Trabalho, rua ou escola: mapa prova que mulher é assediada em qualquer lugar
Histórias vão desde professores, colegas de trabalho até desconhecidos que foram muito além do "fiu fiu".
"É perigoso ser mulher
Não importa onde você esteja,
Não importa a sua classe social".
A frase da escritora Patrícia Melo no livro "Mulheres empilhadas" resume o risco de ser mulher, não importa onde ela esteja: escola, trabalho, rua e até dentro da própria casa. No mapa do assédio do Campo Grande News, pedimos que leitoras relatassem onde e em qual circunstância foram assediadas. As histórias vão desde professores, colegas de trabalho até desconhecidos que foram muito além do "fiu fiu".
Sêmen
Sem se identificar, uma das personagens, que mora no Bairro São Conrado, na Capital, conta que estava andando na rua, a caminho de casa, quando um homem passou dizendo obscenidades. "Me olhou e disse que queria me chupar. Eu continuei andando, ele me seguiu até a porta da minha casa. Não sei como ele sabia, mas ele sabia que eu morava sozinha, porque se fosse outro, no momento em que entrei, ficaria com medo de sair alguém", acredita.
No relato, a vítima ainda diz que estava com uma saia um pouco curta, a descrição que faz de si mesma mostra o quanto as mulheres ainda se culpabilizam, como se roupa justificasse abuso.
Passado 15 minutos desde que ela entrou em casa, a campainha tocou e quando ela abriu a porta, foi terrivelmente surpreendida. "Ele tacou um líquido transparente branco, provavelmente sêmen e assim eu corri para dentro. E até me mudei de casa".
Professor
Hoje com 26 anos, a jovem volta ao passado para contar do assédio que ela e as demais colegas sofriam de um professor de Língua Portuguesa à época do Ensino Médio. "Havia um professor de língua portuguesa que pedia às alunas para apagarem o quadro. Ele sentava nas cadeiras de trás pra ficar olhando as bundas", recorda.
Em outro episódio, ele ficou na porta e não saía para a aluna passar. "Ele estava na porta e quando pedi licença ele não saiu. O que aconteceu? Entrei com ele na porta tentando não encostar. A verdade é que eu não deveria ter entrado e ter ido direto pra direção denunciar. Mas na época não enxergava como assédio", diz.
Chefe
Funcionária do Parque dos Poderes, de 27 anos, uma mulher guarda até hoje o assédio sofrido pelo então chefe 11 anos atrás. "Ele me chamou em sua sala e falou diretamente para eu largar meu relacionamento da época para ficar com ele, que ele me daria uma vida muito melhor que a vida de estagiária que eu tinha. Disse que costumava me olhar. O assédio dele foi sem nenhum receio. Na época ele também era casado e tínhamos 40 anos de diferença", lembra.
Rua
Aos 32 anos, a história desta leitora é um dos assédios mais sofridos pelas mulheres que não têm sequer o direito de simplesmente ir e vir sem serem importunadas. No relato, ela descreve que ir ao mercado se tornou um tormento ao passar pelos caminhões na área de descarga de um mercado na região da Praça do Papa.
"Já aconteceram várias vezes, tanto é que evito ao máximo de ir lá, mas teve uma que foi o cúmulo, o cara estava em uma Saveiro carregada com laranja, e eu indo ao mercado. Ele ficou mandando beijos, falando palavras obscenas e me acompanhando devagar. Eu perdi até o jeito de andar, não sabia o que fazer, se voltava ou continuava, segui até o mercado, ele estacionou do lado, fiz o que tinha de fazer e esperei ele sair para então voltar", recorda.
Separamos parte dos relatos, os outros 12 estão no mapa interativo. A pergunta que a mulher do último depoimento se faz é "como agir nessas situações?".
Nas palavras dela: "Não tem muito o que fazer, pois corremos risco de sermos até mortas se batemos de frente, uma simples ida ao supermercado se torna uma tortura quando se nasce mulher!!".