Existirá um fim para a covid?
A pandemia tem deixado marcas profundas, desde mudanças repentinas no nosso cotidiano até o luto pela perda dos mais de 5 milhões de vidas ao redor do mundo. Os últimos dois anos impuseram uma nova realidade e a comunidade científica se debruçou de forma coordenada, num empreendimento coletivo inédito, a entender o novo vírus e o cenário pandêmico. Graças a esse esforço, utilizamos tecnologias já bem conhecidas para desenvolver e aplicar imunizantes que mudaram o curso fatal da pandemia, mas a chegada da variante ômicron trouxe à tona o fantasma das ondas anteriores e frustrou quem esperava uma vida mais "normal" no ano de 2022. Será que um dia poderemos superar a covid e voltar ao estilo de vida pré-pandêmico?
Para responder à pergunta, temos que entender como as novas variantes do vírus surgem e o que podemos fazer a respeito. O Sars-CoV-2, vírus causador da covid-19, se reproduz infectando células e sequestrando sua maquinaria molecular para produzir novas cópias de si. Esse processo se repete bilhões de vezes em cada uma dos mais de 300 milhões de pessoas que contraíram o vírus desde os primeiros casos em Wuhan em 2019. Erros são naturais neste processo, e o acúmulo deles cria variantes como a ômicron e pelo menos outras 12 cepas principais identificadas até hoje. Essas variantes podem surgir a qualquer momento e em qualquer lugar do mundo Os testes diagnósticos convencionais não são capazes de distinguir as variantes. O monitoramento e a classificação delas é feito por laboratórios especializados ao redor do mundo, pois são capazes de escanear o código genético viral e comparar com um banco de dados global. Em mais de 200 países e territórios, cientistas fizeram mais de 7 milhões de sequenciamentos na expectativa de registrar o surgimento de nova variante e montar uma resposta coordenada a ela. No Brasil, a Fiocruz e as universidades públicas fazem parte dessa rede de vigilância genômica.
A Organização Mundial da Saúde e a comunidade científica acompanham a evolução do vírus e classificam as variantes de acordo com o risco que representam para a humanidade. São elas: as variantes de interesse, que não apresentam risco imediato para a saúde pública, e as variantes de preocupação, que podem, por exemplo, apresentar transmissibilidade maior ou capacidade de causar quadros graves da doença. Existe ainda uma terceira categoria, as variantes de alta consequência, que poderiam, por exemplo, escapar da imunidade oferecida por vacinas. Não existem linhagens classificadas nessa última categoria até o momento.
A variante ômicron tem grande capacidade de infecção e é uma variante de preocupação. Isso significa que a covid-19 aumentou a eficiência no contágio. A alta transmissibilidade da ômicron tem levado à perda de controle da pandemia e, mais uma vez, observamos aumento brusco no número de casos, levando a uma sobrecarga do sistema de saúde, que não dispõe de infraestrutura e de profissionais para comportar uma demanda tão alta de uma vez só.
(*) Jonas Brant é coordenador da Sala de Situação da UnB e professor do Departamento de Saúde Coletiva. Guilherme Tonelli é líder da equipe de revisões rápidas da Sala de Situação de Saúde da UnB.