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O meme do ódio venceu?

Gustavo Luiz Gava e Antonio Djalma Braga Junior (*) | 02/12/2020 08:04

Ao olharmos o cenário mundial, podemos perceber como as narrativas extremistas propagadoras da intolerância estão, infelizmente, em ebulição. Ao ligarmos a televisão, ou percorrermos nossa timeline nas redes sociais, literalmente vemos o mundo pegando fogo. No Brasil, não é diferente! A narrativa do ódio está inflada. Nos últimos anos, parece que a sociedade brasileira se transformou "da água para o vinho". O que aconteceu com aquele famoso ditado popular de que “o brasileiro é alegre, cordial e receptivo”?

Será que toda essa transformação comportamental, de um povo que era mundialmente conhecido pela sua empatia, se transformou única e exclusivamente pelos chavões: "Comunista!", "Esquerdista!", "Vai para Cuba!", "Mito!", "Petralha!", "Bandido bom, é bandido morto!"? Por detrás dessas palavras ou frases de efeito, encontramos a natureza mais primitiva do ser humano que bate à nossa porta. O meme do ódio. E, dentro desse mesmo pacote memético emocional, há a intolerância recheada pelo puro sentimento de eliminar o outro.

Conquistamos o espaço, chegamos à Lua e revolucionamos tecnologicamente o estudo do microcosmo por meio da física quântica. Mas, para quê? Ideias tão modernas que ainda parecem presas nas cavernas quando nos deparamos com as manchetes dos jornais, uma vez que diariamente evidenciam o racismo e tantos outros tipos de ódio ao próximo.

Os memes de intolerância religiosa, gênero e política surfam nas ondas das inúmeras redes sociais. A vida em sociedade passou a ser definida por bolhas ideológicas. Memes que invadem o WhatsApp, o Facebook, o Instagram, o Twitter etc., e, depois, infectam nossos cérebros. É dessa mesma forma subliminar, às vezes “inocente”, que essas ideias tão rudimentares transitam pelo fluxo informacional cada vez mais veloz das redes que moldam as nossas mentes. Resultado da ausência de uma reflexão por parte das pessoas que estão conectadas e se encontram em estado de catarse virtual.

Esse fenômeno dos memes já foi estudado e divulgado pelo cientista Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, em meados da década de 1976. A teoria ficou mundialmente conhecida pelo chamado “DNA” das ideias. Ou seja, uma teoria cunhada pelo cientista para explicar como as ideias ganham vida própria em nossas mentes e cérebros. Mas, quem diria que em pleno século XXI, estaríamos vivendo uma eclosão tão avassaladora dos memes do ódio no ciberespaço... memes que estão prontos e estruturados circulando pelas redes sociais. E que muitas pessoas simplesmente passam para frente como uma infecção viral. Isso é pior e mais contagioso do que uma gripe. Um prato cheio para o famoso senso comum.

As pessoas não sabem mais o porquê odeiam. Por exemplo, um vídeo que circula nos grupos do whatsapp promovendo o ódio pode simplesmente contaminar a mente de uma pessoa que, sem checar as fontes ou a veracidade da informação, passa a incorporar e enxergar o mundo pautado em uma ideia infectada pela falsidade midiática desse mesmo material. É como se a pessoa sofresse de um assalto catabólico, se transformando instintivamente em um zumbi da repugnância da vida alheia.

Diante de tamanha contaminação causada pelo meme do ódio e suas intermináveis mutações, existiria uma espécie de vacina capaz de curar a humanidade que, a passos largos, está sendo devastada pelas transmissões desenfreadas das redes sociais? Acreditamos que o melhor remédio é a receita de Jesus, ou seja, o amor ao próximo.

Como seria possível resgatarmos a fórmula de Jesus para que, novamente na história da humanidade, pudéssemos curar as pessoas contaminadas? Talvez o pensador jesuíta Teilhard de Chardin tenha deixado a receita pronta: é a energia crística. Para Chardin, o amor é uma energia que reside no universo e é capaz de purificar a consciência humana. Nos fornece luz, sabedoria e amor. Quem sabe essa energia seja o remédio que tanto precisamos para entender que o meme da cura “É SÓ O AMOR”. Meme esse, que circula em 1 Coríntios 13:1-13, ou na música Monte Castelo, da Legião Urbana, composta por Renato Russo. Qual meme você escolhe? A cura está aí! E é só o amor...


(*) Gustavo Luiz Gava é filósofo e doutor em Filosofia da Mente e Antonio Djalma Braga Junior é filósofo, historiador e doutor em Filosofia

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