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Quem vai cuidar de mim quando eu envelhecer? A maternidade motivada pelo medo

Por Cristiane Lang (*) | 11/09/2024 13:30

A decisão de ter filhos é uma das mais importantes e significativas na vida de uma pessoa. Enquanto alguns são movidos pelo desejo de criar uma família, outros podem sentir uma pressão ou medo relacionado à solidão na velhice. Essa preocupação muitas vezes leva à pergunta: "Quem vai cuidar de mim quando eu envelhecer?" Esse questionamento, quando levado ao extremo, pode influenciar a decisão de ter filhos, transformando a maternidade ou paternidade em uma medida preventiva contra a solidão e a vulnerabilidade da terceira idade.

A maternidade motivada pelo medo

A ideia de ter filhos para garantir cuidados na velhice pode surgir do medo de enfrentar a última fase da vida sem apoio. Em muitas culturas, é comum que os filhos assumam o papel de cuidadores dos pais idosos, o que pode reforçar a percepção de que ter filhos é uma "garantia" para o futuro. No entanto, essa motivação pode ser problemática, tanto para os pais quanto para os filhos.

Ter filhos por medo da solidão pode criar uma expectativa implícita de que esses filhos assumam responsabilidades específicas no futuro. Essa dinâmica pode gerar sentimentos de obrigação e, eventualmente, levar a ressentimentos. Além disso, a realidade é que não há garantias de que os filhos, mesmo que desejem, estarão em condições de cuidar dos pais idosos. A vida é incerta, e muitas variáveis podem interferir, como a distância geográfica, as próprias necessidades dos filhos ou até mesmo conflitos interpessoais.

A pressão social e as expectativas familiares

Em muitas sociedades, especialmente em culturas mais tradicionais, a pressão para ter filhos como uma forma de garantir apoio na velhice é uma realidade. As expectativas familiares e sociais podem influenciar decisões que, idealmente, deveriam ser baseadas em um desejo genuíno de ser pai ou mãe. No entanto, a maternidade ou paternidade movida pelo medo de envelhecer sozinho pode não proporcionar a realização pessoal esperada e pode até mesmo gerar um ciclo de frustrações.

A responsabilidade de criar um filho

Criar um filho envolve muito mais do que garantir cuidados na velhice. É um compromisso de amor, dedicação, tempo e recursos que se estende por toda a vida. Quando a motivação para ter filhos está enraizada no medo, pode-se perder de vista o verdadeiro propósito da paternidade: nutrir e educar uma nova vida, ajudando-a a se desenvolver e florescer. Filhos são indivíduos com suas próprias vidas e desejos, e não devem ser vistos como uma solução para os medos e inseguranças dos pais.

Alternativas para o medo da solidão

Envelhecer pode ser uma perspectiva assustadora, especialmente em um mundo onde as conexões sociais estão cada vez mais fragmentadas. No entanto, existem maneiras de mitigar o medo da solidão sem recorrer à maternidade ou paternidade como uma solução. Cultivar amizades profundas, participar de comunidades ativas, investir em saúde e bem-estar e planejar financeiramente para o futuro são estratégias importantes para construir uma rede de apoio sólida.

Além disso, é essencial reconhecer que o apoio na velhice não precisa vir exclusivamente da família biológica. Existem inúmeras formas de construir uma rede de cuidados e companheirismo, como criar laços com vizinhos, participar de grupos de apoio ou até mesmo considerar alternativas como morar em comunidades de idosos que oferecem suporte e interação social.

A pergunta "Quem vai cuidar de mim quando eu envelhecer?" é válida e importante, mas não deve ser a única força motriz para a decisão de ter filhos. A maternidade e a paternidade devem ser baseadas em um desejo sincero de criar e amar uma nova vida, e não como uma resposta ao medo da solidão. Envelhecer com dignidade, rodeado de amor e apoio, é um desejo universal, mas isso pode ser alcançado de várias maneiras, muitas das quais não dependem da criação de uma família tradicional.

É fundamental que as decisões sobre ter filhos sejam tomadas com plena consciência das responsabilidades e das implicações emocionais envolvidas. Buscar apoio, refletir sobre as motivações pessoais e considerar todas as alternativas disponíveis são passos essenciais para tomar uma decisão que seja verdadeiramente alinhada com os próprios valores e desejos de vida.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.

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