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Meio Ambiente

Primavera "pega fogo" nas ruas, com recorde de 44°C em dia insuportável

Com a pandemia, calorão piorou, porque fechar as janelas e curtir o ar condicionado não é recomendado

Lucia Morel e Liniker Ribeiro | 30/09/2020 16:44
Sol itenso e baixa umidade têm sido comuns e podem causar males à saúde. (Foto: Henrique Kawaminami)
Sol itenso e baixa umidade têm sido comuns e podem causar males à saúde. (Foto: Henrique Kawaminami)

Com temperaturas que já bateram, hoje, os 44°C segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), Mato Grosso do Sul está longe de ver algum sinal de chuva. Pela previsão, não haverá refresco, pelo menos, até 12 de outubro.

O alerta de onda de calor prossegue até 2 de outubro, para o desespero de quem tem de sair de casa.

Para o motoentregador Wagner Clemente Braga, 45 anos, o trabalho fica mais intensou justamente no período de “sol a pino” – das 10h às 14 horas. Para amenizar, entre idas e vindas às casas do clientes, são pelo menos 4 litros de água ao dia.

“Nesse tempo maravilhoso”, ironiza, “é muito complicado, porque o sol quente, o calor, acabam com a pessoa”, resume. Na "armadura" de dias como no deserto, ele roda com  blusas de manga comprida, já que não gosta da sensação do filtro solar na pele. A viseira do capacete é escura, para fugir do sol que arde nos olhos.

O calor é recorde e supera as máximas de ontem, que eram até então, as maiores desde 1996. E novamente, quem sofreu foi a população de Coxim, onde ontem a temperatura chegou a 42,6°C, com sensação térmica de 51°C. Hoje, os 44,1°C ocorreram às 13 horas.

Em Campo Grande, a máxima ontem foi de 38,8°C, com sensação de 47ºC. Já hoje, chegou a 40,8°C às 15 horas. Corumbá, onde o Pantanal pega fogo, a máxima foi às13 horas, com temperatura de 42,7°C.

Wagner bebe pelo menos 4 litros de água por dia para suportar as altas temperaturas. (Foto: Kísie Anoiã)
Wagner bebe pelo menos 4 litros de água por dia para suportar as altas temperaturas. (Foto: Kísie Anoiã)

Inferno na pandemia - Se viver em Campo Grande nunca foi tarefa fácil para os sensíveis ao calor, com a pandemia tudo piorou. A rotina de fechar as janelas e curtir o geladinho do ar condicionado já não faz parte do "novo normal".

Motorista de aplicativo Diego de Morais, 31 anos, diz que devido a orientação da empresa para a qual atua, precisa trafegar com as janelas do carro abertas e sem ar condicionado. “O calor está demais e como ando com todas as janelas bem abertas, quase nem sinto a diferença em relação ao ar condicionado, que não estava dando conta mesmo”, sinalizou.

Em carro de dentista, registro de 44°C foi parar nas redes sociais. (Foto: Reprodução)
Em carro de dentista, registro de 44°C foi parar nas redes sociais. (Foto: Reprodução)

Carlos Eduardo Lameira, 29 anos, é dentista e postou nas redes sociais, o “absurdo” de 44°C registrados no termômetro de seu carro. A temperatura é medida em relação ao solo, por isso não pode ser considerada como real na atmosfera, mas ainda assim, é muito alta.

“O ar condicionado não tem dado conta e como eu carrego materiais que tem cera, ou seja, derretem, eu tenho que ficar tirando e colocando toda vez que saio do carro. O calor tem sido grande e o ar não gela”, afirmou, enfatizando ainda que diante das medidas de biossegurança necessárias para atender seus pacientes, “tem suado bastante”, devidos os aparatos que precisam ser usados, como capa e protetor facial.

E essa situação pode prejudicar a saúde. Médico clínico e nefrologista, Marcelo Santana, enumera dois efeitos negativos das altas temperaturas no corpo humano: desidratação e queda de pressão arterial. O pior deles, no entanto, é o primeiro, que pode levar, principalmente idosos, a precisar de assistência médica.

“Nosso organismo tem mecanismos de controle de temperatura interna. Um deles é a respiração, outro a urina e então o suor. Quanto maior a temperatura, nosso organismo produz mais suor, e com ele, perdemos não apenas água, mas sais necessários para o bom funcionamento do organismo”, destaca.

Entre os sais minerais perdidos estão potássio, sódio, cálcio e magnésio, que precisam ser repostos para que não haja a desidratação. “Nosso corpo tem estoque deles, mas não podemos depender só disso. Por isso temos que beber muito líquido, ao longo do dia, várias porções, pelo menos a cada duas horas”, disse.

O especialista diz que sentir sede já é indício do corpo reclamando de que precisa ser hidratado.

Mais danos – Além da desidratação, as altas temperaturas provocam a dilatação dos vasos sanguíneos, o que faz cair a pressão arterial. “Com a temperatura extrema, os vasos ficam dilatados e a pressão cai, o que pode causar mal estar”.

“Nosso metabolismo entra em situação crítica, com necessidade maior de compensar, de manter a temperatura certa e então o corpo entra literalmente em colapso”, sustenta.

Nos idosos, ele afirma que as altas temperaturas, causando desidratação e queda de pressão, são responsáveis por ocorrências de confusão mental, porque desidratam mais rápido que pessoas mais jovens. “É comum esse tipo de atendimento nos pronto socorros”.

Para além de beber muita água e sucos naturais, Santana afirma que é ideal comer alimentos leves, com baixo teor de gorduras e que precisem de digestão mais lenta. Isso porque se “comemos alimentos pesados, há sobrecarga de gasto de energia, e nosso corpo trabalha tanto para manter a temperatura quanto para fazer a digestão”.

Vendedor de água de coco aproveita para lucrar com o calorão. (Foto: Kísie Anoiã)
Vendedor de água de coco aproveita para lucrar com o calorão. (Foto: Kísie Anoiã)

Água de coco, por exemplo, é uma opção de reposição de água e sais minerais. Antônio de Almeida, 50 anos, há 20 vende o produto na Praça Belmar Fidalgo e agora está lucrando com o calorão.

“Há pouco tempo as vendas tinham caído, porque o parque estava fechado e movimento diminuiu. Desde que reabriu e com calor, as vendas melhoraram”, dizendo que vendia cerca de 70 unidades ao dia e atualmente vende o dobro.

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