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Qualidade do leite rastreada

Por Paulo Martins (*) | 27/06/2016 17:34

Quando o assunto é leite, não há consenso. Até mesmo quando se trata de homenageá-lo. No dia primeiro de junho comemora-se o Dia Mundial do Leite. Já o dia 24 é o Dia Internacional do Leite. Por que duas datas? Não sei... Mas, no Dia Mundial, proferi palestra na Câmara dos Deputados, em Brasília, em evento organizado pela Associação G100. No dia Internacional pretendo estar em Ijuí, Rio Grande do Sul, saindo de Chapecó, Santa Catarina, para também proferir palestra, a convide do Sindilat - RS. Nos dois casos, o assunto é o mesmo: o SIMQL. Mas, o que é o SIMQL?

A amostra de leite de uma propriedade todo mês é encaminhada para um dos dez laboratórios credenciados pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), com o objetivo de avaliar a qualidade e, por consequência, definir o adicional a ser incorporado no preço a ser pago. Todavia, a utilidade desta amostra vai muito mais além de formar preço. Se agrupados os dados, é possível monitorar a qualidade do leite brasileiro. Isso, todavia, não acontece facilmente. Ou não acontecia, até agora.

O Sistema de Monitoramento da Qualidade do Leite Brasileiro – SIMQL é uma ferramenta inovadora, que permite conhecer a qualidade do leite de diferentes formas, sob as óticas espacial, temporal e temática. Em termos espaciais, é possível fazer um zoom nos dados e ir da macrorregião até ao município, considerando as variáveis que traduzem a qualidade do leite: CTB – Contagem Total de Bactérias, CCS – Contagem de Células Somáticas, Teor de Gordura, Teor de Proteína, Lactose, Extrato Seco e Extrato Seco Desengordurado. É possível comparar regiões entre si ou aferir o comportamento destas sete variáveis ao longo de anos ou de meses. Também é possível monitorar a qualidade do leite entregue em cada um dos entrepostos ou unidades fabris, que tenham a certificação do Serviço de Inspeção Federal - SIF, em todo o Brasil.

Este é o primeiro software do setor lácteo, concebido em BI – Business Intelligente, que permite a interação amigável entre variáveis escolhidas, mesmo que o usuário nada saiba sobre programação de computadores. Por outro lado, coloca o nosso setor em ambiente de BIG DATA, que significa analisar em segundos um montante imenso de dados, impossível para o cérebro humano. Pois, o SIMQL faz isso em questão de milésimos de segundos, baseado num banco de dados que já ultrapassou a 50 milhões de registros. Participaram desta construção os secretários e suas equipes da Secretaria da Defesa Agropecuária e da Secretaria da Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo, além da equipe de Tecnologia de Informação e de Planejamento Estratégico do MAPA. Pela Embrapa, a equipe do Departamento de Tecnologia de Informação e um conjunto grande de colegas da Embrapa Gado de Leite também estiveram diretamente envolvidos.

É preciso fazer dois registros. O primeiro é o valor do planejamento. Apesar da ansiedade, dominamos a vontade que nos impulsionava a querer agir, de imediato. A estratégia de dispender dois meses no planejamento foi fundamental para a qualidade e velocidade dos resultados alcançados. Todos os imprevistos que ocorreram foram surpreendentemente previstos pela equipe e tínhamos para todas as situações o plano "b" pensado. Do repasse de recursos até à entrega da ferramenta foram apenas sete meses – um recorde, em termos de execução, seja no setor público ou privado.

O segundo registro é de justiça histórica. Em 1996, o Brasil bateu recorde na importação de lácteos. Naquele ano, importamos US$ 600 milhões em leite e derivados. Esse fato fez acender a luz vermelha. Aumentar a produção de leite passou a ser objetivo perseguido pelos setores público e privado. Pois bem! Enquanto a palavra de ordem era quantidade, a equipe de pesquisadores em qualidade da Embrapa Gado de Leite, liderada pelo pesquisador Dr. José Renaldi, iniciava as primeiras ações voltadas para formulação de políticas públicas focadas em Qualidade.

O Dr. José Renaldi, hoje aposentado, e todos os que nestes vinte anos participaram da equipe voltada à qualidade de leite, cumpriram a mais difícil das missões. No início, há vinte anos, eles pregaram no deserto. Tiveram a sabedoria de gradativamente doutrinar o setor e, colocaram a questão da qualidade na ordem do dia. Agindo assim, mostraram que ser pesquisador da Embrapa é muito mais que se restringir a publicar trabalhos científicos. Foi por isso que a Embrapa foi criada. O pesquisador da Embrapa precisa interagir e interferir na realidade.

O pioneirismo do Dr. Renaldi e equipe da Embrapa Gado de Leite gerou o ambiente para que surgissem RBQL, CBQL, IN51 e IN62, essas siglas que aparecem a todo momento diante dos nossos olhos, quando o assunto é qualidade do leite. É preciso olhar o futuro e saber posicionar-se no presente. Também é preciso reverenciar o passado, que moldou o presente. Por isso que registramos que o SIMQL começou a ser construído há vinte anos, em 1996, com as primeiras ações lideradas pelo do Dr. Renaldi Brito!

(*) Paulo Martins é chefe geral da Embrapa Gado de Leite

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