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Políticas públicas aos/às indígenas em Campo Grande

Por Kleber Gomes (*) | 28/05/2024 08:30

Os/as indígenas em contexto urbano do município de Campo Grande reivindicam políticas públicas específicas para si junto ao poder público municipal local. A presença marcante nossa em solo campo-grandense é fato incontestável e que deveria acelerar esse importante processo aos povos originários  nesta cidade. Os desafios que vivenciamos são enormes e os mais variados.

Somos quase trinta comunidades em Campo Grande. Uma população próxima dos vinte mil indígenas que, a cada dia, expressa suas lutas e pedidos por melhorias em vários aspectos, com base nos direitos que possuímos na forma constitucional. Portanto, tratam-se de direitos sim a serem exigidos e, ao final, respeitados.

Ao conhecermos de perto como têm sido nossas experiências na cidade de Campo Grande, há uma demanda gritante com relação à habitação. As políticas públicas municipais precisam estar voltadas a esse quesito. Não podemos mais ficar apenas nas periferias, em habitações inseguras e insalubres, precisamos da dignidade que merecemos também neste aspecto. Cobramos já, por exemplo, a criação da primeira aldeia urbana ao povo Kadiwéu, povo guerreiro e pujante que chegou há aproximadamente três décadas a Campo Grande e que, hoje, vive com extremas dificuldades, em sua maioria, no pagamento a aluguéis para suas moradias.

Há poucos dias entregamos ao poder executivo municipal o pedido de nossa primeira Escola Indígena. O número considerável de estudantes na redes municipal e estadual exige de forma urgente a implantação dessa Escola. Por nossa cultura, nossa história e identidade, aguardamos para breve o atendimento a essa importante solicitação.

No quesito saúde, pela melhoria nos atendimentos aos/às nossas parentes, necessária é uma ação conjunta entre os governos federal, estadual e municipal, para que nós indígenas em contexto urbano também sejamos considerados/as na entrega dos serviços em saúde pública como indígenas verdadeiros/as, tais quais são tratados/as os/as nossos/as parentes inseridos/as nos ambientes dos nossos territórios de origem.

Quando pensamos na geração de renda e nos postos de trabalho para nossos/as irmãos/as indígenas, temos nos preocupado com a dura realidade dos empregos sucateados que nos são entregues quando aqui chegamos nos centros urbanos. Uma política pública que entendemos ser muito importante é o aumentos no quantitativo de vagas nas cotas de concursos públicos e seletivas em Campo Grande, para o qual um importante projeto de lei já corre nos bastidores da Câmara Municipal, este que pede o aumento dos atuais 5% para 10% das vagas totais desses certames aos/às candidatos/as indígenas. A aprovação desta Lei será um ganho e tanto para nossos povos.

Não abrimos mão também da atenção específica a nossos/as parentes que devam ser foco de ações públicas na área da segurança alimentar. Ainda há a desafiante realidade vivenciada por muitos/as de nós nas cidades com relação à ausência do alimento à mesa. Essa impactante experiência que inúmeras famílias indígenas enfrentam pede uma atenção estratégica e pontual da parte do poder público. As políticas públicas direcionadas ao bem viver dos povos indígenas em contexto urbano de Campo Grande tornam-se, assim, cada vez mais urgentes dia após dia.

Entendemos ser muito amplo o debate e a discussão quando colocadas à mesa as indagações por quais políticas públicas poderíamos ser da melhor forma atendidos/as e de uma forma mais rápida possível. Para breve e sem mais delongas por parte de nossos/as governantes, cremos que aquilo que foi enumerado acima deve imediatamente ser trabalhado pela administração pública, para que tenhamos o básico atendido a nós, sendo outras ações a serem pensadas, construídas e, por fim, executadas em outros momentos a médio e longo prazos. Para já se fazem necessárias e urgentes as devolutivas dos agentes públicos relacionadas ao que já temos reivindicado com mais intensidade, políticas públicas nas áreas de habitação, saúde, educação, geração de renda e segurança alimentar.

Que hajam ouvidos e ações concretas relacionadas a tudo aquilo que temos buscado junto às autoridades políticas desta cidade. Em tempo, reiteramos de forma bem expressiva que não iremos nos contentar com migalhas ou sobras. Não precisamos disso e nem aceitaremos tais ofertas travestidas de bondade para conosco. Batalharemos sim pela excelência em todos os retornos do poder público até nós.

(*) Kleber Gomes é indígena terena, professor da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande e mestrando no ProfHistória da UEMS.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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