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Operação Ágata, por Heitor Freire

Por Heitor Freire (*) | 26/09/2011 10:11

Nós estamos vivendo tempos de guerrilha urbana nos grandes centros do nosso país. O crime dito “organizado” e que é organizado mesmo está dando de dez a zero em nossas autoridades.

Os mais elementares códigos de estratégias militares ensinam claramente que as operações devem ser muito bem estudadas, preparadas, treinadas e basicamente não serem divulgadas, que sejam secretas. Elas não podem ser divulgadas sob pena de passar para os inimigos toda a inteligência que foi preparada para enfrentá-los.

Quando foi anunciada a Operação Ágata, que envolve nada menos do que o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, a Policia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Militar, com a participação da Agência Brasileira de Inteligência, Abin, o Ibama e a Secretaria Estadual de Justiça, a Receita Federal e a Força Nacional de Segurança, o general Valério Stunff Trindade, com a presença dos representantes das forças acima mencionadas, detalhou para a imprensa todo o plano, quais equipamentos serão utilizados, quantos homens do exército, quantos da marinha, quantos da aeronáutica, ou seja, entregou todo o ouro aos bandidos.

Eu não consigo entender o que motiva as nossas autoridades a divulgar tudo o que se está preparando para enfrentar o crime organizado.

Só para efeito de comparação imaginem o que aconteceria com as forças aliadas no desembarque na Normandia na Segunda Guerra Mundial se o general Eisenhower, comandante supremo das forças aliadas, resolvesse dar uma coletiva informando e detalhando toda a operação que seria deflagrada.

Morreriam todos na praia. Essa operação denominada Operação Overlord, envolveu inicialmente, 155 mil homens que desembarcaram nas praias da Normandia, debaixo do maior quieto. Os homens souberam entender a importância de manter em segredo toda a movimentação para que a operação fosse coroada de êxito.

Estratégia deriva do grego strategía: que é a arte militar de planejar e executar movimentos e operações de tropas. A estratégia era vista como a arte do general. A estratégia militar lida com o planejamento e a condução de campanhas, o movimento e a divisão de forças, e a burla do inimigo. O que não se está cumprindo nesta operação.

A Arte da Guerra de Sun Tzu, entre outros temas, trata da formação, uma das questões mais importantes da estratégia e do combate. Numa postura caracteristicamente taoísta, Sun Tzu declara que o segredo para a vitória são a adaptabilidade e a inescrutabilidade. Como o comentador Du Mu explica: "A condição interior do informe é inescrutável, enquanto que a daqueles que adotaram uma forma específica é claramente manifesta.

O inescrutável vence, o manifesto perde." Neste contexto, a inescrutabilidade não é meramente passiva, não significa apenas afastar-se ou esconder-se dos outros; significa, sim, a percepção do que é invisível aos olhos dos outros e a reação a possibilidades ainda não percebidas por aqueles que só observam o manifesto. Discernindo oportunidades antes que sejam visíveis aos outros e agindo com rapidez, o misterioso guerreiro pode tomar conta da situação antes que as coisas se escoem por entre os dedos.

O rei Salomão, há 2.900 anos, com muita sabedoria ensinou no Livro dos Provérbios, capítulo 1, versículo 17: “Não adianta armar o alçapão, quando o passarinho está olhando”.

Naturalmente uma operação dessa natureza, como a Operação Ágata, com a finalidade de combater e vencer o crime organizado, é muito bem vinda. É necessária e útil. Mas com o estardalhaço da sua divulgação, vejo que todo o seu objetivo pode ficar comprometido, o que se confirma pelo resultado pífio da operação até agora. Espero que nas próximas operações as nossas autoridades ajam da forma preconizada pelos manuais e orientações específicas da matéria.

O combate ao crime é uma prioridade absoluta. Não se pode permanecer mais de braços cruzados ante tanta ousadia dos bandidos. O princípio da estratégia militar é manter segredo até que seja tarde para o oponente reagir. O segredo é uma informação valiosa, que se for tornada pública, pode comprometer o sucesso da operação. O elemento surpresa é fundamental.

Podemos citar como exemplo as operações da Polícia Federal, que só são anunciadas depois de tomar todas as providências: quando os bandidos acordam já estão algemados.

Proponho que, de agora em diante, seja esse o procedimento adotado, para o sucesso dessas operações.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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