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Educação em “ponto morto”?

Por Acedriana Vicente (*) | 12/01/2017 14:19

Não houve avanços na qualidade da educação básica brasileira, segundo o resultado da avaliação realizada com 70 países, que posicionou o Brasil na constrangedora 65ª posição. Estamos a frente apenas da Argélia, Tunísia, República Dominicana e de duas ex-repúblicas da antiga Iugoslávia, Macedônia e Kosovo.

Os dados são do Pisa, realizado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que avalia, a cada três anos, o que sabem os adolescentes entre 15 e 16 anos, no que diz respeito a leitura, matemática e as ciências.

Essa revelação envergonha e preocupa. Mais de 70% dos estudantes brasileiros não atingiram o nível 2 de ensino, numa escala que vai de 0 a 6. A pesquisa mostra mais uma vez como o país não está fazendo o dever de casa, ao deixar de priorizar a educação, maior alavanca do desenvolvimento humano e, por conseguinte, econômico e social.

Os números negativos, se devidamente mapeados, podem ajudar a lançar luzes sobre como podemos virar o jogo e ainda servir como bússola orientadora do caminho a ser percorrido. Simples? Nenhum pouco, dada a nossa dimensão geográfica de proporções continentais, retalhada por toda a sorte de desigualdades. Mas, não há dúvidas que podemos fazer melhor.

Essa guinada necessita de um movimento da nação que promova um diálogo sério e comprometido com a implementação de mudanças, no menor espaço de tempo possível, envolvendo profissionais da educação e instâncias governamentais de todas as esferas.

Está cada vez mais claro que o professor em sala de aula precisa aperfeiçoar metodologias de ensino para assegurar o direto de aprender. Deve ser capaz de fazer qualquer aluno aprender, potencializando os conhecimentos anteriores e paralelos em favor da construção de sentido e significado para o que se pretende ensinar de novo. Mas, como identificar os espaços de melhoria da atuação docente?

O Programa Descoberta, inspirado em uma iniciativa da Fundação Bill & Melinda Gates que contou com a participação direta de pesquisadores das mais renomadas universidades norte-americanas, como Harvard, Chicago, Stanford, no Brasil capitaneado pelo Grupo Positivo, é uma das inciativas desenhadas para esse fim.

Os professores são avaliados em plena sala de aula por outros professores e pelos próprios alunos. O programa mostra uma relação direta entre a performance dos professores e o rendimento dos estudantes acerca do que se pretende que os alunos aprendam com a intervenção pedagógica.

Os alunos também precisam fazer a sua parte. Precisam se assumir na profissão de estudante. No Brasil, quando se pergunta para dona de casa e estudante, qual a sua profissão, normalmente a resposta é: eu não trabalho! Essa mentalidade atrapalha o empenho e a seriedade que essas funções desempenham na sociedade. As políticas públicas também têm papel fundamental nesse salto qualitativo que precisamos empreender. Revisar a base curricular nacional, sua coerência e coesão com nosso tempo, aproximando o que se pretende ensinar ao dia a dia desse estudante, a fim de que se amplie os horizontes de atuação desses jovens no mundo.

O gosto pela investigação, a curiosidade, são características humanas que devem fertilizar as estratégias para aprender, além de serem cultivadas pelo professor pelo fato de ser a base do pensamento criativo, tão exigido no mundo do trabalho. Não faltam meios para isso, desde o olhar atento do professor à participação de cada um em sala de aula até o incremento de linguagens contemporâneas oferecidas pela tecnologia que aproxima o mundo do estudante ao mundo da escola, fazendo com que ele se sinta considerado no planejamento das aulas.

Para aprender é que necessário querer. Mais do que isso, é necessária coragem! O que move o corpo, antes aquece o coração. O professor, precisa, portanto, tocar esse aluno, entendendo que seu trabalho está a serviço da formação de cidadãos críticos e inovadores. Gente humanizada que pensa e age, integrando conhecimentos em favor de soluções sustentáveis para um mundo melhor.

Sem levar em conta essas premissas, o Pisa parece indicar um cenário desolador, de poucas perspectivas. Mas ainda bem que não é só isso. Como ressaltamos, já existem ações testadas que podem ajudar a mudar o panorama. É um equívoco descartar todas as contribuições que os diferentes tempos da educação nos proporcionaram. Mas, os tempos são outros e exige de todos velocidade, direção e objetivos claros, a partir de diagnósticos como esse.

O desafio começa acreditando que não se pode continuar ensinando da forma como os professores aprenderam. O novo mundo suscita novas formas de interação humana. Isso envolve o engajamento da sala de aula com a era tecnológica, mudanças no cenário educacional, por meio da revisão da base curricular e novas posturas de atuação de professores e estudantes.

É preciso trabalhar sob a seguinte constatação: é preciso reinventar a forma de ensinar para que não se perca o desejo de aprender, sempre mais e melhor sobre o mundo que nos cerca. E, certamente, o ensino tradicional com foco na exposição verbal, lista exercícios, repetição e memorização, não dará conta de garantir a relevância da escola no cenário atual.

(*) Acedriana Vicente é diretora pedagógica da Editora Positivo.

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