Até para a astrologia, "eterna" obra em Campo Grande já nasceu condenada
Construção com projeto de quase 14 mil metros quadrados, Centro de Belas Artes vai completar 33 anos
Perto do "aniversário" de 33 anos, ainda inacabada e com o apelido de "maior elefante branco" de Campo Grande, o Centro de Belas Artes segue no topo da lista dos grandes desafios da Capital. "Já nasceu sob aspecto astrológico de fracasso. Nasceu condenado", diz a astróloga Thereza Christina Ferreira da Silva. Depois de tantas matérias e questionamentos desde o início da construção, em 1991, o Campo Grande News decidiu recorrer a um tipo de mapa astral da obra para buscar uma explicação sobre o local que tornou-se um dos maiores símbolos do desperdício de dinheiro público.
De acordo com a astrologia, exatamente na década de 90 houve uma conjunção no céu que acontece a cada 172 anos envolvendo Urano e Netuno, dois planetas com funções antagônicas, de perspectivas diferentes.
"Há quem diga que Urano seria um planeta de direita e Netuno de esquerda. Netuno marcado pela coletividade e por ser mais lento dissolve a marca da obra, interfere na individualidade de Urano, ficando tudo muito confuso, nada fica muito concreto", explica Thereza Christina.
Ainda segundo a astrologia, Urano remete a rupturas e Netuno a mistérios, confusões, entre outros significados "aquilo que não posso ver". Tem muito a ver com ilusões. O que acreditamos como sendo verdade e muitas vezes não é.
Por isso pelo ótica do estudo dos astros a obra já nasceu quase que praticamente condenada, marcada por rupturas e mistérios, estranhezas, confusões dentro da estrutura que não conseguiu força para ser realizada. "Existia uma configuração astrológica e em 1993 onde houve uma das licitações da obra, era o ápice desse aspecto, o que acabou causando todo este imbróglio", detalha Thereza Christina.
Se por um lado a conjunção de dois planetas tenta explicar os problemas com a obra, Plutão também é citado quando se fala da "eterna" construção, mas neste caso é só como nome de rua mesmo, que passa na lateral da construção. O acesso principal, pelo projeto, é pela Avenida Presidente Ernesto Geisel, via movimentada do bairro Cabreúva.
Quando a construção começou, no governo de Pedro Pedrossian, era para ser uma estação rodoviária. Outros cinco governadores passaram pela cadeira de chefe do Executivo, além de oito prefeitos, e o "elefante branco" continuou sem solução. O apelido vem de algo grandioso, com aparência magnífica, mas que cria problemas e provoca grandes prejuízos.
Dizem que na Tailândia havia uma prática antiga: toda vez que o rei queria arruinar um inimigo, dava um elefante branco. Por tratar-se de um animal sagrado, o presenteado não podia se desfazer.
Cansados de promessas - Estefanny Magalhães, 31 anos, mora na região da Cophasul e transita bastante pela região da obra para visitar amigos. "Não tenho esperança que termine. A minha mãe brinca que enterraram a cabeça de um bode aí. Porque não foi não foi rodoviária, não foi shopping, não foi espaço cultural e está aí. Vamos ver o que que vai virar no final, nessa próxima gestão. Vamos ver o que que vão inventar para reutilizar. Aqui é um espaço muito grande com muitas repartições. Eu acho que o mais viável seria alguma extensão da prefeitura, de alguma secretaria", diz.
Moradora da região há quatro décadas, Mauri Lucena, de 62 anos, conta que o filho dela era criança quando a obra começou e brincava no terreno da construção. "Sobre essa obra aí eu já dei minha opinião. Isso aqui foi uma pouca vergonha. Já cansei de falar. Eles têm que arrumar uma solução. O problema dessa obra é que ela já começou mal. Aqui na região a geografia não permite uma rodoviária porque é bairro, isso aqui é tudo cercado, não tem de onde para onde sair. Muita gente deve ter ficado rica com essa obra", diz.
Osney Pereira, de 56 anos, mora em frente à obra e também lamenta a espera por uma solução: "Com o abandono, aumentou a quantidade de pessoas (moradores de rua) que ficam aí também. De vez em quando no período de campanha política limpam, pintam, fazem a grade e depois fica tudo abandonado de novo". Questionado ainda sobre como imagina que o prédio vai ficar quando concluído ele diz: "Na realidade eu nem imagino mais. Só tenho o sonho do que alguma coisa vai sair aí. Acompanhei desde o início, eu tinha até uns amigos que tinham uma chácara que foi desapropriada para dar espaço à construção", conta.
Novela - Originalmente, a obra abrigaria o novo terminal rodoviário da Capital. Foi iniciada em 1991 e paralisada três anos depois, porque consideraram que o local não poderia servir como nova rodoviária por conta da localização e espaço já limitado. Em 2006, o Governo do Estado repassou o prédio para a prefeitura. Para essa nova fase, o projeto seria executado em partes - a primeira em 2008, a partir de contrato de mais de R$ 6 milhões com a Mark Engenharia. Em 2013, com 80% executados, a empreiteira não concluiu por conta de atraso nos pagamentos das medições realizadas e o município paralisou a obra. A empresa recorreu ao Poder Judiciário para que os pagamentos fossem feitos. Em 2017, a prefeitura assinou termo com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) para retomar a obra de 15 mil metros quadrados. Nova licitação foi lançada em 2019 e, em 2020, a empresa foi contratada. Em maio daquele ano, a Justiça suspendeu a obra ao descobrir que o município ainda devia à empresa que começou a execução. Então, a empresa licitada desistiu do contrato em função de defasagem dos valores dos materiais, que ficaram mais caros. Após meses de indefinição, uma nova licitação foi lançada em outubro de 2021, resultando na classificação da Orkan. Em 19 de julho do ano passado, a prefeitura rescindiu o contrato após atraso nos serviços. Em setembro de 2022, a conclusão de parte do prédio foi assumida pela Campana e Gomes Engenharia Ltda. O projeto da licitação previa finalizar cerca de 40% do prédio pelo valor de R$ 4,4 milhões.
Novos problemas - O último contrato foi rescindido neste mês de dezembro, após a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) encontrar falhas no projeto e precisar atualizar os preços.
“Quando cheguei aqui, essa obra estava praticamente paralisada, em ritmo muito lento, e chamei a empresa. Dentro de um consenso, optou-se pela rescisão contratual”, afirma o titular da Sisep, Marcelo Miglioli, que assumiu a pasta em 7 de novembro. A vencedora da licitação apresentou um valor que não custeava a obra e, quando deixou o canteiro, a empresa sucessora foi obrigada a aceitar o mesmo preço, conforme determinava a Lei de Licitações.
Capítulo final? - “Nós estamos atualizando o projeto e a intenção é fazer a licitação no começo do ano. Uma vez feita a licitação, retornaremos as obras. Provavelmente, a gente publica o edital no próximo mês de janeiro”, finaliza o secretário.
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