Nas histórias de amor, o que acontece quando o príncipe vira sapo?
Os anos de atendimento em consultório e as experiências da própria vida fizeram Adriane e Ricardo juntarem os encontros e desencontros que tiveram para discutir os vínculos afetivos em grupo. Psicólogos, eles ilustraram ao Lado B porque tanta gente repete o ciclo de términos assim que a paixão acaba. A chave para a construção deles está no autoconhecimento e também no diálogo.
Desde o início do ano, o Lado B se propôs a falar na editoria "Faz Bem" sobre questões psicológicas e emocionais, a fim de que nos tornemos melhores pessoas no decorrer de 2017. Seguindo essa ideia, a dupla de psicólogos quer levar à reflexão casais ou solteiros que desejem entender porque relacionamentos não estão dando certo, bem como lançar luz sobre todas as formas de se vincular ao outro afetivamente.
"Por que as pessoas fazem determinadas parcerias? O famoso dedo pobre ou quem sabe o segredo do dedo certo?" brinca o psicólogo Ricardo Barros, de 30 anos.
Não há como falar em termos gerais sobre a principal reclamação nos consultórios, já que isso varia de acordo com o perfil de cada um. Porém, como terapeuta de casal, Adriane Lobo explica que o que destrói relacionamentos é a falta de comunicação. "A dificuldade de comunicar o que sente. O famoso 'contrato'. Quando se namora, é um contrato. Quando se está noivo, outro e, no casamento, são várias etapas", explica Adriane, de 52 anos.
Depois que passa a paixão, o amor romântico daquelas cenas de Romeu e Julieta, é a hora de ver quem está preparado para chegar ao amor. "A pessoa acha que encontrou o príncipe, mas era um sapo. Sofre e termina", resume Ricardo.
A historinha que Adriane sempre repete, do príncipe e da princesa, ilustra muito bem a quantas andam as nossas expectativas. "Um dia a princesa beija o príncipe e ele vira sapo. O que foi que aconteceu? Essa é a questão. Quando vira sapo, acaba a relação. Só que às vezes os dois viram sapos e por que não conseguem olhar um para o outro? É a hora que caem as máscaras, que aparecem as neuroses", descreve a psicóloga.
Cientificamente, Ricardo explica que uma paixão tem prazo de duração de seis a oito meses, mas que, culturalmente, somos influenciados por isso. "Para os latinos, a paixão é algo importante. É como se fosse um dever você sentir aquela paixão. O que queremos é mostrar que existem outras formas de aproximação, de se formar um vínculo", relata.
Se o príncipe virou sapo, não é trocando de namorado que se resolve a questão. "As pessoas só querem o príncipe e não o sapo. Existem várias possibilidades para isso acontecer, mas, na maioria das vezes, as pessoas projetam muito no parceiro. Eu projeto no outro que ele atenda às minhas expectativas", exemplifica Ricardo.
E, em geral, isso não acontece nem de forma consciente. "Por isso dá muito problema, porque eu transfiro para você como quero que você cuide de mim, me oriente, me ame e isso é algo muito pesado. De repente, vira sapo, ou seja, eu começo a ver o outro como ele é, um humano como eu que não dá conta", explica o psicólogo.
Não tem receita de bolo a ser seguida para um relacionamento, mas o que pode ser feito é entender quais são os pilares de uma relação. "Acontece que os casais se unem pela necessidade, por exemplo: no estado da paixão, não tem certo e errado tem só o que tem de bom para mim. A paixão é o que eu gosto em mim, em você. Eu vejo no outro um pedaço meu que amo", explica.
Exemplificando, Adriane diz que uma pessoa que goste muito de samba tem a possibilidade de se apaixonar por um sambista. "E ela nem vai querer saber se ele é honesto ou não. Isso pouco importa, o que ela quer é sambar com ele pelo resto da vida. Mas e quando passa a paixão? O que mais tem ali?", indaga.
E para se encontrar é preciso identificar o que lhe desencontra, olhar para si e entender o que cada um de nós procura. "O que você quer, com o outro ou sem o outro, para a sua vida? É um processo de autoconhecimento. Nós somos seres vinculares que vivemos em relações e em dependência de outros seres e vamos viver procurando nos ligar a pessoas que nos complementem. Porém, cada um tem a sua individualidade", alerta Ricardo.
Sobre o tema, Adriane e Ricardo fazem uma palestra na próxima segunda-feira, dia 15, às 19h, no auditório da Unimed, na Rua da Paz. A inscrição custa R$ 50,00. Informações pelo: 9-9865-2484 e 9-9266-9449.
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