Com liminar de juiz, Bernal tentou "dar golpe", avaliam vereadores
A ocupação de prédios públicos pelo ex-prefeito Alcides Bernal (PP) e seus aliados, no dia 15 de maio, foi comparada a tentativa de golpe por vereadores. Durante sessão desta terça-feira (20), na Câmara Municipal, não faltaram pedidos de prisão ao ex-gestor, bem como responsabilização por “formação de quadrilha”. Bernal retornou ao cargo por oito horas, período em que documentos foram furtados e servidores agredidos e coagidos.
“Foi um golpe com indício de ditadura o que aconteceu no dia 15, envolvendo condutas tipificadas no Código Penal. Houve precipitação e desequilíbrio emocional ao agirem de maneira agressiva e violenta”, avaliou Otávio Trad (PT do B).
Ao ocupar a tribuna, Paulo Siufi (PMDB) fez questão de nomear abusos praticados contra servidores, como agressão, coação e revista de pertences. Ele também disse que Bernal possui “desequilíbrio mental” e deve ser responsabilizados pelos danos resultantes da ocupação do Paço Municipal e secretarias.
Elizeu Dionizio (SD), por sua vez, considerou o grupo vinculado ao progressista de “quadrilha”, mas que a ação colaborou para mostrar as pessoas o que ocorria nos bastidores. A vereadora Rose Modesto (PSDB) também lamentou a ocupação “em clima de ânimos exaltados”.
O retorno temporário de Bernal ocorreu após o juiz da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, David de Oliveira Gomes Filho, acatar pedido de ação popular para anular o Decreto Legislativo que cassou o progressista em 12 de março. Contudo, oito horas depois, a decisão foi revertida em despacho do desembargador do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), Vladimir Abreu da Silva.
De acordo com o presidente da Câmara Municipal, Mario Cesar (PMDB), se cogitou abrir uma comissão para investigar se vereadores que acompanharam o ex-gestor cometeram quebra de decoro. Caso comprovada, a punição pode chegar a perda do mandato.
“Se fomos tão tolerantes em outras situações não podemos pegar esse episódio e transformar em um cavalo de batalha. Os vereadores disseram que não houve hostilidade”, comentou Mario.
Estiveram no gabinete, no dia 15 de maio, os vereadores e autores da ação popular Paulo Pedra (PDT), Ayrton Araújo (PT), Luiza Ribeiro (PPS) e Thaís Helena (PT). Zeca do PT estava em viagem na ocasião.
“Houve euforia de retornar e achei que podia comemorar, mas não teve quebra de decoro e vejo que podemos ser crucificados nessa história. Se houve excessos, deve ser punido quem fez isso”, afimou Ayrton.
Já Thaís, Pedra e Luiza justificaram que a ida até a prefeitura foi embasada na decisão da liminar, que determinava retorno imediato de Bernal ao cargo de prefeito.
“O juiz não mandou dar posse e nem intimar o Gilmar Olarte. Quando anulou o ato de cassação volta a situação anterior”, explicou Ribeiro, contrariando a interpretação dos demais vereadores que acreditavam ser necessária posse formal na Câmara.
Chiquinho Telles (PSD) e Airton Saraiva (DEM) ressaltaram que apenas uma conversa com os colegas parlamentares seria o suficiente, bem como o acompanhamento do inquérito policial sobre os danos causados ao erário público. “Que culpa eles tem? Foi o Bernal quem convocou e arquitetou tudo”, resume Telles.
Durante o período de validade da liminar, assessores de Bernal aproveitaram para trocar fechaduras do gabinete do prefeito e secretarias, bem como agredir e revistar servidores. Documentos e computadores também teriam sido furtados, conforme investigação policial.
Bernal negou que tenham ocorrido atos de vandalismo, mas justificou a troca de fechaduras para que ninguém “voltasse durante a madrugada para tentar apagar seus rastros”. Ele também acusou os próprios servidores do sumiço de documentos e equipamentos públicos, como computadores.