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O oposto dos gatilhos

Por Cristiane Lang (*) | 30/09/2024 08:30

Nos últimos anos, o conceito de "gatilhos" tornou-se parte do vocabulário cotidiano, especialmente em conversas sobre saúde mental. Gatilhos são estímulos que nos remetem a experiências traumáticas ou estressantes, trazendo à tona sentimentos de angústia e ansiedade. Embora seja importante reconhecê-los e saber lidar com eles, existe uma outra face dessa moeda que merece igual atenção: os “glimmers”.

O que são “Glimmers”?

Glimmers são pequenos momentos de alegria, segurança e conexão que, embora sutis, têm o poder de nos reconectar com o lado positivo da vida. Enquanto os gatilhos podem nos derrubar para um estado de ansiedade ou tristeza, os glimmers nos elevam, promovendo bem-estar e tranquilidade. São aqueles segundos em que, mesmo em meio ao caos, sentimos uma breve e revigorante sensação de calma ou felicidade.

Esses momentos podem ser qualquer coisa que desperte uma sensação positiva: o cheiro de um café fresco pela manhã, o calor do sol na pele, uma risada espontânea com um amigo, o som relaxante da chuva ou até mesmo uma memória agradável que vem à mente sem aviso prévio. Glimmers são lembretes de que, apesar dos desafios, a vida também é feita de pequenos prazeres.

A ciência por trás dos “Glimmers”

O conceito de “glimmers” foi introduzido pela terapeuta Deb Dana, que se baseia na Teoria Polivagal de Stephen Porges. Segundo essa teoria, nosso sistema nervoso está constantemente em busca de sinais de segurança e perigo. Os “glimmers” são percebidos quando estamos em um estado de segurança relativa, o que nos permite notar e absorver essas pequenas experiências positivas.

Esses momentos de bem-estar ativam o sistema nervoso parassimpático, ajudando a reduzir os níveis de estresse e a promover uma sensação de relaxamento e conexão. Em contraste com os gatilhos, que acionam a resposta de luta ou fuga, os “glimmers” nos ancoram em um estado de equilíbrio emocional.

Como reconhecer e cultivar “Glimmers”

Na correria do dia a dia, muitas vezes não percebemos os “glimmers”, pois tendemos a focar mais no que é negativo ou ameaçador. A boa notícia é que podemos treinar nossa mente para identificá-los e, assim, aumentar nossa resiliência emocional. Aqui estão algumas práticas que podem ajudar:

    1.    Atenção Plena (Mindfulness): Praticar a atenção plena nos ajuda a estar presentes no momento e a reconhecer os “glimmers” que, de outra forma, passariam despercebidos. Pode ser tão simples quanto parar por um instante e observar algo bonito ao nosso redor.

    2.    Gratidão: Manter um diário de gratidão, onde você anota pequenas coisas que trouxeram alegria ao seu dia, é uma ótima maneira de treinar seu cérebro para notar os “glimmers”. Focar no que temos de bom nos ajuda a balancear a tendência a fixar nas dificuldades.

    3.    Conexão com a Natureza: Passar um tempo ao ar livre, observando a beleza do ambiente, pode trazer inúmeros “glimmers”. O canto dos pássaros, a brisa suave, o cheiro das flores — tudo isso pode ser fonte de momentos revigorantes.

    4.    Interações Positivas: Valorizar pequenas interações sociais positivas, como um sorriso de um estranho, uma conversa leve ou um elogio inesperado, é uma forma de cultivar “glimmers” em nosso cotidiano.

    5.    Auto-compaixão: Reconhecer e valorizar as próprias conquistas, mesmo que pequenas, é essencial. Permitir-se sentir orgulho de si mesmo é um poderoso “glimmer” que pode melhorar nossa autoestima e bem-estar.

A importância dos “Glimmers” na saúde mental

Estar atento aos “glimmers” não significa ignorar os problemas ou evitar os gatilhos. É sobre encontrar equilíbrio e cultivar uma perspectiva mais ampla, que inclua tanto os desafios quanto as pequenas alegrias. Reconhecer esses momentos de bem-estar pode não só ajudar a aliviar o estresse, mas também aumentar nossa capacidade de lidar com as dificuldades.

Além disso, ao treinar nosso cérebro para focar nos “glimmers”, criamos uma “almofada emocional” que nos sustenta em tempos difíceis. Em vez de sermos absorvidos pelas experiências negativas, começamos a notar que há pequenas fontes de prazer e segurança à nossa volta, prontas para serem apreciadas.

“Glimmers” são pequenos raios de luz que nos lembram da beleza e do bem-estar, mesmo nas situações mais desafiadoras. Assim como os gatilhos nos alertam sobre o que precisamos evitar ou lidar, os “glimmers” nos mostram onde podemos encontrar conforto e alegria. Cultivá-los é um ato de autocuidado, uma maneira de nutrir nossa saúde mental e emocional.

Portanto, da próxima vez que sentir um momento de paz, segurança ou felicidade, pare um instante e aprecie. Você acaba de encontrar um “glimmer”.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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