Se motorista respeitar velocidade, capivara não é atropelada, diz Agetran
Maior roedor do mundo, capivara encontra comida farta e água fresca na área urbana, mas é vítima do trânsito
Grama, mata e água fresca: a tríade garante uma vida confortável para as capivaras, já incorporadas ao cenário urbano de Campo Grande. Mas o perigo vem no crepúsculo. Quando o sol se põe, elas rumam para os gramados na busca por alimentos. Em geral, é aí que cruzam com a alta velocidade dos veículos e morrem atropeladas. Contra esse destino, os animais só podem contar com a consciência dos condutores.
“A primeira coisa é obedecer a velocidade da via. Em Campo Grande, não tem uma via com velocidade permitida acima de 50 km/h. Respeitar o limite de velocidade é obrigação de todo condutor. Dá tempo de visualizar, reduzir a velocidade e ligar o pisca-alerta para sinalizar. A capivara não é um ser humano, que sabe o local da travessia”, afirma o gerente de Fiscalização de Trânsito da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Carlos Guarini.
De acordo com ele, os motoristas ainda devem se atentar às placas de sinalização que indicam ponto de travessia de animais, instaladas em locais como Parque dos Poderes, Sóter e imediações do Rádio Clube Campo. Guarini alerta que o condutor também corre risco. Ao tentar desviar rapidamente, o veículo pode se chocar com outro carro ou poste.
Na noite de ontem (dia 17), foram quatros capivaras mortas num único atropelamento na Avenida Arquiteto Rubens Gil de Camillo, perto do Shopping Campo Grande. “As pessoas tinham que ser mais conscientes. Atropela um animal desse, atropela uma pessoa, pode atropelar qualquer um. Imprudência não tem desculpa”, afirma o pedreiro Roberto Ventrilo, que trabalha na reforma de um prédio a poucos metros do trecho onde as capivaras morreram.
Ontem (dia 17), mais uma vítima, desta vez na Avenida Eduardo Elias Zahran, próximo à rotatória com a rua Joaquim Murtinho. A capivara estava morta na calçada.
Rota do perigo - O projeto Quapivara, que faz o monitoramento dos animais silvestres e traz no nome a junção de quati e capivara, registrou 40 atropelamentos com morte de capivaras em Campo Grande neste ano. Em 2018, a contagem foi iniciada a partir de outubro, com resultado de três atropelamentos fatais até dezembro.
Segundo a procuradora de Justiça Marigô Regina Bittar Bezerra, são quatro pontos com maiores índices de atropelamento de capivaras: Avenida Vereador Thyrson de Almeida (prolongamento da Ernesto Geisel), Rua Professor Luís Alexandre de Oliveira (Via Parque), Avenida Senador Antônio Mendes Canale e Avenida Prefeito Lúdio Martins Coelho. Todos próximos a córregos.
Realizado pelo MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), o projeto recebe informações de atropelamento de animais pelo aplicativo WhatsApp. Batizado de “quapzap”, o número é (67) 98478-2014. A partir das informações repassadas por meio do aplicativo, os dados são georreferenciados.
Caso o animal esteja ferido, porém com vida, a pessoa deve acionar a PMA (Polícia Militar Ambiental), por meio do (67) 3357-1500. Se estiver morto, a carcaça é recolhida pela CG Solurb. O contato é feito por meio do 0800 647 1005.
De janeiro a julho, a CG Solurb registrou 26 capivaras mortas. No ano passado, de abril, mês que começou a contagem individualizada das capivaras, a dezembro, foram recolhidas 20 carcaças do roedor.
Conforme a PMA, o atropelamento de capivara só se enquadra em crime ambiental se for atestado que o condutor agiu de forma intencional, jogando o veículo em direção aos animais. A pena vai de seis meses a um ano de detenção.
Vida em família – Com peso médio de 50 quilos e 60 centímetros de altura, a capivara é o maior roedor do mundo e chega a viver até 12 anos. De acordo com a bióloga Ana Carolina França Balbino da Silva, projeto da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) monitora 10 famílias de capivaras na área urbana de Camp Grande, que representam em torno de 400 roedores.
No Parque das Nações Indígenas, são seis grupos e cada família tem, em média, 40 integrantes. Com a intervenção para desassorear o lago do parque, os animais se distanciaram da obra, mas seguem nas proximidades.
No entorno da UFMS, são dois grupos, num total de 90 capivaras. Na Avenida Ernesto Geisel, é monitorada família com 30 animais. No Parque do Sóter, o grupo é composto por 20 roedores. De acordo com a pesquisadora, o monitoramento é feito por telemetria.
“É colocado um colar de GPS, que coleta a localização dos animais a cada 30 minutos. Com isso, podemos determinar as áreas que eles circulam, auxiliando nas ações de manejo e conservação. Também fazemos visualizações dos grupos, observando se estão machucados, se estão com filhotes e como estão se comportando. Para saber se estão bem na cidade”, afirma Ana Carolina.
A estimativa é de mil capivaras na área urbana, mas não há recurso para monitorar todos os grupos. Cada colar custa R$ 3 mil. O dispositivo é colocado num animal de cada família, considerando que sempre estão em grupo.
Um detalhe é que as famílias não se misturam. Territorialista, as capivaras não admitem intrusos. O grupo tem predominância de um macho, que costuma partir para a briga diante da ameaça de perder o posto. Desta forma, quando uma capivara está vagando sozinha, a possibilidade mais comum é ter sido expulsa.
Nos costumes, a capivara tende a passar o dia em locais com maior vegetação para, no começo da noite, sair em direção aos gramados, onde pasta. “Ela é crepuscular, coincidindo com o pico do trânsito, no fim da tarde. Por isso é bem comum vê-las nas ruas”, diz a bióloga, mestranda em Ecologia e Conservação.
A pesquisadora mapeia os pontos de Campo Grande com mais atropelamento de capivaras. “Também iremos determinar quais são os principais fatores que causam os atropelamentos, para que sejam tomadas medidas”, afirma Ana Carolina. O projeto "Cidades Megadiversas: como e porque animais ameaçados persistem em grandes centros urbanos" monitora capivaras, cágados e gambás.