Ser pesquisador no Brasil está cada vez mais difícil
Quando entrei em minha graduação, com 16 para 17 anos (Ciências Sociais), pensei que tudo seria mágico após minha formatura. Uma época repleta de bolsas de estudos (2011), onde nada e ninguém seguraria o sonho de qualquer estudante. Hoje, em 2023, aos 34 anos, vejo que muita coisa mudou. Tive o privilégio de estudar fora do Brasil (com bolsas de algumas agências de fomento). Possuo alguns pós - doutorados e sou Doutor em Educação Escolar pela UNESP. Publiquei 153 artigos científicos (além de 20 livros). Recebi diversos prêmios, até mesmo de bolsista destaque CAPES em 2020.
Quem olha um currículo assim, com toda modéstia, deve pensar: este pesquisador está bem empregado ou concursado! Engano! Escrevo tais palavras com um nó na garganta, pois muitas vezes me sinto “inútil” ou até mesmo, um engano para toda ciência. Já ouvi de um Reitor (IES particular), em uma conversa ao lado de seus Pró - Reitores, que eu “deveria deletar meu Lattes, pois assusta. Caso não fosse uma boa escolha (deletar), que eu retirasse até mesmo minhas formações, pois só assim teria um espaço”. Vejam bem, caríssimos e caríssimas leitores e leitoras, após este dia, mesmo sendo forte, este Reitor conseguiu me deixar sem palavras e até mesmo chorando por uma semana. Infelizmente pensei em deletar tudo e esquecer minha vida acadêmica.
É difícil ouvir de muitas pessoas que não entendem toda metodologia acadêmica (entrada e tudo mais), que espaços são abertos muitas vezes (em quase todos os momentos) por QI (quem indica). Não é necessário ter um currículo com muitas publicações, estágios, prêmios, nada disso, apenas um tapinha nas costas (apenas), garante uma vaga tão sonhada. Nunca deixei de sonhar (jamais deixarei). Sei que um dia terei meu espaço. Enquanto isso, continuo pesquisando, publicando, criando laços com pesquisadores nacionais e internacionais, lutando por um lugar que eu diga: É MEU (ideia de amor e pertencimento). Já perdi duas Bolsas Produtividade CNPq por não ter um vínculo institucional. Ganhei notas altíssimas para ser um dos contemplados, mas quando olhavam que eu não estava em nenhuma instituição de ensino e pesquisa, nada poderia ser feito. Recebia uma mensagem elogiando meu trabalho, mas mostrando esse “pequeno detalhe”.
Não quero desanimar nenhum estudante com este meu texto, jamais! Com meus estudos já atuei como Consultor Geral na Unesco, Professor Visitante em várias Universidades, palestrei em vários países, fui Docente em Universidades etc. Carrego este desejo em meu coração: de que um dia tudo mudará, que serei visto por alguma IES particular (ou que passe em algum Concurso Público) e possa desenvolver meu trabalho com muito gosto. Hoje atuo como Docente (orientador de mestrado e doutorado) no Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania da UnB. Atuação voluntária, mas faço com um prazer imensurável. Sou apaixonado pelo livro “Sem tesão não há solução”, best-seller que defende o fim do bloqueio que a sociedade impõe à satisfação do prazer, reunindo três ensaios nos quais Roberto Freire destila suas pesquisas e reflexões sobre Psicologia e Política.
Buscar o tesão (aqui fora do contexto sexual) é expandir seus sonhos. O PPGDH da UnB me trouxe novos olhares do livro de Roberto Freire. Um deles é de que posso sim ter meu espaço, como uma formiguinha, atuando dignamente, orientando e produzindo. São poucos os PPGs que olham com tanto carinho para jovens doutores que buscam tais realizações. Já me questionaram se eu voltaria no tempo e faria tudo diferente. Minha resposta: NÃO! Se tivesse como voltar mesmo ao tempo, só não perderia o meu tempo com este Reitor. Ou melhor, teria dado uma resposta bem dada. O tempo passou e aqui estou. Não adianta reclamar, porém, não podemos negar quão difícil é ser um pesquisador no Brasil.
(*) Renan Antônio Silva é professor voluntário do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania (PPGDH/UnB).