"Foi dia mais tenso que vivi na Assembleia", diz Mochi sobre invasão
Reforma da previdência gerou duas invasões na Assembleia, com direito a protesto contido apenas pela tropa de choque
O presidente da Assembleia, o deputado Junior Mochi (PMDB), esteve a frente de um dos momentos mais polêmicos e inesperados que ocorreu no legislativo. Em menos de cinco dias o prédio foi invadido duas vezes por manifestantes contrários a reforma da previdência. Os parlamentares aprovaram o projeto, com a proteção de 60 homens da Tropa de Choque.
O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) se reuniu com os deputados e apresentou no dia 31 de outubro o projeto da reforma, que previa o aumento da contribuição de 11% para 14% aos servidores e de 22% para 28% ao patronal. Além disto criava um teto para os futuros funcionários e unificava os fundos da previdência.
A promessa foi que o projeto seria discutido com os servidores e que seguiria em ritmo normal. Foi quando no dia 21 de novembro, o governo fez várias reuniões e avisou que a proposta iria ao plenário. Um dia depois (22), foi aprovada pela primeira vez, com manifestação contrária, porém ainda tímida. A votação definitiva seria dia 23, em uma quinta-feira.
1° Invasão - No dia principal, uma grande mobilização foi feito pelos servidores, mas o que os deputados não esperavam e que eles invadissem o plenário, no espaço de votação, inclusive sentando na cadeira dos deputados. "Toda manifestação é legítima e normal, mas fomos surpreendidos com a invasão, acho que não precisava daquilo", disse Mochi.
Os deputados tentaram negociar com os sindicalistas, inclusive conseguiram isentar 75% dos servidores, tendo o aumento de contribuição apenas para os que ganhavam acima do teto. No entanto, o impasse era sobre a unificação dos fundos, que iria juntar um deficitário, com outro de saldo de R$ 400 milhões.
Foi então marcada a votação para o dia 28 de novembro. Um dia antes, Mochi fez várias reuniões com as forças de segurança, para montar um esquema e evitar nova invasão. "Ficamos reunidos até tarde tanto no domingo, como na segunda, mudamos muito o texto, mas havia um assunto que não teve acordo", contou o presidente.
Dia D - Era uma terça-feira (28), a Assembleia montou uma grande esquema de segurança, com 220 policiais, cavalaria à disposição, tendo a tropa de choque com 60 homens preparada para agir. Só poderia entrar no prédio 150 pessoas, além da imprensa e funcionários. O clima era de tensão e confronto, com mais de 5 mil manifestantes na frente do legislativo.
Antes de começar a sessão derradeira, um grupo invadiu o bloqueio da PM, e o restante da multidão seguiu atrás. Uma boa parte conseguiu entrar no prédio, sendo que um deles se atirou e quebrou a porta de vidro. A polícia reagiu com bombas de efeito moral e tropa de choque afastando a multidão.
Um grupo conseguiu entrar lotando o plenário. "Houve excesso na manifestação, tivemos que chamar o reforço para resguardar a segurança de todos. Quando fiquei sabendo a invasão temi pelo desfecho da situação, foi o dia mais tenso que vivi na Assembleia", descreve Mochi.
Decisão - Ele relatou que o comandante da Operação foi até seu gabinete para obter uma resposta. "Tinha que escolher entre adiar a votação, optar por uma sessão em outro lugar ou votar mesmo assim, foi quando pedi que apenas liberassem um espaço para gente votar".
Depois da decisão, a tropa de choque entrou no plenário e se posicionou entre os manifestantes e os deputados. Devido a confusão, os parlamentares apenas tinham espaço em frente a mesa diretora, para votar. "Falei para eles, quem quiser votar vai, quem não se sentir seguro não precisa ir".
Com este clima de conflito, 13 deputados votaram a favor e sete contra, sendo aprovada a reforma da previdência. "Cada um seguiu sua consciência, só iríamos adiar o problema para outro dia". Já os servidores prometeram entrar na Justiça contra a nova lei estadual.