Cassado teve ascensão meteórica e relação desastrosa com a Câmara
Chegou ao fim, às 22h36 de hoje (12 de março de 2013), a conturbada, polêmica e desastrosa relação entre Alcides Bernal (PP) e a Câmara Municipal de Campo Grande. A confusão entre os Poderes Executivo e Legislativo já teve prenúncio no fim de 2012, antes mesmo da posse do prefeito, realizada em primeiro de janeiro de 2013.
Radialista por profissão, Bernal - que já havia sido vereador na Capital e deputado estadual - venceu nas urnas, mas sempre patinou na articulação política em meio à maioria de parlamentares oriunda da chapa de oposição.
Na disputa com partidos tradicionais, como o PMDB, que comandou a Prefeitura de Campo Grande por duas décadas, e o PSDB, Bernal foi dúvida até a última hora do dia das convenções. Sem aliados, lançou chapa pura, contra outros seis adversários.
A corrida eleitoral foi marcada por polêmica, mas a sua candidatura resistiu a ataques, em forma de impressos ou vídeos, que o acusaram, entre outros fatos, de receber dinheiro por debaixo da mesa numa negociata. Com apoio popular, chegou ao segundo turno e, no dia 28 de outubro de 2012, obteve 270.927 votos, derrotando o candidato Edson Giroto (PMDB).
A promessa de campanha - com mote “40 anos em 4” e slogan de “As pessoas em primeiro lugar” – era priorizar a Saúde, com médicos 24 horas nos postos de saúde e a criação da central de consultas online, para evitar o sofrimento em filas.
Em 1º de janeiro de 2013, foi empossado o 17º prefeito de Campo Grande eleito pelo voto direto. Mas a crise com a Câmara já estava instalada. Os vereadores, ainda em 2012, congelaram o valor do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), reajustaram o salário de prefeito para R$ 20 mil, mesmo contra a vontade de Bernal, e diminuíram o poder do chefe do Executivo.
Uma emenda reduziu de 30% para 5% a abertura de créditos adicionais a serem utilizados pela administração municipal, sem que a transação precise passar pela aprovação da Câmara Municipal.
Também antes da posse, o estilo centralizador do prefeito chamou a atenção. O secretariado, por exemplo, só foi anunciado em 31 de dezembro de 2012.
As derrotas - Os planos era construir diálogo com os vereadores, mas o primeiro teste de popularidade de Bernal entre os parlamentares se revelou profético. “Ungida” pelo prefeito, a vereadora Rose Modesto (PSDB) perdeu a disputa pela presidência da Câmara. Com placar de 20 votos a 9, a vitória ficou com Mário César. Era primeiro de janeiro e Bernal amargou a primeira derrota de 2013.
No decorrer do ano passado, o prefeito conseguiu perder até mesmo aliados, como dois vereadores do PSDB e Waldecy Nunes , o Chocolate. Logo, se afastou e isolou o vice Gilmar Olarte (PP). Na ofensiva, a Câmara abriu a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Calote. Por fim, a investigação apontou que o prefeito “fabricou” situação de emergência. Ou seja, priorizou contratos com dispensa de licitação.
O parecer abriu caminho para a Comissão Processante. Com manifesto a favor da cassação, Bernal foi julgado e perdeu o mandato. Neste meio-tempo, foram várias as tentativas de atrair vereadores para a base aliada. Usando a força da caneta, distribuiu cargos e trouxe Pedro Chaves (PSC) para comandar a secretaria de Governo, responsável por estreitar os laços com os vereadores.
Na berlinda, prometeu, em outubro, tirar da gaveta um conselho político, antiga aspiração dos então partidos aliados. No entanto, o governo de coalizão não teve êxito e Bernal foi protagonista de um dia histórico, em 114 anos da cidade, foi o primeiro prefeito cassado de Campo Grande.