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Falta modéstia

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 18/09/2024 13:30

Nos anos 1950, havia uma sensação de que o país iria para frente, mas logo foi murchando e hoje está entorpecido. Desde Cabral esse era o conceito. Intuía-se que havia uma missão elevada, e por mais que fosse atacado e maltratado, o país iria se recuperar e seguir para o futuro que lhe cabe no Universo como lar de seres humanos de boa vontade que se esforçam pelo aprimoramento.  A partir dos anos 1980, arrastando-se frente à dívida externa, o Brasil foi se fragilizando.

O país do futuro foi engessado e sua população, entorpecida. As novas gerações, com liberdade sexual desde a adolescência, parecem ser fruta colhida antes da hora, estão fragilizadas e sem rumo. Planejar a recuperação dos jovens é essencial porque a intuição está engessada e o raciocínio, embotado. O que se pode esperar delas? As nascidas nos últimos 20 anos estão intimamente ligadas aos meios digitais. Quais serão os efeitos sobre o comportamento dessas crianças? Como agirão no futuro?  Com ânimo e coragem, têm de buscar um caminho equilibrado.

Os jovens precisam saber de uma coisa muito importante: o ser humano não é o super-homem. Quando estão no topo, muitas pessoas agem com arrogância, achando que podem tudo. Não querem reconhecer que acima de todo poder atuam as leis universais da Criação, justas e poderosas, e por isso os humanos deveriam baixar a bola e agirem com modéstia e humildade diante da força que deveriam reconhecer, compreender e respeitar para benefício geral, e para o próprio aprimoramento. A ausência da modéstia, o querer impor a sua vontade a qualquer custo, tem provocado conflitos, guerras, nações falidas e incontroláveis reações da natureza.

Não só o Brasil passa por dificuldades, pois toda a América do Sul se mantém no atraso, enfrentando instabilidades financeiras. A julgar pela forma como têm sido governados, pouca coisa boa podemos esperar. Seria lamentável se algum dia os controladores globais dessem um basta ao Estado-nação e seus maiorais, nivelando a população num patamar inferior, sem liberdade até para pensar. A gestão pública precisa de estadistas sérios que queiram governar para o bem geral, e não para capturar o Estado para si. A cegueira não pode continuar. Abra os olhos Brasil!

A instabilidade financeira é um evento prejudicial provocado geralmente pela ganância praticada a qualquer custo. Como denominar de “investidores” as entidades que praticam todo tipo de manobras especulativas? Sempre chegará o momento crítico em que a reação provocada pelas decisões irromperá causando danos gerais. Diante dos números astronômicos em jogo, o que se diz é que será um evento superior a todos os anteriores. De um lado a ganância, e de outro, deixar que as operações financeiras se assemelhem aos cassinos.

A questão da renda obtida com o aproveitamento dos recursos naturais é algo meio rançoso, pois deveria trazer benefícios para a população local, mas o modelo global tem sido perverso com a transferência da renda para grupos controladores do Estado capturado, e para fora da nação. É algo que tem recebido pouca atenção. Cada país precisa oferecer oportunidades de trabalho para que os indivíduos possam ter sobrevivência condigna; na falta disso, criam auxílios, levando a nação a permanecer estagnada e em declínio, e a população também.

Falta modéstia para reconhecer que as leis universais da Criação atuam com severa justiça. Robert D. Kaplan, em seu livro A Mente Trágica, vai até as antigas tragédias gregas para tentar compreender as modernas. Ele destaca que as pessoas temiam os "deuses" e os entes da natureza (Zeus, Apolo e outros) que eram conhecidos por vários povos, mas que recebiam nomes diferentes em cada região. Escreve ele que havia no íntimo dos seres humanos a noção da existência de uma justiça superior, que não deveria ser desafiada com a arrogância e orgulho porque ela traria a colheita trágica. De forma displicente e sem modéstia, o homem moderno pôs isso de lado, mas é provável que esteja semeando a maior de todas as tragédias no planeta.

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP.

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