Por que agridem tanto nossas escolas e universidades públicas?
Não há nenhum lugar mais calmo, mais saudável e que ofereça acolhimento e oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal para crianças e jovens do que as instituições educacionais.
Nenhum outro ambiente com igual quantidade de pessoas nas mesmas faixas etárias é tão seguro quanto as escolas e universidades.
O que mais se vê nas universidades são salas de aula ocupadas, espaços de estudos sendo usados, salas com seminários, grupos de pessoas estudando, laboratórios ocupados por estudantes, pesquisadores e técnicos.
Nas escolas de educação básica ocorre coisa semelhante: as crianças e os jovens estão praticamente todo o tempo em atividades escolares, estudando as disciplinas típicas de seus níveis educacionais, como matemática, ciências, línguas, história, artes, filosofia, geografia, entre outras.
Apesar disso, o sistema educacional é sistematicamente agredido, em uma tentativa de desqualificá-lo junto àquelas pessoas que desconhecem seu funcionamento e sua relevância. Exemplos disso são muitos. Há não muito tempo, um ministro da Educação se referiu às universidades como sendo um ambiente de balbúrdia.
Grupos extremados alimentam seus artigos e os editoriais de seus meios de comunicação com fantasmas em todos os lugares, especialmente nas escolas, imaginando que as pessoas estão ensinando coisas inimagináveis. O objetivo parece claro: construir uma imagem falsa do ambiente educacional.
Essas acusações dão base a outro tipo de agressão. Há movimentos negacionistas, contra o conhecimento e a ciência que defendem o terraplanismo, teorias de conspiração, movimentos antivacina e o ensino de dogmas religiosos nas escolas. Isso acaba transformando o ambiente escolar em um campo de batalha da guerra cultural.
Evidentemente, pode haver pontos a serem discutidos sobre muitos assuntos relacionados ao desenvolvimento científico e sobre questões ligadas às escolas e ao sistema de ensino. Entretanto, é essencial tanto defender o sistema educacional e científico e reconhecer a importância de seus trabalhadores quanto saber separar as discussões sérias e relevantes daquelas que são apenas truques, armadilhas e provocações que nos fazem desperdiçar tempo e esforço.
Essas agressões se somam ainda às agressões motivadas por interesses econômicos que pretendem transformar em mercadorias coisas de interesse coletivo e direitos individuais, substituindo o setor público por atividades privadas, apesar da superioridade do primeiro: quando o setor público e o setor privado fazem a mesma atividade e com o mesmo orçamento, a superioridade do setor público é marcante. Os exemplos na educação e na saúde são bem claros. Cursos equivalentes, com a mesma qualidade, oferecidos pelo setor privado custam mais caro do que os oferecidos pelo setor público.
No caso do ensino superior, os exemplos são bem conhecidos. Na saúde, ocorre o mesmo. Os gastos totais do SUS – da União, dos Estados e dos municípios – correspondem a menos do que 200 reais por pessoa por mês. Nenhum setor privado conseguiria fazer as mesmas atividades com tão poucos recursos.
Além da questão meramente financeira, o setor público pode exercer suas funções e atividades onde são mais necessárias, coisa impossível ao setor privado: este só pode exercer suas atividades onde há clientes com recursos para pagar por elas.
Essas agressões, a guerra cultural e a pressão dos interesses econômicos não ocorrem apenas no Brasil. Muitos países sofrem os mesmos tipos de ataque a seus sistemas educacionais. Não há dúvidas, portanto, quanto à necessidade de insistir na relevância dos setores educacional, científico e cultural e na importância de seus trabalhadores, fundamentais para a conquista da emancipação pessoal e do País.
É necessário também insistir no fato de que tais atividades devem ser exercidas pelo setor público, o único que, além da maior eficiência, permite a possibilidade de participação efetiva da população.
Existem pontos referentes a nossas escolas e universidades a serem estudados e discutidos. Mas não podemos deixar que isso seja usado por grupos e pessoas que têm como objetivo desmontar essas instituições ou transformá-las em meros instrumentos de ganhos financeiros.
(*) Otaviano Helene é professor do Instituto de Física da USP.