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Lado Rural

Biocarvão de eucalipto melhora a qualidade do solo em região tropical

Estudo envolveu pesquisadores da Embrapa, IAC e da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Por José Roberto dos Santos, com informações da Embrapa | 02/09/2024 15:22
Aplicação do biocarvão de eucalipto em área experimental. (Foto: Divulgação/Embrapa)
Aplicação do biocarvão de eucalipto em área experimental. (Foto: Divulgação/Embrapa)

Em um estudo recente conduzido no Centro Experimental Central, do IAC (Instituto Agronômico), em Campinas (SP), envolvendo também a participação de pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente e da UEMS (Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul) investigaram os efeitos do biocarvão (biochar) de eucalipto sobre solos argilosos em ambiente tropical.

O estudo, que se estendeu por 28 meses, trouxe novas evidências sobre a sua eficácia na melhoria das condições de solos altamente intemperizados, caracterizados pela presença significativa de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio, o que acaba reduzindo a fertilidade e aumentando a acidez.

De acordo com Isabella Lucon, professora da Faculdade de Agronegócios de Holambra (Faagroh), em nota técnica emitida pela Embrapa, o solo do estudo, típico de regiões tropicais, é naturalmente uma questão para a agricultura devido à sua baixa fertilidade e alta acidez. “No entanto, a aplicação de biochar se mostrou promissora na melhoria de propriedades físicas e químicas do solo”, observa.

É preciso observar que os solos típicos da região dos Cerrados, muito arenosos, são caracterizados pela alta taxa de acidez, devido à presença de alumínio, necessitando de correção.

O biochar, produzido a partir de resíduos de eucalipto por meio de pirólise, isto é, da degradação da madeira por meio do calor, sem combustão, foi incorporado ao solo e seus efeitos monitorados ao longo de dois ciclos de cultivo de milho, nas safras de 2016/2017 e 2017/2018.

Ruan Carnier, da Embrapa Meio Ambiente, explica que os resultados do estudo indicaram melhorias significativas na fertilidade do solo. “A aplicação do biochar aumentou a disponibilidade de nutrientes essenciais, como fósforo, cálcio e potássio, na camada de solo de 5 cm a 10 cm de profundidade. Esses elementos são fundamentais para o crescimento saudável das plantas, e seu aumento pode contribuir para aumentar a produtividade agrícola em solos anteriormente deficientes”, destaca.

Além das melhorias químicas, o biochar também influenciou positivamente as propriedades físicas do solo. Essas mudanças são benéficas para a estrutura do solo, facilitando a descoberta das raízes e o transporte de água e ar, que são elementos essenciais para a saúde das plantas.

Mais retenção de água no solo

Outro aspecto positivo observado foi o aumento da capacidade do solo em reter água. Para cada tonelada de biocarvão aplicada, houve um incremento de 500 litros de água disponível por hectare. Essa retenção hídrica pode ser crucial em períodos de estiagem, especialmente para culturas com menor demanda hídrica, como algumas culturas de inverno.

Apesar dos benefícios, o estudo também revelou limitações importantes na aplicação do biochar em solos argilosos de regiões tropicais. Embora tenha conseguido melhorias na porosidade e na retenção de água, a resistência do solo à penetração – um indicador da facilidade com que as raízes podem crescer – não foi significativamente afetada.

Outro ponto crítico levantado pelos pesquisadores é a questão do custo-benefício. Para que os efeitos do biochar sejam mais expressivos em solos argilosos, pode ser necessário aplicar doses maiores do material, o que pode elevar os custos. Além disso, o estudo não detectou mudanças significativas nos níveis de micronutrientes ou no carbono orgânico do solo, o que poderia limitar os benefícios a longo prazo e impactar o retorno sobre o investimento para os agricultores.

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