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O cérebro prefere infernos conhecidos a paraísos desconhecidos

O poder do conforto na zona de conforto

Por Cristiane Lang (*) | 01/09/2024 13:07

Nosso cérebro é uma máquina impressionante, capaz de processar informações complexas e de nos ajudar a tomar decisões em frações de segundo. No entanto, quando se trata de mudanças e de enfrentar o desconhecido, muitas vezes ele opta por permanecer em zonas de conforto, mesmo que estas sejam, por assim dizer, "infernos conhecidos". Esse fenômeno não é simplesmente uma resistência à mudança; é uma função profundamente enraizada em nossa neurologia e psicologia.

O conforto da previsibilidade

A previsibilidade oferece uma sensação de segurança. Quando vivemos em uma situação familiar, mesmo que desconfortável, nosso cérebro sabe o que esperar. As experiências, por mais negativas que sejam, tornam-se previsíveis e, por isso, menos ameaçadoras. Esse mecanismo evolutivo nos protege de perigos desconhecidos, incentivando-nos a manter o status quo.

Por outro lado, o desconhecido representa uma ameaça potencial. O cérebro é programado para identificar e evitar riscos, e o que é desconhecido pode significar perigo. Para nossos ancestrais, essa cautela diante do novo e do desconhecido poderia ser a diferença entre a vida e a morte.

A zona de conforto e a inércia psicológica

A zona de conforto é um estado psicológico onde nos sentimos seguros, com o mínimo de estresse e ansiedade. Dentro dessa zona, nossas atividades e comportamentos se encaixam em padrões e rotinas familiares. Quando estamos nela, o cérebro libera menos cortisol, o hormônio do estresse, e nos sentimos mais relaxados.

Porém, essa sensação de segurança tem um preço. Permanecer na zona de conforto pode levar à estagnação e à inércia. O medo do desconhecido e da mudança pode nos paralisar, impedindo-nos de buscar novas oportunidades, aprender novas habilidades ou evoluir como indivíduos. Preferir "infernos conhecidos" a "paraísos desconhecidos" pode significar optar por uma vida de mediocridade em vez de arriscar o crescimento e o sucesso.

O papel do medo e da ansiedade

Medo e ansiedade desempenham um papel crucial na preferência do cérebro por ambientes familiares. Quando confrontados com o desconhecido, a amígdala — uma parte do cérebro responsável pelas respostas emocionais — entra em ação, desencadeando a resposta de "luta ou fuga". Mesmo que a nova oportunidade pareça promissora, o cérebro pode interpretá-la como uma ameaça potencial, gerando resistência.

Esse medo do desconhecido pode ser tão forte que as pessoas preferem permanecer em situações dolorosas, como empregos que detestam ou relacionamentos tóxicos, do que correr o risco de buscar algo melhor. A ansiedade antecipatória de enfrentar o desconhecido pode ser mais debilitante do que a dor de suportar a situação atual.

Como superar o medo do desconhecido

Reconhecer essa tendência natural do cérebro é o primeiro passo para superá-la. Embora o cérebro prefira ambientes familiares, é possível treiná-lo para se sentir mais confortável com o desconhecido. Algumas estratégias incluem:

    1.    Exposição Gradual: Comece a explorar o desconhecido em pequenas doses. Quanto mais você se expõe a novas experiências, menos ameaçadoras elas se tornam.

    2.    Reenquadramento Cognitivo: Tente mudar a maneira como você percebe o desconhecido. Em vez de vê-lo como uma ameaça, enxergue-o como uma oportunidade para crescer e aprender.

    3.    Estabelecimento de Objetivos: Defina metas claras para si mesmo e trabalhe em direção a elas, mesmo que isso signifique sair da sua zona de conforto. A sensação de realização pode ajudar a diminuir o medo do desconhecido.

    4.    Apoio Social: Ter uma rede de apoio pode tornar a transição para o desconhecido menos assustadora. Compartilhar suas experiências e medos com outras pessoas pode proporcionar conforto e motivação.

O cérebro humano é um instrumento poderoso, mas também está sujeito a suas próprias limitações. A preferência por "infernos conhecidos" em detrimento de "paraísos desconhecidos" é uma dessas limitações, enraizada no desejo de segurança e previsibilidade. No entanto, para crescer e realizar o nosso potencial, precisamos estar dispostos a desafiar essa tendência natural e a abraçar o desconhecido. Afinal, é fora da zona de conforto que ocorrem as maiores transformações e onde os verdadeiros paraísos podem ser encontrados.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica.   

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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