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Reportagens Especiais

Do terrão ao calor, Campo Grande é lembrada por suas fortes características

Nas ruas, campo-grandenses elencaram sinônimos para a Cidade Morena

Por Izabela Cavalcanti | 26/08/2024 07:00
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Homem dentro de caiaque no lago do Parque das Nações Indígenas (Foto: Marcos Maluf)
Homem dentro de caiaque no lago do Parque das Nações Indígenas (Foto: Marcos Maluf)

Quando você ouve "Campo Grande", qual a palavra que surge na sua mente? Definir 125 anos da Capital de Mato Grosso do Sul não é uma tarefa fácil.

Para uns, Campo Grande significa muita árvore e espaço, enquanto para outros, terrão e calor. Também acham que é a cidade das praças e das oportunidades.

Para celebrar o aniversário da cidade, no dia 26 de agosto, a equipe de reportagem foi às ruas saber as versões da população sobre onde moram.

Rosenir, sentada no banco da Praça Ary Coelho, em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Rosenir, sentada no banco da Praça Ary Coelho, em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

Aqui é muito calor. Gosto do vento que tem direto, o vento fica fazendo carinho na gente, o cabelo fica balançando”, disse aos risos a dona de casa, Rosenir Pereira, de 58 anos.

Natural de Rondônia, ela define Campo Grande em uma palavra, calor. Rosenir veio morar na Capital junto com a mãe para a sobrinha terminar a faculdade. Atualmente, reside no Bairro Oliveira 3.

Com o calorão e tempo seco da cidade morena, Rosenir encontra trégua só quando faz frio. “Primeiro frio que eu senti foi aqui. Levanto só para comer. Eu também plantei pé de maçã, que só nasce no frio”, pontuou.

O campo-grandense sabe muito bem que o tempo por aqui não é fácil de lidar. Um dia está calor, no outro frio. Tem semana de um sol para cada um e os dias nublados. É o verdadeiro "tira casaco, bota casaco".

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a Capital esquentou 2,2°C em pouco mais de 60 anos. Especialmente a partir dos anos 2000, ficaram mais frequentes as ondas de calor. Elas acontecem quando os marcadores dos termômetros superam os 35°C.

Este cenário de tempo seco e quente também ocorre devido às queimadas. De novo, o Pantanal está sendo vítima de incêndios, que já ultrapassaram o índice registrado em 2020, ano em que o bioma foi devastado pelo fogo.

Segundo o Programa BDQueimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de 1° de janeiro a 20 de agosto daquele ano, foram registrados 6.032 focos de incêndio, enquanto que no mesmo período deste ano foram 8.717, 44.51% a mais.

Maria Dilma na saída da farmácia, no Bairro Parati (Foto: Marcos Maluf)
Maria Dilma na saída da farmácia, no Bairro Parati (Foto: Marcos Maluf)

Está faltando mais cuidado na cidade. Ruas que estão sem asfaltar, inclusive eu moro no Parati, e lá tem ruas sem asfalto”, reclamou a aposentada Maria Dilma, de 66 anos.

Para ela, o terrão é a palavra que hoje define Campo Grande. A falta de cuidado relatada por ela também inclui o abandono da Rua 14 de Julho, sem vagas de estacionamentos e com coisas quebradas, segundo ela.

A data do dia 26 de agosto não é um dia muito animado para ela, já que seu pai foi enterrado nesse dia. “Eu amo Campo Grande. É uma data linda para a cidade, mas triste para mim, porque meu pai morreu dia 25 e foi enterrado dia 26”, lamentou.

Rua Penalva, sem asfalto, localizada no Bairro Jardim Monte Alegre, divisa com o Parati (Foto: Marcos Maluf)
Rua Penalva, sem asfalto, localizada no Bairro Jardim Monte Alegre, divisa com o Parati (Foto: Marcos Maluf)

Campo Grande tem cerca de mil quilômetros de ruas que ainda não estão asfaltadas. Ao todo, são pouco mais de três mil quilômetros de vias existentes.

Em abril deste ano, a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), em reunião com executivos da Caixa Econômica Federal, apresentou um projeto de pavimentação asfáltica e drenagem, orçado em R$ 541 milhões, para atender 16 bairros de Capital.

Neste projeto, estão previstos 1.492.800 m² de pavimentação atendendo os seguintes bairros: Nasser, Noroeste, Tiradentes, Vilas Boas, Rita Vieira, Moreninha, Los Angeles, Pioneiro, Aero Rancho, Centenário, Parati, Guanandi, Tarumã, Coophavilla, Batistão e São Conrado.

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Tem muita árvore, o verde aqui é lindo, os Ipês são maravilhosos”, destacou Gislaine de Freitas, de 38 anos.

Moradora do Aero Rancho desde que nasceu, ela diz que sempre se encantou com o verde da Capital, o que, segundo Gislaine, deixa a cidade mais aconchegante. “É acolhedora, porque quando eu saio da cidade e volto, eu sinto a diferença. O ambiente é aconchegante. Aqui eu ando rindo à toa”, completou.

Segundo a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), são 175 mil árvores nas vias urbanas, sendo 161 espécies.

Árvores no canteiro central da Avenida Afonso Pena, no Centro de Campo Grande (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Árvores no canteiro central da Avenida Afonso Pena, no Centro de Campo Grande (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

O Plano Diretor de Arborização Urbana de Campo Grande de 2009 mostra que, no Aero Rancho, é encontrado o maior número de árvores (5.024), seguido dos setores Moreninhas (4.915), Centro-Oeste (4.741), Universitário (4.652) e Nova Lima (4.289).

As espécies encontradas na época foram: Sibipiruna, Murta-de-cheiro, Manga, Monguba, Resedá, Sombreiro, Aroeira-salsa, Ipês, Amburana, Babaçu, Capororoca, Palmeira, Embaúba, Faveiro e Sangra-d’água.

Em maio de 2024, no IV Fórum de Arborização para Cidades Sustentáveis, o especialista Maurício Lamano Ferreira, professor de restauração ecológica de uso na USP (Universidade de São Paulo), explicou que Campo Grande tem a regra do 3/30/300, onde cada pessoa tem que ver três árvores sadias da janela de casa, tem que ter, pelo menos, 30% de cobertura verde do bairro ou distrito e morar a 300 metros de uma praça ou ambiente com mais de meio hectare.

O Parque das Nações Indígenas é um exemplo do verde que Gislaine expressa. Por lá são 119 hectares de muita área verde e contato com a natureza em meio às capivaras, quatis, garças, tucanos, araras-canindé, periquitos e muitas outras aves.

Silvio sentado no banco da Praça Ary Coelho, em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Silvio sentado no banco da Praça Ary Coelho, em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

“Campo Grande é qualidade de vida. Sãos as praças, os lugares bons para se alimentar bem. Eu preciso de simplicidade. Tem boteco perto de casa, vai ter uma praça agora, estou feliz, porque gosto muito de ler e de ver pessoas”, disse o autônomo Silvio José Burali, de 64 anos.

Bem animado e conversador, ele deixa claro que sua felicidade é acordar e ir ler a Bíblia numa praça qualquer. Silvio chegou na Capital em 2018. Atualmente, mora próximo ao Monte Castelo.

"Depois que acordo, primeiro, busco as coisas do alto, cuido dos pássaros soltos que vão lá para a casa, os sabiás, pombas, periquitos. Eu plantei um pé de Jabuticaba e amora, e isso me preenche. Depois vou a uma praça, ler. A pessoa pode estar repleta de dinheiro, mas tem que ter alegria”, refletiu.

Aos 23 anos, ele teve AVC (Acidente Vascular Cerebral) e ficou com o lado esquerdo do rosto paralisado. “A partir de 1983 passei a amar mais a minha vida e a valorizar as pequenas coisas”.

Chafariz ligado na Praça Ary Coelho, em Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)
Chafariz ligado na Praça Ary Coelho, em Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)

São cerca de 150 praças espalhadas por Campo Grande e os distritos de Anhanduí e Rochedinho.

Destas, 32 são de responsabilidade da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo); 34 da Funesp (Fundação Municipal de Esportes); e as demais da Semadur.

Praça Ary Coelho, Ayrton Senna, Belmar Fidalgo, Praça do Rádio Clube, Praça Recanto dos Pássaros, Orla Morena, Praça dos Imigrantes, Praça das Araras são algumas das praças que compõem a estrutura da cidade morena. No entanto, nem todas estão em boas condições de uso, mostrando evidentemente deteriorações.

Neusa segurando sombrinha para se proteger do sol (Foto: Marcos Maluf)
Neusa segurando sombrinha para se proteger do sol (Foto: Marcos Maluf)

As ruas são largas, com duas pistas, canteiros, pista de bicicleta. Campo Grande é espaçosa. Muito bonita”, disse a aposentada Neusa Arantes, de 69 anos.

Ela se mudou para Campo Grande aos 12 anos e sempre morou no bairro Parati. Para Neusa, a cidade triplicou e é necessário que as ruas sejam mais largas para conseguir dar mais fluxo no trânsito.

“As ruas neste formato dão mais beleza para as casas. As casas aqui são boas, bem ajeitadas. Campo Grande é espaçosa”, completou.

Vários veículos passando na Avenida Afonso Pena, em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Vários veículos passando na Avenida Afonso Pena, em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

Conforme informado pela Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana), a Avenida Duque de Caxias é a via mais larga, medindo entre 70,00m a 100,00m.

Em seguida está a Avenida Gury Marques, com 68,00m a 70,00m; Avenida Consul Assaf Trad, medindo 68,00m; Avenida Gunter Hans, 55,00m; Avenida Afonso Pena, com 48,00m a 50,00m; e Avenida João Arinos, de 45,00m a 50,00m.

Cid sentado no banco da Praça Ary Coelho, em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Cid sentado no banco da Praça Ary Coelho, em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

“Aqui eu consegui emprego, comprei apartamento. Gratidão a Campo Grande”, disse feliz, o aposentado Cid Mauro, de 68 anos.

Ele nasceu em Corumbá, mas há 32 anos mora em Campo Grande. Também conseguiu comprar um apartamento na Rua Dom Aquino.

Pela manhã costuma ir até a Praça Ary Coelho, sozinho, e pensar na vida. “Minha vida é vir aqui. Moro perto do Centro, é tranquilo, calor. Campo Grande me deu oportunidade”, completou.

Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), de janeiro a junho deste ano, o saldo de emprego em Campo Grande 6.299. O montante é resultado de 78.037 admissões e 71.738 desligamentos. O estoque total é de 247.798.

Já que Campo Grande deu oportunidade para Cid, como ele bem diz, é assim que a cidade também é promovida em cada discurso da prefeita Adriane Lopes, como a Capital das Oportunidades.

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