Valendo "ouro" na pandemia, preço de recicláveis cai e dificulta vida de catador
Quilo da latinha de alumínio chegou a R$ 8,50 em 2022. Hoje, o ápice é de R$ 5,50
Rodrigo Nascimento dos Santos, 28 anos, atua de segunda-feira a domingo com coleta de materiais recicláveis, mas seu trabalho já não rende como antes. A renda semanal de R$ 200 despencou para R$ 70 diante da acentuada redução dos valores de itens, como papelão e plástico.
Os preços são regulados pelo mercado internacional e o atual cenário contrasta com abril do ano passado, quando o preço do quilo da latinha de alumínio chegou a R$ 8,50. Hoje, o ápice é de R$ 5,50.
Na engrenagem da coleta seletiva, os preços menos atrativos não impactam só Rodrigo, que migrou do antigo lixão para a coleta no bairro Dom Antônio Barbosa, mas significa mais recicláveis virando lixo.
O quilo do papelão passou de 80 centavos para 20 centavos. De acordo com ele, a melhor remuneração é pela latinha de alumínio (R$ 5,50 o quilo) e cobre (R$ 32 o quilo).
“Trabalho de segunda a domingo, todos os dias. Fico até às 22 horas procurando recicláveis para a ajudar a minha família”, diz Rodrigo.
No mesmo bairro, vizinho ao aterro sanitário, substituto do lixão, depósito de reciclagem que recebia materiais de 20 “carrinheiros”, agora tem somente quatro.
“O preço está mais baixo desde o fim de 2022. O papelão agora é 20 centavos o quilo. A latinha, que já foi R$ 7,50, caiu para R$ 5 o quilo”, diz Juliano César Macedo.
Trabalhando com compra e venda de recicláveis há seis anos, Jeferson de Souza Machado afirma que de 100 pessoas que coletavam plástico e papelão, 60 desistiram diante do preço baixo. “O grande faz o que quer, mas a gente precisa trabalhar”.
Os materiais recicláveis, como plástico, alumínio, papel, são commodities, com preços regulados pelo mercado internacional. Para Ricardo Ferreira, que há 30 anos atua no mercado de recicláveis e também é proprietário da Colecta (que faz gestão de resíduos), os preços pelos materiais estão dentro da normalidade, após uma alta surreal nos últimos dois anos, efeito da pandemia.
“Com a pandemia, ficamos 'mal-acostumados'. A produção primária caiu muito e o preço explodiu por dois anos para todos os materiais. Cheguei a vender a tonelada de papelão por R$ 2 mil, hoje, está R$ 850. Em 30 anos de mercado, nunca imaginei vender por tanto, foi surreal”.
Agrado - Por dia, cada morador de Campo Grande produz quase um quilo de lixo. O dado é da CG Solurb, concessionária responsável pela coleta domiciliar. No ano passado, em média, foram coletadas 874,53 toneladas de resíduos sólidos diariamente na Capital.
De acordo com o engenheiro sanitarista e ambiental, Anderson Secco dos Santos, a produção de quase um quilo de lixo por cada morador da cidade está dentro da média nacional.
Já o incentivo à reciclagem, essencial para reduzir o volume de material que é enterrado no aterro, passa por diversas ações, como benefício ao morador que faz separação dos recicláveis, educação ambiental e incentivos fiscais para empresas.
Um dos exemplos é o sucesso na reciclagem das latinhas de alumínio, que chega a 90% no Brasil.
“Tudo parte da educação ambiental. Se produz menos, chega menos lixo ao aterro. Então, é menos obra, menos chorume”, diz o engenheiro.
Anderson exemplifica que na Europa, a devolução de garrafas em supermercado gera um ticket que pode ser utilizado em compras futuras. A avaliação é que falta contrapartida para quem separa o lixo reciclável. “Ganhar um benefício deveria ser normal, como um desconto no IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano]”, afirma.
Conforme a CG Solurb, a UTR (Usina de Triagem de Recicláveis) recebe de 450 a 500 toneladas mensais. Os principais materiais reciclados são papelão e plástico. Ainda segundo a concessionária, a usina tem capacidade para receber mais recicláveis.
Serviço – Para ver o dia em que tem coleta seletiva no seu bairro, clique aqui. Caso o seu bairro ainda não é atendido, veja aqui o endereço do LEV (Locais de Entrega Voluntária) mais perto de sua residência.