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O que não se fala sobre suicídio: uma reflexão necessária

Por Cristiane Lang (*) | 02/09/2024 08:15

O suicídio é um tema complexo e doloroso, cercado de estigmas e mal-entendidos que muitas vezes tornam a discussão sobre o assunto difícil e insuficiente. No entanto, há aspectos cruciais sobre o suicídio que raramente são abordados, e que precisam ser discutidos para que possamos ter uma compreensão mais profunda e eficaz sobre o tema.

O silêncio dos sobreviventes

Pouco se fala sobre as pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio. Essas pessoas muitas vezes enfrentam um novo tipo de luta: a vergonha, o estigma e o julgamento. Há uma tendência em nossa sociedade de ver essas pessoas como frágeis ou problemáticas, sem entender que sobreviver a um momento tão crítico pode ser um ponto de inflexão para mudanças significativas em suas vidas. Eles necessitam de apoio e compreensão, não de mais julgamento.

A complexidade das causas

Há uma visão simplista de que o suicídio é causado exclusivamente pela depressão, quando, na realidade, as causas são multifatoriais. Problemas financeiros, traumas de infância, abuso, transtornos de personalidade, crises existenciais e pressões sociais também são fatores que podem levar alguém ao suicídio. Cada caso é único, e reduzir o problema a uma única causa pode impedir intervenções eficazes.

A romantização do suicídio

Em algumas culturas e meios de comunicação, o suicídio é às vezes romantizado, retratado como uma "solução" trágica, mas poética, para problemas complexos. Essa visão, que pode ser especialmente prejudicial para adolescentes e jovens adultos, ignora a dor e o sofrimento que a decisão de tirar a própria vida deixa para trás, tanto para a própria pessoa quanto para os entes queridos. É preciso um esforço consciente para desromantizar o suicídio e focar na prevenção e no apoio.

O impacto no ambiente de trabalho

O suicídio também é um tema pouco discutido no contexto corporativo. A pressão por resultados, o assédio moral, a falta de apoio psicológico e a cultura de excessivo trabalho podem contribuir para o desespero de um funcionário. Empresas precisam entender que a saúde mental é tão importante quanto a física e criar ambientes de trabalho mais saudáveis, com apoio psicológico acessível.

A falha dos sistemas de apoio

Sistemas de saúde mental em muitos países estão subfinanciados e mal preparados para lidar com crises suicidas. As longas filas de espera, a falta de profissionais capacitados e a estigmatização dos pacientes com transtornos mentais resultam em um suporte inadequado para aqueles que estão em risco. Além disso, muitas vezes, a ajuda só é procurada quando a pessoa já está em uma situação extrema, quando o ideal seria o apoio contínuo e preventivo.

O luto complicado dos sobreviventes

Famílias e amigos que perderam alguém por suicídio enfrentam um tipo de luto especialmente difícil. O sentimento de culpa, a vergonha e as perguntas sem resposta podem tornar o processo de luto ainda mais doloroso. Essas pessoas precisam de apoio especializado e de um espaço onde possam expressar suas emoções sem medo de julgamento.

A necessidade de educação e diálogo

A prevenção ao suicídio começa com a educação. Falar abertamente sobre saúde mental, sinais de alerta e onde buscar ajuda pode salvar vidas. É essencial que tanto as escolas quanto os locais de trabalho implementem programas de conscientização e que o tema seja discutido de maneira aberta e sem tabus.

Falar sobre suicídio de maneira aberta e sem tabus é um passo crucial para a prevenção. Quando ignoramos ou simplificamos as causas e consequências, deixamos de oferecer o apoio necessário a quem mais precisa. É fundamental que enfrentemos os estigmas, entendamos as complexidades envolvidas e proporcionemos um ambiente de diálogo e educação. Ao acolhermos os sobreviventes, apoiarmos as famílias em luto e promovermos uma cultura de saúde mental nos diversos contextos da vida, podemos transformar a forma como lidamos com essa questão tão delicada. A prevenção ao suicídio começa com a conscientização, mas só será eficaz se for acompanhada de empatia e ação concreta.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica.   

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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