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Copa do Mundo: o que os turistas vão encontrar por aqui?

Por Marcos Morita (*) | 07/05/2014 15:00

Creio que não seja novidade a nenhum brasileiro a situação das obras para a Copa que se aproxima. Para dizer a verdade, já esperava que isso acontecesse logo que fomos escolhidos como sede do torneio. Os jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, e as obras do PAC só para citar alguns exemplos, já davam sinais do que estava por vir. Adicione agora os mesmos grupos no executivo e no legislativo, presentes em ambas as situações. Pronto. Nem mesmo os vermelhos mais otimistas acreditariam que algo sairia diferente.

O que eu não esperava é a situação de “Casa da Mãe Joana” que se tornou nosso país nos últimos meses, cujos desdobramentos poderão afetar nossa imagem no exterior, a qual, diga-se de passagem, já não é das melhores. Por sorte ou azar do destino, China, África do Sul e Rússia, países com problemas semelhantes aos nossos, sediaram grandes eventos esportivos num passado recente. Pelo que pude acompanhar pelo noticiário televisivo, temos grandes chances de superá-los negativamente.

Enfim, faltando pouco mais de um mês para o começo do torneio, acredito que grande parte dos turistas já estejam arrumando as malas, com sua torcida e expectativas sobre o que encontrarão no país que tem como símbolos nacionais: Carnaval, Carmem Miranda, Pelé e a Floresta Amazônica. Para elucidar a história criemos três personagens fictícios: Toshio, Fritz e Joaquim, cujas nacionalidades estão na cara, ou melhor, no nome. Todos pisando em solo tupiniquim pela primeira vez.

Quem já foi ao Japão sabe o quão cansativo é viajar por mais de um dia em classe econômica. A empolgação inicial transforma-se em cansaço puro, assim como não se sabe mais se é dia ou se é noite. Por azar, Toshio chegou em uma segunda-feira em Guarulhos, dia de maior movimento em nossos saturados aeroportos. Esperou cerca de 40 minutos na pista até que encontrasse um slot livre. Pouco entendeu a imensa fila da imigração, a balbúrdia e a demora para pegar suas bagagens.

Enfim a luz do dia, após duas horas de martírio. “Logo chego ao hotel”, pensou o ingênuo turista já dentro do táxi. Mal sabia que naquele dia moradores da Zona Norte tinham bloqueado uma das vias de acesso a São Paulo em protesto contra a Copa do Mundo, provocando centenas de quilômetros de congestionamento. Três horas depois, cansado, moído e faminto, Toshio chega a seu hotel louco por um bom banho para tirar o cansaço da viagem. Entra em seu quarto e surpresa! Devido ao racionamento na cidade de São Paulo, água só no final da tarde.

Já Joaquim teve uma vida um pouco mais fácil, pelo menos no início de sua jornada. Devido à similaridade da língua, convenceu o motorista a seguir caminhos alternativos, assim como tomou um bom banho na academia ao lado do hotel depois de molhar a mão do recepcionista. Alugou um carro e dirigiu-se para Campinas, cidade a 100 quilômetros da capital na qual sua amada seleção se concentrava. Passados alguns dias começou a sentir febre alta e fortes dores no corpo, dirigindo-se a um posto de saúde local. Bingo. Juntou-se as mais de 17 mil pessoas que contraíram dengue na cidade.

Fritz já tinha se esquecido dos perrengues vividos em São Paulo após alguns dias em solo baiano, local de concentração da seleção alemã, curtindo o jeito soteropolitano de ser. Sua tranquilidade foi interrompida em sua visita ao pelourinho, onde teve furtado seu dinheiro e documentos, conhecendo ao vivo as mazelas de nossas delegacias. Para um povo que tem na pontualidade e na rigidez de princípios seus principais pilares, foi um terrível choque de realidade passar uma tarde inteira em um distrito policial.

A história do assustado Fritz e do debilitado Joaquim se cruzam em Salvador no dia 16 de junho, uma das grandes partidas da primeira fase. Escaldados pelo trânsito paulistano decidem sair bem cedo de seus hotéis a caminho da Fonte Nova, porém se espantam com a calmaria no trânsito baiano. Informado pelo motorista que se trata de feriado local, o alemão, executivo de alto escalão em seu país, fez as contas de quanto dinheiro será perdido considerando que cada cidade terá seus jogos e feriados. Sorte de ambos que o jogo ocorreu em plena luz do dia, sem riscos de apagões durante a partida.

Mais sorte teve Toshio, que quase sem percalços na segunda fase de sua viagem conheceu jacarés e tuiuiús no Pantanal, dançou frevo, comeu bode e provou bolo de rolo em Recife, andou de dromedário, pegou praia e passeou pelas dunas em Natal, enquanto via sua valente equipe avançar para a segunda fase.

Enfim, juntar-se-ão ao trio, mexicanos, argentinos, coreanos, italianos, franceses, colombianos, ingleses, espanhóis, holandeses, chilenos, australianos, argelinos, uruguaios, belgas, nigerianos, suíços e mais uma dezena de nacionalidades, os quais terão grandes chances de viver dias de Fritz ou Joaquim em maior ou menor escala. Como infelizmente já sabemos qual será o legado da Copa para os brasileiros, o jeito é torcer para que nossos visitantes tenham uma vida mais fácil, assim como o Toshio. Caso contrário, corremos um sério risco de adicionar mais um título ao nosso país: não o de hexa, mas o do improviso e da gambiarra.

(*) Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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