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Turismo sustentável: uma equação difícil de ser fechada

Por Fábio Luciano Violin (*) | 17/02/2017 11:13

A Organização das Nações Unidas declarou que 2017 é o ano Internacional do Turismo Sustentável, mas, o que isso significa? Por quais motivos essa temática é importante? O que é Turismo Sustentável?

O planeta tem aproximadamente sete bilhões de pessoas e dessas cerca de um bilhão realiza viagens. Porém, o turismo não se encontra apenas nas viagens, a profissão de turismólogo engloba também o setor de eventos, meios de hospedagem, agenciamento de viagens, alimentos e bebidas, transporte aéreo, marítimos, ferroviário e rodoviário, ecoturismo, mercadologia e estratégias públicas e privadas além das áreas de preservação de espaços naturais tais como parques, reservas ecológicas, patrimônio material e imaterial entre outras possibilidades.

Ao se entender que o turista é aquele que movimenta-se para além de seu espaço de origem e consome deslocamento, alimentação, bebidas, estadia, cultura, lazer, infraestrutura básica (rodovias, segurança, saúde, comunicação, entre outros), dança, música, história, entre outros, observamos que as viagens compõem apenas uma parte do que vem a ser o turismo e não considera o verdadeiro tamanho do exército de pessoas e organizações que trabalham no setor ao redor do mundo e por decorrência seus impactos.

É preciso observar que não existe atividade turística sem impacto nos locais que acomodam algum tipo de atrativo, seja uma festa regional, um passeio a museu, a locação de uma chalana, a compra de peças artesanais, uma caminhada, cavalgada, pescaria, desfrute em um cruzeiro ou na beira de uma bela praia. O fato é que onde existe o turismo os espaços são impactados de modo positivo ou negativo pela atividade.
Os impactos positivos mais facilmente observáveis - que não constituem regra – são: geração de emprego e renda, em alguns casos preservação dos espaços, tradições e da história, melhoria da qualidade de vida dos autóctones (originários de uma localidade), programas sociais, ambientais e/ou financeiros entre outros.

Os impactos negativos, mais visíveis são: exploração de mão-de-obra, impactos ambientais negativos, degradação dos espaços, politicagem, degradação social e/ou econômica entre outros.

Por sua vez, sustentabilidade tem sido um tema discutido de modo recorrente nas últimas décadas e significa de modo simples o equacionamento de uma oferta que permita o equilíbrio entre o ambiente natural, os aspectos sociais e a necessidade econômica, ou seja, uma oferta que não agrida o meio ambiente, não gere exploração ou degradação de pessoas e que seja economicamente viável.

Esse é um conceito puro e livre das situações impactantes geradas pelos mais diversos grupos de interesses, como por exemplo, as pessoas querem receber por seus serviços, os empresários querem lucro pelo investimento e risco que correm, o governo quer seus impostos, o turista quer a melhor experiência que puder ter pelo tempo e dinheiro que está despendendo, o peixe e o macaquinho querem continuar vivos depois do contato com o humano ou seja, todos querem ganhar sempre. Deu para perceber que essa equação é muito difícil de ser fechada com todos os envolvidos ganhando.

Desse modo, ao se pensar em turismo sustentável, se está pregando que a atividade que movimenta e impacta positivamente nas economias mundiais precisa ponderar todos os elementos que envolvem uma oferta. Perguntas como: 1) De que modo se tratará os resíduos gasosos, sólidos e líquidos de um empreendimento?;
2) De que modo o ambiente (fauna, flora, espaços e componentes) podem ser menos impactados ou de que forma mitigar esses impactos?; 3) Como melhorar a qualidade de vida dos colaboradores da empresa e também da população?; e 4) Como obter lucro sem explorar pessoas e meio ambiente?

Essas e tantas outras perguntas fazem emergir o entendimento dos motivos que levaram a ONU a declarar 2017 como o ano do Turismo Sustentável. A massa de pessoas se deslocando e consumindo gera impactos de ordem gigantesca em todos os sentidos.

Vamos imaginar a quantidade de garrafas de água que um bilhão de pessoas consomem. Imagine a quantidade de papel gerado por bilhetes ou ingressos para entrada em atrativos como parques, museus, mostras, meios de transporte e tantos outros. Todos os números são grandiosos, mas o modo de acomodar esses impactos ainda é tratado, em grande parte dos casos, como antigamente: o resíduo que eu gero deixa de ser meu problema quando eu o coloco em uma lata de lixo.

Ter consciência social, ambiental e econômica sentado em uma confortável poltrona ou sofá ou mesmo compartilhando algo pelas redes sociais não nos torna cidadãos preparados para a nova era. Talvez, pequenas ações no nosso micro espaço de preservação e conservação sejam um primeiro passo.

Como modo de ilustrar, me recordo de uma lição que presenciei quando criança. Na praia, um senhor fumava e tomava uma lata de refrigerante na areia. Ao terminar seu refrigerante ele colocou o resto do cigarro dentro da lata e atirou no mar. Todas as pessoas ficaram olhando imóveis aquele ato de falta de educação, de consciência e por que não dizer de vergonha na cara. Um salva vidas correu para o mar e recuperou a lata e a entregou ao senhor dizendo: isso lhe pertence. Tenha o capricho de jogar em uma lixeira.

Essa, foi para mim, uma das maiores lições quando o tema é sustentabilidade e responsabilidade individual.
Sobretudo, é preciso pensar e agir sobre espaços e situações e o Turismo é uma janela aberta de possibilidades de transformação de ideias, processos, lugares e sobretudo de pessoas.

Para além das palavras, o momento é de planejar e agir.

(*) Fábio Luciano Violin é doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional; coordenador e professor do curso de Turismo da Unesp – câmpus de Rosana

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