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A realidade é um alívio

Por Cristiane Lang (*) | 26/10/2024 12:51

A realidade, com todas as suas imperfeições, limitações e verdades duras, muitas vezes oferece um alívio surpreendente quando comparada à crueldade que a imaginação pode infligir. Embora a imaginação seja uma fonte de criatividade, esperança e possibilidades, ela também pode se tornar um terreno fértil para medos irracionais, expectativas irreais e angústias desnecessárias.

O Poder da Imaginação Descontrolada

A mente humana é incrivelmente poderosa e, quando deixada sem controle, pode criar cenários que nunca acontecerão. Preocupações exageradas sobre o futuro, suposições sobre o que os outros pensam de nós e a obsessão por possíveis falhas são exemplos de como a imaginação pode nos levar por caminhos sombrios.

Esse “ensaio mental” muitas vezes nos leva a reviver situações dolorosas ou prever fracassos que nunca se concretizarão. A imaginação pode amplificar medos pequenos até que pareçam insuperáveis, criando um ciclo de ansiedade e insegurança. Esse processo pode ser devastador, uma vez que nos coloca em um estado de constante alerta, como se estivéssemos nos preparando para uma tempestade que nunca chega.

A Dura e Libertadora Realidade

Quando finalmente enfrentamos a realidade, percebemos que, embora ela possa ser dura, ela raramente é tão cruel quanto a nossa imaginação fez parecer. A realidade tem um aspecto concreto, palpável e, acima de tudo, administrável. O medo do desconhecido muitas vezes desaparece quando estamos diante da verdade, pois ela oferece clareza.

A realidade não precisa ser manipulada ou distorcida, ela simplesmente é. E, por mais que isso possa parecer assustador, é também incrivelmente libertador. Saber exatamente com o que estamos lidando nos dá poder para agir. Diante da verdade, podemos tomar decisões, traçar estratégias e, principalmente, lidar com os fatos de forma concreta.

Ao contrário da imaginação, que muitas vezes nos prende em cenários impossíveis, a realidade nos dá uma base sólida. Podemos começar a resolver problemas, adaptar nossas expectativas e, de fato, progredir. É por isso que enfrentar a realidade pode ser um alívio, porque nos traz de volta ao controle, ao contrário da imaginação, que nos tira a noção de tempo e espaço, jogando-nos em um mar de incertezas.

O Alívio da Verdade

Uma das razões pelas quais a realidade pode ser um alívio é que, mesmo quando dolorosa, ela oferece fechamento. Não há mais a necessidade de conjecturas ou suposições. Saber que algo terminou, que uma oportunidade foi perdida, ou que uma situação foi resolvida — por mais difícil que seja — é mais fácil de suportar do que viver na angústia do “e se”. O “e se” é o terreno da imaginação cruel, que nos mantém presos em um ciclo interminável de hipóteses, sem nunca nos permitir descansar.

Na realidade, podemos sofrer com o término de um relacionamento, a perda de um emprego ou o fracasso de um projeto, mas também podemos começar a reconstruir. A verdade, mesmo que difícil, nos liberta da prisão mental que a imaginação pode criar. Com a realidade vem o movimento para frente, enquanto a imaginação nos mantém estagnados em um labirinto de possibilidades impossíveis.

A Imagination Pode Distorcer a Percepção do Outro

Outro aspecto da imaginação cruel é a forma como ela distorce nossas percepções sobre os outros. Criamos expectativas irreais sobre como os outros deveriam se comportar, ou fantasiamos sobre como as pessoas nos veem. Quando essas suposições são alimentadas pela insegurança, a imaginação pode nos convencer de que estamos sendo constantemente julgados, rejeitados ou ignorados. No entanto, quando confrontamos a realidade, muitas vezes percebemos que as pessoas não estão tão focadas em nós como imaginamos, e que nossos temores eram infundados.

Aceitando a Realidade Como um Porto Seguro

Aceitar a realidade não significa desistir da esperança ou da criatividade. Muito pelo contrário. A realidade nos dá um ponto de partida para agir com mais eficiência e sabedoria. Quando aceitamos o que é real, somos capazes de focar nossas energias em mudanças concretas e parar de gastar tempo com fantasias destrutivas.

É importante usar a imaginação de forma consciente e equilibrada, aproveitando seus aspectos criativos sem deixá-la tomar conta de nossas vidas de maneira negativa. Quando aprendemos a navegar entre o mundo da imaginação e o da realidade, encontramos um ponto de equilíbrio. Sonhar é necessário, mas viver no presente é o que nos permite aproveitar a vida em sua plenitude.

A realidade pode ser, sim, um alívio. Mesmo que dolorosa, ela é tangível, solucionável e nos traz de volta ao momento presente. A imaginação, quando não domada, pode ser cruel, criando cenários de medo, expectativa e decepção. Ao abraçar a realidade, aceitamos nossas limitações, mas também nossas oportunidades de agir.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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