Suco de amendoim, Picomã...sabores da Bolívia que voltam à praça
Logo ao chegar, você já ouve um ritmo diferente do tradicional brasileiro. Uma música que usa flautas e representa cultura ainda pouco valorizada aqui. É a primeira impressão que o ambiente criado na Praça da Bolívia todos os segundos domingos do mês, passa aos visitantes de primeira viagem. O ponto de cultura, que fica na rua das Garças, bairro Santa Fé, próximo à Via Parque, é o cenário de valorização dos vizinhos bolivianos.
Artesanato, comidas e bebidas típicas, músicas e danças tradicionais são componentes que envolvem quem chega. O espaço criado em 2005 é mantido pela força de vontade de quem quer continuar manifestando sua cultura.
Tudo começou em uma iniciativa do grupo T’ikay, que queria fazer eventos mostrando vários aspectos da cultura boliviana e andina aos brasileiros.
Para a organizadora, Ingra Padilha, o lugar levar algo a mais sobre a Bolívia. “A Bolívia não é só a fronteira. A gente tenta trazer aqui um pouco mais da cultura boliviana ao público daqui”, afirma, acrescentando que o local também é palco de apresentações de danças paraguaias, gaúchas e outras culturas. “Recebemos até o grupo japonês de Taiko aqui”, revela.
Na concorrida fila da barraca da comida, onde o prato predileto é a saltenha, Margarete Souza Campos guardava o lugar para uma amiga. Ela mora na saída de São Paulo e, apesar da distância, sempre vai à feira.
Margarete conta que começou a ir ao evento por convite de amigos, e hoje é ela quem convida as pessoas para irem à feira. “É interessante porque é um evento cultural, que tem música, dança, é uma atividade diferente”, comentou.
Já o casal Fernando Martins e Lívia Carvalho, que mora próximo da praça e foram juntos com o filho e a namorada dele, contam que vão ao evento sempre que possível, para prestigiar a cultura boliviana.
“Eles fazem na força de vontade e mesmo assim não deixam de apresentar danças, músicas, e trazer aqui os artesanatos”, opinam, lembrando também das comidas preferidas na feira. A de Lívia é a saltenha, enquanto a de Fernando é o Picomã, segundo ele, por causa do tempero apimentado.
Outra pessoa que sai de um bairro distante da praça, o Monte Castelo, e foi conferir o evento, é Katiane Laurentino, que só ficou sabendo da feita em uma notícia lida no Campo Grade News. “Vim por curiosidade. Não sabia o que ia encontrar aqui. Achei legal”, destacou.
Em uma das barracas, o que estava a venda eram sucos. Os sabores? Nada de laranja, limão e caju, e sim amendoim, linhaça e pêssego, que diferente do normalmente visto no Brasil, é acompanhado de um pêssego em calda parecida com um melado, além de canela fervida.
“Tento habituar as pessoas ao suco natural, típico da Bolívia. Eles fazem bem. O de linhaça mesmo, é bom para o intestino e tem ômega 3”, explica a dona da barraca, Luisa Flores, que nasceu na cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra.
Os sabores vão além do excêntrico, pelo menos do ponto de vista do brasileiro. Luisa ofereceu alguns deles para a equipe do Lado B, que experimentou e aprovou. No caso do suco de amendoim, o sabor doce prevalece, enquanto no suco de pêssego, o doce se mistura a um sabor semelhante ao de chá.
Mas nem tudo é festa. A falta de estrutura da Praça da Bolívia, em comparação com outras praças que recebem feiras, ainda é deficitária, e gera descontentamento de alguns participantes do evento, que completa oito anos neste 2013.
Ingra, organizadora da feira, diz que fez o pedido de instalação de um ponto de energia elétrica no local. Outro pedido que ainda não atendido foi para que houvesse fornecimento de água na praça.
“Falta muita estrutura e incentivo ainda. Temos lixeira aqui porque a Famasul nos ofereceu. Mas não temos banheiro, água, luz, nada disso”, reclama Ingra.
A feirante Luisa também reclama da situação. “Precisamos de colaboração do Estado e da Prefeitura para termos o que outras praças têm. A única torneia que tem aqui está quebrada, então não temos água”.
Além disso, os visitantes da feira concordam com as reclamações. “Falta divulgação, incentivo”, opina Margarete, enquanto Fernando e Lívia acreditam que é preciso que seja oferecida mais assistência do poder público à feira. “Falta banheiros, por exemplo”.