Apesar da onda gourmet, a busca pelo churros perfeito termina mesmo é nas ruas
Bolo de churros, mini-churros de Nutella, com sorvete, cocada... É mais uma moda gourmet, agora com inspiração mexicana. O sabor do doce frito, passado no açúcar e na canela, recheado geralmente com doce de leite, ganhou status, preço maior e espaço nas padarias, cafés, docerias e restaurantes da cidade. Mas quem trabalha nos carrinhos ambulantes ou em portas de escolas, garante que o original, com gostinho que remete à infância, continua mesmo é nas ruas.
O Lado B então partiu para o Centro de Campo Grande em busca do “churros perfeito” e das histórias que estão ali, por anos. adoçando a vida de muita gente. Em quase todas as esquinas, a massa é sempre sequinha e o recheio farto.
O JJ Churros, sempre à disposição na Rua 14 de Julho, quase esquina com a Barão do Rio Branco, mata a vontade de doce de muita gente há 19 anos. Seu João Brufato, de 63 anos, prepara todos os dias uma massa caseira e seis opções de recheios. Os tradicionais doce de leite e chocolate, mas também de beijinho de coco, beijinho de amendoim, banana e goiabada.
Tirando o de doce de leite e o de goiabada, que são comprados prontos, todos os outros são feitos por ele. Antes de vender churros, era maquinista, vivia da ferrovia. Quando perdeu o emprego, a outra atividade nasceu de em encontro na rua.
"Eu vi um um rapaz vendendo churros, perguntei como funcionava, ele explicou. Então decidi pegar o dinheiro que tinha e comprar meu primeiro carrinho de churros", lembra. Foi quando começou a fazer, inventar e reinventar o doce, sem o tal raio gourmetizador que tanto chef anda usando ultimamente por aí.
As primeiras receitas não deram muito certo. “No começo, muita massa foi para o lixo, até eu conseguir acertar. Mas depois fui melhorando”, conta. Ele está a espera da aposentadoria, mas não pretende abandonar o carrinho tão cedo. “Eu gosto, ruim é ficar em casa sem ter o que fazer”, afirma.
No inicio, a esposa Jacira Alves acompanhava e ajudava ele nas vendas. De seis meses para cá, ela descansa e se dedica à casa, e Jean Pimentel, de 18 anos, filho de um amigo da família, é quem trabalha com seu João. Por coincidência, ou destino, continuou completando a dupla do “JJ” que dá nome ao carrinho.
De uniforme branco, máscara e uma touca de culinária, os dois atendem todos que chegam com muitos sorrisos e simpatia. No começo do ano seu João foi à praia com a esposa, ficou 15 dias fora, quando voltou percebeu a falta que um carrinho de churros faz. “Pensa que eu fiquei uns dias fora e quando eu voltei veio um monte de gente reclamar, que queria churros”, conta, e ri da situação.
Andando mais um pouco na mesma rua, só que agora na esquina com a Dom Aquino, encontro Irene Gomes, de 47 anos, ela garante que foi um dos cunhados que trouxe o primeiro carrinho de churros para Campo Grande. A história dela se funde com a da irmã, Elza, de 58 anos, que vende churros na rua 13 de Maio, com a Barão do Rio Branco.
“Ná época, há uns 25 anos atrás, ele viu em São Paulo que estava dando dinheiro e vendeu um fusquinha que ele tinha para comprar um carrinho de churros”, conta Irene sobre o que ela diz ser o início da venda do doce mexicano por aqui.
Com o carrinho, ele levou as cunhadas e a esposa para trabalhar nas festas de rodeio do interior. Quando acabava a temporada, voltavam para Campo Grande. O carrinho ficava na Spipe Calarge, hoje ele administra um salão de festas da Capital, e as cunhadas assumiram a venda de churros como profissão.
Ainda no Centro, mais um sobrinho completa o time da família que trabalha com os churros. A massa é caseira, feita todos os dias. A receita é antiga, repassada quase que como segredo de família. Elza afirma que o segredo está em não economizar, usar os melhores ingredientes e o máximo de higiene.
“A melhor farinha, a melhor manteiga e muito cuidado sempre. Todo dia colocar produto novo, não deixar nada de um dia para o outro”, ensina.
No carrinho dela, uma foto da Turma do Chaves, seriado mexicano que faz muito sucesso no Brasil, foi presente de um cliente amigo.
“Ele sempre comprava churros de mim, filho de um fazendeiro do Pantanal, um dia ele perguntou – Tia, você não quer uma imagem do chaves para colocar no seu carrinho? Eu disse que queria. E não é que um mês depois ele chegou com o adesivo!”, lembra.
Maria Leite Costa, de 48 anos, que começou a fazer churros em 1996, na esquina da Rua Marechal Rondon com a 14 de Julho, reforça a receita da perfeição. “Para o churros ficar bom, tem que fazer com capricho, amor, higiene e material de qualidade”.
Ela comprou o carrinho com e ex-marido depois de deixar um emprego no frigorifico. O casamento acabou, mas o negócio nunca mudou de lugar.
Escolheu vender só os sabores tradicionais, sempre com um chapéu, que além de proteger do sol, acaba fazendo parte do charme e do marketing de vendas.
Uma volta pelo Centro e já dá para perceber que opção de churros não faltam, nem nas feiras de bairros. O gourmet pode até ser bom, mas um gostinho caseiro a R$ 2,00 é muito melhor.