Um dos bares mais antigos de Campo Grande é descoberto pela moçada
Os azulejos na cor azul calcinha e o chão vermelho, do tipo encerado, revelam que o Bar Aguena, ou “Bar do Pedrão”, tem algumas décadas de idade.
Pedro Aguena herdou do pai o ponto comercial e tratou de preservar o espaço na Praça Aquidauana, no Centro de Campo Grande. Tímido, quem assume o papel de marqueteira e porta voz é a esposa, Luci.
Há mais de 20 anos casada, ela conhece toda a história da família do marido e, de tabela, a do bar. “Já vi muitos clientes fechando negócios, se reconciliando com a esposa e até comprando casa, tudo aqui, no meu balcão”, lembra.
Luci garante que o bar é o mais antigo da cidade, ainda em funcionamento, apesar de não ter qualquer documento que prove isso. Mas algumas “testemunhas” confirmam a longevidade.
O feirante Alfredo Arakaky é assíduo desde a inauguração, quando ainda era um menino. O senhor, de 77 anos, viu a vida tomar forma ali, durante quase 7 décadas. “Meus amigos fiz aqui”, resume.
Hoje, a frequência diminuiu, mas passar pelo Aguena, “pelo menos 3 vezes por semana”, é algo sagrado. Ele faz parte do grupo do jogo de Bozó, que passa noites chamando a atenção das outras mesas com o bordão: “Sortei, não quero mais”.
Todo começo de noite, o happy hour é no Aguena para amigos de pelo menos 30 anos. Companheiros na vida e no bar, eles se divertem jogando o tal Bozó.
O funcionário público Celso Uehara, 48 anos, tem o Aguena como extensão de casa, desde pequeno. Antes, ele ia brincar na “pracinha Aquidauana”, logo em frente. “Meu pai ficava espiando de longe, sentado no bar”, lembra. Hoje, o cliente é Celso.
Há um ano e meio, a cara do público no antigo endereço comercial deu uma rejuvenescida. A abertura de outro bar na mesma rua, bem mais moderninho, fez a moçada descobrir o Aguena e ficar fã, graças aos ares do clássico boteco “desencanado” carioca.
A “velha guarda” tem espaço cativo, mais uma vantagem para os novos clientes. “Aqui se tornou um espaço cultural, com músicos, atores e produtores”, diz Luci.
Até hoje, o Aguena funciona como sempre, sem qualquer inovação tecnológica. Não aceita cartões e só cabe ao cliente pagar em dinheiro. A consumação é controlada em fichas de papelão.
Uma dica para quem decidir conhecer é experimentar o quibe, eleito pelos freqüentadores como o melhor de Campo Grande.
O prato de origem árabe ganhou tempero japonês do proprietário, com toque brasileiro, por R$ 2,50. “Cozinhando em casa com o marido a receita saiu, ainda bem, porque antes o quibe não era bom”, admite Luci.
O Aguena funciona na rua Aquidauana, 73, de segunda a sábado, a partir das 19 horas.