Restaurante só para 8 pessoas aposta em livro e poesia para alegrar marmita
São duas mesinhas de madeira e um total de oito cadeiras, nas quais revezam os clientes na hora do almoço. Aberto há pouco mais de um mês, no bairro Jardim Paulista, em Campo Grande, o pequeno restaurante não tem decoração sofisticada, mas consegue imprimir na simplicidade de uma A4 colorida o desejo da dona: de transmitir o gosto que tem pela leitura por aí.
"O pessoal às vezes está estressado, cansado, acho que uma poesia pode melhorar a vida e eu gosto de ler", acredita a micro-empresária Keila Regina de Miranda, de 49 anos. Ela que sempre foi da parte administrativa das empresas agora investiu na cozinha e junto das panelas, consegue pesquisar frases para deixá-las a mão de quem visitar o restaurante ou então imprimi-las e enviar junto da comida.
No pequeno restaurante, chamado Pitada Gourmet, a demanda maior mesmo é pela entrega. O marmitex varia entre R$ 10 e R$ 12,00, dependendo da quantidade e o cardápio é variado.
Nessa quarta-feira, por exemplo, era frango xadrez, bife acebolado e batata rústica, além da salada. Em laranja, o cartãozinho grudado na embalagem trazia Cora Coralina.
"Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri no caminho incerto da vida que o mais importante é o decidir."
O efeito, para quem recebe, segundo a dona, pode ser variado. Entre gratidão e surpresa, até quem joga fora sem nem perceber. "Alguns nem olham, outros elogiam e até agradecem" e é no WhatsApp que Keila vai procurar o recado de uma das clientes: "Me identifiquei muito com essa frase".
O conteúdo, atribuído a Pablo Picasso, trazia o seguinte trecho: "O que já fiz não me interessa. Só penso no que ainda não fiz".
Keila argumenta também que por estar em frente à uma escola, pensou que a leitura pudesse se tornar atrativo. "É um diferencial e posso estimular as pessoas a lerem. O que eu gasto com isso? É simples, só a impressão", diz.
Se a escolha for por comer ali, o prato feito vem à mesa e logo ao lado, duas poltronas brancas convidam quem quiser folhear algumas das obras.
Tem Manoel de Barros, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Paulo Leminski, Carlos Drummond de Andrade e a série "Eu me chamo Antônio".
O restaurante abre de segunda a sexta, das 10h às 18h. O almoço vai até 14h e quando a tarde chega é a vez de entrarem em cena os pães caseiros e o bolo de pote. O restaurante fica na Rua Herbert Moses, 15.
*Esta reportagem foi sugerida pelo jornalista André Maganha, que inclusive anda com uma poesia da marmita de Keila na carteira. Sugira pautas você também e curta a gente no Facebook: Lado B.