Gastronomia de estudante: eles se viram, mas a receita quase nunca é saudável
Desde que se mudou para Campo Grande, há 5 anos, Tatiane dos Santos Cardozo, de 22, “adotou” o macarrão como prato predileto. Não que a massa supere o sabor ou requinte de qualquer outra receita, mas é mais fácil de preparar e, na opinião dela, facilita a vida de qualquer estudante universitário.
No apartamento da acadêmica de Publicidade, o “vilão” da maioria das dietas aparece pelo menos quatro vezes por semana e em pelo menos três versões: com calabresa, frango e a mais conhecida, que leva carne moída.
Tati, como costuma ser chamada, divide o apartamento com um colega que conheceu na universidade. Como a casa vive cheia de amigos, a dupla, quando se dispõe a ir para a cozinha, apela para a praticidade. “A gente sempre faz o mais fácil e o que rende mais. Nem sempre é o mais saudável”, reconhece.
Só quando a disposição dá as caras é que o fogão, na casa dela, tem o prazer de cozinhar algo mais elaborado. Ainda assim, a escolha do cardápio passa longe de se encaixar no conceito de alimentação balanceada. “O prato mais sofisticado que eu sei fazer é a torta de carne moída e a lasanha que aprendi com a minha mãe”, conta.
Salada? Nem no sonho. Na rotina da estudante, o máximo que pode acontecer, se tratando de adotar hábitos mais saudáveis, é pedir um marmitex no restaurante mais próximo, o que não significa um grande avanço quando a alimentação desregrada, regada a lanches durante os intervalos, é levada em consideração. “Minha mãe, quando vem aqui, fala que a gente só come porcaria”, revelou.
Acadêmica do 7º semestre de psicologia, Daysiele Santos Antunes, de 21 anos, já chegou a fazer parte da galera que não larga o macarrão instantâneo. Hoje, cuida mais da alimentação, mas ainda assim consome “besteiras” e come fora de hora.
“Eu pago almoço e janta de segunda a sexta. Sábado só almoço e domingo só café da manhã. Daí eu saio para comer ou compro comida de microondas”, afirmou.
Deysi, como é conhecida, mora em um pensionato feminino no bairro Monte Castelo, em Campo Grande. Entre outros cômodos, divide a cozinha com cerca de outros 6 estudantes, fora os hóspedes “comuns”, mas raramente ocupa o cômodo para colocar alguma receita em prática.
Do tempo em que está na “casa”, desde 2010, a jovem ocupou o espaço umas cincos vezes. O máximo que faz é lavar as louças sujas que vão acumulando no quarto.
A vantagem é que a garota ainda consegue fugir do sedentarismo. Na universidade, integra um grupo de vôlei. “Se não fosse atleta, estaria em outro nível, bem gordinha”, avaliou.
Riscos – Apesar do tom de brincadeira com que o assunto costuma ser tratado entre a maioria dos jovens, a situação é vista de outra forma pelos especialistas que vivem discorrendo sobre os riscos de uma alimentação desregrada.
De acordo com a nutricionista Emanuelle Salustiano, o abuso no consumo de alimentos com baixo poder nutritivo pode desencadear, a médio e longo prazo, doenças clássicas como o colesterol e diabetes até as mais complexas, como a síndrome dos ovários policísticos, que pode acometer mulheres que exageram no carboidrato.
Em curto prazo, esse tipo de alimentação acaba interferindo na rotina, gerando dores de cabeça, fadigas e a conhecida e indesejável gordura localizada, que pode resultar na obesidade.
A dica da nutricionista é adotar uma dieta equilibrada, com frutas e vegetais, as principais fontes de vitaminas, minerais e antioxidantes. O estudante não precisa deixar de consumir carboidrato, ressalta, mas é preciso fazer escolhas saudáveis.
“Se você pega um trigo integral, o grão a aveia ou arroz integral, você tem o mesmo carboidrato, mas com fibras e riquíssimo em nutrientes”, disse, ao explicar que o organismo vai lidar de uma forma diferente. “Vai estar te nutrindo. No outro caso está só te dando energia, a caloria. O vilão são os alimentos que não carregam nutrientes”, completou.