Saia de cima do muro: a importância de tomar partido e assumir uma posição
Vivemos em um mundo onde as opiniões e os posicionamentos parecem se multiplicar a cada instante, especialmente com a facilidade proporcionada pelas redes sociais. No entanto, mesmo com tanta informação disponível, muitas pessoas preferem não se envolver em debates, evitam tomar partido e permanecem "em cima do muro" diante de questões importantes. Essa neutralidade pode ser vista como uma forma de evitar conflitos, mas, em muitos casos, ela representa a ausência de uma postura consciente e engajada. Afinal, por que é tão importante tomar partido?
O que significa “estar em cima do muro”?
Estar em cima do muro é uma expressão que indica a indecisão ou a recusa em tomar uma posição clara em relação a uma questão. Pode parecer uma atitude de prudência, mas, em muitos contextos, é percebida como uma falta de comprometimento ou coragem para defender uma opinião. Manter-se neutro diante de situações que exigem um posicionamento firme pode, muitas vezes, ser interpretado como conivência com o status quo ou com práticas prejudiciais.
As consequências de não tomar partido
1. Acomodação e estagnação: A neutralidade excessiva leva à acomodação. Quando optamos por não nos posicionar, estamos, na verdade, aceitando as coisas como estão, mesmo que essas coisas sejam injustas ou prejudiciais. Isso perpetua situações de abuso, discriminação e desigualdade, pois a falta de ação é, em última análise, uma forma de permitir que essas situações continuem.
2. Perda de credibilidade: Pessoas que nunca se posicionam claramente podem ser vistas como pouco confiáveis ou indecisas. Em contextos profissionais, sociais e pessoais, a credibilidade está associada à capacidade de se posicionar com integridade. Quem se abstém de expressar opiniões pode ser percebido como alguém que não tem convicções ou que não está disposto a assumir responsabilidades.
3. Impacto no crescimento pessoal: Tomar partido envolve, muitas vezes, questionar nossas próprias crenças e preconceitos. Ao evitar essas reflexões, deixamos de crescer como indivíduos. Questionar, refletir e escolher um lado, mesmo que isso signifique mudar de opinião no futuro, faz parte do processo de amadurecimento e desenvolvimento pessoal.
4. Implicações éticas: Há momentos em que a neutralidade não é apenas uma escolha, mas uma postura ética. Diante de situações de injustiça, violência ou discriminação, não tomar partido pode significar compactuar com o opressor. Como já disse Desmond Tutu: “Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor.” A omissão pode ser tão prejudicial quanto a própria ação injusta.
Por que é difícil tomar partido?
- Medo do conflito
Uma das razões mais comuns para evitar tomar partido é o medo do conflito. Defender uma opinião pode gerar discussões acaloradas, rompimento de relações ou até mesmo consequências profissionais. No entanto, o conflito nem sempre é negativo. Ele pode ser uma oportunidade para crescimento e entendimento mútuo, desde que conduzido com respeito e empatia.
- Desejo de aprovação
Muitas pessoas evitam se posicionar por medo de desagradar os outros. Queremos ser aceitos e pertencentes a grupos, e o medo de rejeição pode nos levar a evitar qualquer opinião que possa ser vista como controversa. No entanto, buscar aprovação constante dos outros nos impede de viver de acordo com nossos valores e princípios.
- Falta de informação
Em alguns casos, a neutralidade é resultado da falta de conhecimento sobre o assunto. Antes de tomar partido, é essencial buscar informações e entender diferentes perspectivas. No entanto, isso não deve ser um pretexto para a inércia. A pesquisa e a reflexão são partes do processo de formação de uma opinião consciente.
Os benefícios de tomar partido
Autenticidade: Quando nos posicionamos, mostramos quem realmente somos e no que acreditamos. Isso nos permite viver de maneira mais autêntica, em alinhamento com nossos valores e convicções. Pessoas autênticas, que não temem expressar suas opiniões, inspiram respeito e confiança.
Fortalecimento das relações: Embora possa parecer contraditório, tomar partido pode, em muitos casos, fortalecer relacionamentos. Isso porque, ao expressar nossas opiniões, permitimos que os outros nos conheçam melhor. Mesmo que haja discordância, o diálogo sincero e respeitoso pode aprofundar os laços e promover o entendimento.
Contribuição para a mudança: Tomar partido em questões sociais, políticas ou ambientais é uma forma de contribuir para a mudança. Quando defendemos o que acreditamos ser justo, inspiramos outros a fazerem o mesmo e ajudamos a criar um mundo mais consciente e equilibrado. Pequenos gestos, somados, têm o poder de transformar realidades.
Crescimento pessoal: Ao se posicionar, você se desafia a refletir, a argumentar e a lidar com as consequências de suas escolhas. Esse processo enriquece sua compreensão sobre o mundo e sobre si mesmo, promovendo um crescimento contínuo.
Como tomar partido de forma consciente
1. Busque informações: Antes de tomar uma posição, informe-se. Leia sobre diferentes perspectivas, questione suas crenças e busque entender as nuances de cada questão. Isso permitirá que seu posicionamento seja fundamentado e consciente.
2. Respeite a divergência: Tomar partido não significa impor suas opiniões. Esteja aberto ao diálogo, escute o ponto de vista dos outros e esteja disposto a aprender. O respeito pela diversidade de opiniões é essencial para um debate saudável.
3. Aja de acordo com seus valores: O mais importante é que seu posicionamento esteja alinhado com seus valores e princípios. Não tome partido apenas para agradar os outros ou para seguir a maioria. Suas convicções são parte essencial de quem você é.
Tomar partido pode ser desafiador, mas é um ato necessário para quem deseja viver de forma consciente e autêntica. Sair de cima do muro não significa se envolver em conflitos constantes, mas sim assumir uma postura firme e coerente diante do que se acredita ser o certo. Em um mundo onde a neutralidade muitas vezes favorece a injustiça, tomar partido é, antes de tudo, um ato de responsabilidade e integridade. Afinal, como disse o filósofo Jean-Paul Sartre: “O pior de tudo é a indiferença.” Que possamos escolher, sempre, o lado da coragem e do comprometimento com aquilo que acreditamos.
(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.
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