Quem disse que Campo Grande não tem um brechó de verdade?
A indicação vem de pessoas que trabalham com moda. Na rua Abraão Júlio Rahe - 405, em Campo Grande, é só tocar a campainha para conhecer o brechó Doka - vintage store. Dolly Batista, de 39 anos, ficou sem emprego e resolveu ganhar dinheiro com o que tinha no armário. Deu certo.
Há dois anos e meio ela vive de peças usadas e não se envergonha de parar mulheres bem vestidas na rua e oferecer seu cartão. “Paro e falo: se tiver algo em casa que não usa mais, leve para mim”.
Era esteticista e trabalhava como uma linha de produtos dermatológicos, mas ficou sem trabalho depois que a franquia abriu lojas na cidade.
“Estava sem trabalho e meu filho na época ia fazer sete anos e tinha um monte de roupas que não serviam mais. Pensei, como essas peças estão em bom estado, vou vender”.
Depois de percorrer outros brechós pela cidade, percebeu que esse tipo de serviço não era oferecido com o cuidado que ela julgava necessário.
“Fui até um brechó no centro da cidade e, enquanto me atendia, a mulher cozinhava. Levei também umas peças minhas, mas ela não se interessou. Fiquei um tempo lá pensando, o que fazer da vida e daí veio a ideia”.
A oportunidade caiu como uma luva, trabalhar e ao mesmo tempo cuidar do filho. Dessa junção também surgiu o nome da loja Doka, um misto de Dolly e Carlos, o nome do filho.
O brechó funciona na frente da casa da pequena família e há dois meses ganhou mais espaço, onde antes funcionava um salão de beleza.
Com o tempo, o lugar deixou de ser apenas um jeito de ganhar dinheiro. "Procuro trabalhar na cabeça delas (clientes) para deixarem de ser cúmplices da industria têxtil, descartando peças que não usam mais. Sempre tento trabalhar na cabeça das pessoas a questão da conscientização ambiental. Hoje as industrias têxteis são as maiores poluidoras do planeta. Para mim é uma forma de colaborar com o meio ambiente".”.
A maioria das peças à venda traz junto histórias das pessoas. “Tem uma sapatilha que uma moça comprou no Paquistão. Ela viaja muito e comprou em uma passagem por aquele país. Embora a peça tenha sido muito usada, comprei. Ela tem uma história. Você observa que apesar de muito usada, ela ainda está em perfeito estado. Isso mostra que naquele País há uma preocupação com consumismo. As coisas são duráveis. De bom material”, explica.
Dolly diz não ter muito critério de escolha para compra. “Olho e se gosto compro. O essencial é que esteja em perfeito estado”.
As pessoas que aparecem, querem produtos de marca, em perfeito estado e de bom preço. Mas também há restrições. “Me perguntam se tem aqui peças de alguém que morreu, daí elas não querem comprar. Mas digo que até hoje todas as peças que vieram, foram as próprias donas que trouxeram”, garante a dona.
Para esses clientes, dentre os produtos disponíveis está uma bolsa da Victor Hugo original, agora ao preço de R$ 100. “Já vendi aqui uma Gucci original por R$ 200. Comprei de uma antropóloga que sempre traz peças pra mim. Ela contou que comprou essa bolsa por mais de R$ 1 mil”.
Também há sapatos da marca Shutz, por R$ 70, vestido a R$ 90. Peça da Iódice, que na loja custava R$ 680 é vendida no brechó por R$ 198.
Vestido longo da Cholet custa R$ 180. Há ainda vestido de festas, que boa parte deles é mais barata do que um aluguel em lojas especializadas. Em média custam R$ 170 e ainda há possibilidade de serem novamente vendidos à Doka.
Um conjunto de festa com calça e casaco bordado com fita, por exemplo, custa R$ 150.
Na lista ainda há sandália Colcci, por R$ 100 - mesmo modelo foi usado por Gisele Bündchen no encerramento do desfile de coleção de verão 2010; Melissa por R$ 60; sapato Alexandre Burman R$ 198; vestido Carmim branco por R$ 80; e blusa de cetim de seda na cor da moda por R$ 49. Mas tudo ainda tem direito a negociação e descontos.