzeiro falou sobre jogos. (Foto: Paulo Francis)
Unidos do Cruzeiro falou sobre jogos. (Foto: Paulo Francis)
Peças de tabuleiros. (Foto: Paulo Francis)
Peças de tabuleiros. (Foto: Paulo Francis)

Às 23h15 foi a vez da Unidos do Bairro do Cruzeiro brilhar na Passarela do Samba. A escola falou de jogos e lembrou os tempos de bingo da Rua 14 de Julho, com o samba de enredo “Jogar é um desafio, desafio envolve riscos, riscos envolvem incertezas, incertezas envolvem perdas ou ganhos”.

A mensagem da escola veio logo com a comissão de frente, que representou o Chaturanga, um antigo jogo de tabuleiro indiano. Na sequência veio o tripé abre alas falando que a cigana lê o destino.

Com nove alas, o carnavalesco Alex Guedes levou para o desfile não só as cores da escola, como a energia dos jogos, de azar ou não, com ala de baianas inspirada no filme Alice no País das Maravilhas, cartas de baralhos, dominó e bingos. A escola ainda falou sobre jogo da velha, búzios e jogos olímpicos.

O medo é um sentimento que se transforma ao longo da vida, mas nunca desaparece e foi sobre ele que a escola de samba Cinderela Tradição do José Abrão resolveu falar em 2020. Aparentemente segura desde o início, a escola mostrou a que veio no primeiro dia logo com a comissão de frente, inspirada na canção Thriller de Michael Jackson, com uma coreografia bem ensaiada e realizada por um grupo de bailarinos profissionais.

A escola lembrou medos que durante muito tempo permearam e ainda permeiam o imaginário das crianças, como o medo de bruxas, fantasmas, personagens maléficos de filmes de terror como Freddy VS Jason, até os medos reais que hoje dominam a cabeça e o coração da humanidade, como o temor de que “a maldade possa vencer o amor”.

A escolha veio as encontro das incertezas da escola nos últimos anos, principalmente após o falecimento do criador e ex-presidente Gilberto Corrêa Lopes, que partiu em 2017, vítima de um infarto fulminante.

Comissão de frente da Cinderela Tradição. (Foto: Paulo Francis)
Comissão de frente da Cinderela Tradição. (Foto: Paulo Francis)
Ala das baianas bruxas. (Foto: Paulo Francis)
Ala das baianas bruxas. (Foto: Paulo Francis)
Você tem medo de quê? Peguntou a escola de samba na avenida. (Foto: Paulo Francis)
Você tem medo de quê? Peguntou a escola de samba na avenida. (Foto: Paulo Francis)

“Desde que meu pai faleceu o medo rondou a nossa escola, são incertezas sobre o futuro e como a gente vai lidar com as perdas. Foi refletindo sobre isso que a gente resolveu falar sobre o medo, que vai além do medo de fantasmas, é o medo da indiferença, da intolerância, da falta de diálogo e o cuidado com a natureza. A falta de cuidado com o próximo e o mundo deve ser discutida”, finaliza o presidente da escola Diogo Miranda Corrêa.

Segundo dia – Os desfiles continuam nesta terça-feira, a partir das 19h30. A primeira escola a desfilar será a Igrejinha, com o enredo “Escute o Trovão, é Xangô chegando”. A segunda a desfilar será a Unidos da Vila Carvalho, atual campeã de 2019. Este ano, o enredo é “Carvalho com consciência negra”. Em seguida desfila a Deixa Falar, atual vice-campeã, com o enredo “Tocando em frente, sou caipira Pirapora”.

O encerramento ficou para a escola Catedráticos do Samba, com o enredo “Um Brasil de três raças, mistério da nossa trindade, de onde no canto do Brasil, nascemos no retumbante som de felicidade, nossa forja, os matizes, nossa trindade sagrada, nosso orgulho, nossa glória, nossa existência”.

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