Desmatamento é lento, mas falta de tecnologia prejudica solo pantaneiro
Não há nada no mundo que se compare a experiência de viver em uma área que passa meses alagada e outros de seca, todos os anos. É por isso, que o Pantanal é o bioma considerado o “reino das águas”. Na época de cheia, 80% da área fica alagada, por isso o bioma é a maior área úmida continental do planeta e precisa de cuidados específicos de quem mora ou tem fazenda no local.
Na época de cheia, em que as chuvas são constantes no Pantanal, são despejados nos rios 180 milhões de litros de água, por dia. Isso equivale a 72 piscinas olímpicas, segundo estudo feio pela WWF. O desmatamento continua a cada ano e a Bacia Do Alto Paraguai tem mostrado os sinais da ação do homem na natureza.
Dados do estudo lançado hoje (12), Dia do Pantanal, mostram que o desmatamento tem sido mais lento nos últimos anos, mas o uso inadequado do solo ainda tem consequências negativas. A 4ª edição do Monitoramento das Alterações da Cobertura Vegetal e Uso do Solo na Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai traz dados atualizados que podem ajudar novas ações para a conservação do bioma.
Segundo um dos pesquisadores, o diretor executivo da SOS Pantanal, Felipe Dias, os produtores rurais ainda não usam as terras de modo a preservá-las, principalmente no que se refere a pecuária. “Avaliamos se estão ou não tendo pressão na mata nativa e o que percebemos é que houve uma redução na velocidade com que as áreas são desmatadas. Na Planície o ritmo é igual, mas no Planalto é mais lento”, comenta.
O ritmo de desmatamento só é mais lento, porque o Planalto já tem mais área ocupada e além disso, pela legislação, cada propriedade tem que ter 20% de área preservada, mas nem todos os proprietários fazem essa preservação de forma adequada, conforme o pesquisador.
No Planalto, região ocupada pelo Cerrado, 60% da área total é ocupada por fazendas e moradias urbanas. Na Planície, essa parcela corresponde a 15%. “São importantes técnicas adequadas de manejo de pastagem, como por exemplo o plantio direto, a curva de nível. Alguns produtores aceitam a tecnologia, mas os agricultores têm uma receptividade maior do que os pecuaristas”, detalha Felipe.
O socorro para as áreas degradadas deve vir das políticas públicas, mas também da conscientização de quem vive ou tem fazendas no Pantanal, segundo o coordenador do Programa Cerrado Pantanal da WWF, Júlio César Sampaio. “Há várias ações para que ocorra o desenvolvimento das cadeias produtivas junto a conservação ambiental, mas ainda falta as pessoas entenderem que cada uma delas é responsável pelos impactos ao bioma”.
Júlio pondera que a pecuária é uma atividade que existe naquele local há mais de 200 anos e tem se mostrado uma atividade viável, com 85% do Pantanal ainda preservado. “Por outro lado, o bioma é dependente do Cerrado, que fica na parte alta da bacia. No Mato Grosso, apenas 39% é de mata nativa. O que acontece na parte de lá da bacia, impacta a Planice. No Mato Grosso, eles não dão tanta atenção as boas praticas de produção, que são voltadas para preservação”.
Alterações na cheia prejudicam todo o bioma, de acordo com o pesquisador. “O período de seca, tem sido intenso e o de cheia também. Na cheia intensa, a água desce com muita força e grande volume e não infiltra no solo como deveria, porque passa muito rápido. Isso tem impactos negativos nos rios”, comenta Júlio. O monitoramento da bacia e uso do solo no Pantanal tem a participação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).