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“Burn On”: O perigo do burnout invisível

Por Cristiane Lang (*) | 10/09/2024 08:15

O esgotamento silencioso, ou "burn on", é uma realidade cada vez mais comum em nossa sociedade hiperconectada, mas muitas vezes negligenciada. Ao contrário do burnout clássico, caracterizado por sinais óbvios de estresse, exaustão física e emocional, o esgotamento silencioso se instala de forma sutil e progressiva, quase imperceptível. Ele pode passar despercebido até que seus efeitos sejam devastadores, tanto para o bem-estar pessoal quanto para a produtividade.

Esse tipo de burnout se manifesta em pequenas mudanças diárias: a pessoa começa a se sentir mais irritada ou ansiosa, perde o interesse em atividades que antes traziam prazer e sente-se constantemente sobrecarregada, mesmo quando cumpre suas responsabilidades. No entanto, essas mudanças não são vistas como sintomas de algo maior. Pelo contrário, muitas vezes, o esgotamento silencioso é mascarado pela ilusão de que "está tudo bem", ou pela crença de que é preciso continuar a rotina a qualquer custo.

Como o esgotamento silencioso se manifesta

O grande perigo do burnout silencioso é a sua capacidade de se camuflar no cotidiano. Ao invés de uma queda abrupta de energia ou uma crise visível de estresse, ele se traduz em uma série de pequenos sinais:

  • Fadiga constante: A pessoa acorda cansada, mesmo após uma noite de sono. Sente-se sem energia para enfrentar as tarefas do dia, mas ainda assim continua.
  • Falta de motivação: As atividades que antes eram envolventes ou desafiadoras passam a ser vistas como uma lista interminável de obrigações. Há uma perda progressiva de interesse e entusiasmo.
  • Isolamento social: O esgotamento silencioso pode levar ao distanciamento das pessoas, não porque a pessoa quer ficar sozinha, mas porque interações sociais se tornam desgastantes.
  • Negligência de si mesmo: A pessoa pode parar de cuidar de sua saúde física e emocional, ignorando pequenos sinais de alerta do corpo, como dores, insônia ou mudanças de humor.
  • Procrastinação e queda na produtividade: Apesar de se manter ativa, a pessoa sente dificuldade em realizar tarefas com a mesma eficácia de antes. Ela pode até estar presente fisicamente, mas mentalmente já está em outro lugar.

Por que o esgotamento silencioso é tão perigoso?

O esgotamento silencioso é especialmente perigoso porque, ao contrário de crises mais agudas de burnout, ele não gera uma sensação de urgência. A pessoa não percebe que está em uma espiral descendente, continuando sua rotina até que o desgaste atinja um ponto crítico. E quando isso acontece, o caminho para a recuperação tende a ser mais longo, pois o problema foi ignorado por muito tempo.

Além disso, o burnout silencioso é muitas vezes romantizado. Há uma cultura que valoriza o excesso de trabalho, a "produtividade a todo custo" e a ideia de que estar sempre ocupado é sinônimo de sucesso. Essa mentalidade faz com que muitos ignorem os sinais de esgotamento, acreditando que "descanso é para os fracos". No entanto, a exaustão constante afeta diretamente a saúde mental e física, o que pode resultar em doenças graves como depressão, ansiedade crônica, hipertensão e até problemas cardíacos.

Como identificar e combater o esgotamento silencioso

Reconhecer o burnout silencioso é o primeiro passo para combatê-lo. Algumas estratégias são essenciais para reverter o quadro antes que ele se agrave:

    ⁃    Autoconsciência: Estar atento aos pequenos sinais que o corpo e a mente enviam é crucial. Perceba quando a fadiga é constante, quando o prazer em realizar certas atividades desaparece e quando o corpo começa a reclamar.

    ⁃    Estabelecer limites: Aprender a dizer "não" e priorizar o que realmente importa é vital para evitar o acúmulo excessivo de tarefas. Definir limites claros entre trabalho e vida pessoal pode ajudar a criar um espaço de recuperação emocional.

    ⁃    Tirar pausas regulares: Intervalos curtos durante o dia podem fazer uma grande diferença para a mente. Pequenas pausas de descanso e desconexão ajudam a aliviar o estresse acumulado.

    ⁃    Redefinir sucesso: Questionar a ideia de que produtividade é sinônimo de valor é fundamental. Sucesso também envolve equilíbrio, saúde e bem-estar.

    ⁃    Cuidar da saúde mental: Buscar apoio psicológico, seja por meio de terapia ou práticas como a meditação e o mindfulness, pode ser uma ferramenta poderosa para prevenir ou tratar o esgotamento silencioso.

O esgotamento silencioso é uma ameaça invisível que afeta profundamente a qualidade de vida. Muitas vezes, as pessoas ignoram os sinais sutis de burnout, acreditando que é apenas uma fase ou que precisam "aguentar firme". No entanto, essa negação pode ter consequências graves a longo prazo. Reconhecer e tratar o esgotamento silencioso não é apenas uma questão de saúde mental, mas uma forma de garantir uma vida mais equilibrada, produtiva e satisfatória. A verdadeira força está em reconhecer nossos limites e cuidar de nós mesmos, antes que o desgaste tome conta.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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