Com história no cardápio e na memória do campo-grandense, bar chega aos 60 anos
Do sorvete à feijoada. Do ponto no Mercadão à Belizário Lima, passando pela Cândido Mariano. Do avô hoje já chegando à neta. A história de Campo Grande passou pelo balcão do Vitorino's Bar ou seria ao contrário? De lá, seu Vitorino Fonseca viu entre os clientes a cidade crescer e o reconhecimento vir, acompanhado dos pedidos e da fidelidade da clientela.
Em agosto o bar comemora 60 anos. Seis décadas de vida em seu terceiro endereço, na esquina das ruas Jornalista Belizário Lima e 24 de Outubro, próximo à praça onde seu Vitorino também dá nome.
Tradicional pela feijoada, o bar começou em 1955 com sorveteria e café. Os salgados, em especial o bacalhau e os demais peixes fritos, foram incrementos que saíram da mão do português. Vitorino veio de Portugal com a esposa e dois filhos em busca de uma vida melhor.
E aqui mudou da água para o vinho. Da agricultura para o ramo de alimentação e bebidas. Morreu em 1996, mas chegou a ver a tradição se formar e mais que isso: ser reconhecida. "Creio que ele sabia sim do sucesso e da tradição, ele recebeu o título de cidadão campo-grandense", argumenta o filho.
Apaixonado por futebol, seu Vitorino pai era comercialino roxo e por praticamente um ano deu todas as refeições grátis aos jogadores do Esporte Clube Comercial.
Quem abre o cardápio do bar se depara com a história do lado esquerdo. Um breve texto resume os endereços, a criação, dá nome e data aos fatos que a nós é narrado por Vitorino filho, de nome Vitorino Martos Caetano Fonseca. Hoje com 64 anos, o primogênito da casa. Mas que deixa de citar a presença ilustre de Pelé. O filho conta que o rei do futebol esteve sim no restaurante, à época em que funcionou como Cantina na Cândido Mariano. Mais uma prova de que o tratamento lá sempre foi igual, para qualquer um.
"Inicialmente foi a Casa Fonseca, em frente à antiga feira livre onde hoje é o Mercadão. Ficamos de 55 até 58, 59. Depois construímos aqui", descreve Vitorino. "Meu pai incrementou peixe frito e sardinha na hora, coisa de português que ele gostava, se dedicava e sabia fazer", afirma o filho.
Nos anos 60 eles se mudaram para a região onde o bar está hoje, juntamente com a residência da família. No final da década eles voltaram para o Centro, reabrindo como "Cantina do Vitorino", na Rua Cândido Mariano. "Permanecemos 29 anos e depois retornamos. Lá foi um local especial, onde ele fez dos clientes, grandes amigos", observa Vitorino.
A valorização da culinária portuguesa em conjunto com o bom humor do português talvez seja a receita de Vitorino para o bar sobreviver há seis décadas. Neste tempo todo, houve apenas uma interrupção que durou menos de 1 ano.
Em 98 eles voltaram ao mesmo endereço. Já sob a responsabilidade do filho. "A gente atende e vê tudo o que se possa imaginar. É um estabelecimento sempre frequentado tanto por pessoas de poder aquisitivo elevado e também gente simples. Atendendo do pobre ao mais abastado e igual, esse é o nosso diferencial", frisa Vitorino.
Formado em Administração de Empresas, ele foi o único filho que tomou para si a vontade de continuar a tradição. Um tanto quanto longe do fogão. "Está nas mãos dos funcionários, mas a gente sabe que está bem feito. Para mim, chegar aos 60 anos é uma satisfação enorme. Eu abracei isso aqui para dar continuidade a essa coisa tradicional.
Meu pai chegou aqui com a esposa e os filhos para criá-los e hoje eu já estou passando para a minha filha. É assim a vida".
A fachada, quase apagada tanto na foto quanto ao vivo, em breve será mudada. Uma nova placa em vermelho bordô vai anunciar o estabelecimento, sempre com a data de fundação, desde 1955. Não é nada relacionado ao aniversário, foi só mesmo porque o que existe hoje já foi gasto pelo tempo.
Sobre apagar as velinhas, Vitorino diz que não tem nada programado não. Atende normal como sempre. Como se ainda fosse um bar menino.