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Você pode fazer tudo pelo outro, menos a parte dele

Por Cristiane Lang (*) | 25/09/2024 08:34

Nas interações humanas, sejam elas pessoais ou profissionais, é natural desejarmos ajudar as pessoas com quem nos importamos. Oferecer apoio é um reflexo de empatia e cuidado. No entanto, há um limite invisível entre o que podemos fazer pelo outro e o que cabe a ele mesmo realizar. Por mais que desejemos estender a mão e solucionar problemas, há uma verdade imutável: cada indivíduo é responsável por sua própria jornada, seus próprios passos e seu próprio crescimento.

A armadilha do salvamento

Quando nos envolvemos profundamente na vida de alguém, seja um amigo, um parceiro ou até mesmo um colega de trabalho, é fácil cair na armadilha de tentar "salvá-lo" de seus próprios desafios. Essa intenção pode parecer nobre, mas ao assumir essa responsabilidade, corremos o risco de impedir o outro de aprender com suas próprias experiências.

Todos enfrentam batalhas internas e desafios externos. Algumas dessas lutas são dolorosas e podem ser difíceis de assistir. Entretanto, é importante lembrar que são essas mesmas lutas que moldam o caráter, trazem aprendizado e geram crescimento pessoal. Quando tentamos fazer mais do que devemos pelo outro, acabamos por tirar dele a oportunidade de evoluir por meio de suas próprias conquistas e erros.

O Papel da Autonomia

A autonomia é um dos pilares mais importantes do desenvolvimento humano. Ninguém pode crescer verdadeiramente se não for capaz de assumir a responsabilidade por suas próprias decisões e ações. Quando interferimos demais, mesmo com as melhores intenções, enfraquecemos essa autonomia.

Imagine uma situação onde uma pessoa sempre tem alguém para resolver seus problemas. Ela pode até sentir um alívio momentâneo, mas a longo prazo, essa dinâmica gera dependência. Sem a oportunidade de aprender com suas falhas, essa pessoa pode se sentir incapaz de lidar com futuros desafios por conta própria.

Apoiar Sem Substituir

A verdadeira essência de ajudar alguém está em oferecer suporte, mas não em tomar as rédeas. Isso significa estar presente, oferecendo conselhos, escutando e até mesmo orientando quando solicitado. Contudo, é fundamental permitir que o outro faça suas próprias escolhas e, se necessário, cometa seus próprios erros.

Apoiar sem substituir o esforço alheio requer paciência e compreensão. É reconhecer que a jornada de cada um é única, e que as experiências que enfrentamos, boas ou ruins, são partes essenciais de quem nos tornamos.

O Papel do Limite Saudável

Saber quando parar de ajudar é um ato de amor e respeito. Isso pode ser desafiador, pois muitas vezes a vontade de ajudar vem acompanhada de um desejo de proteger o outro do sofrimento. No entanto, é essencial compreender que não podemos carregar o peso do mundo nas costas por alguém. Estabelecer limites saudáveis é tão importante quanto oferecer apoio.

Esses limites permitem que o outro tenha o espaço necessário para aprender e crescer, enquanto ainda mantém a confiança de que tem um apoio disponível quando necessário. Além disso, protege o próprio ajudante de se desgastar emocionalmente ou fisicamente, preservando sua própria energia e saúde mental.

O Papel de Cada Um na Jornada

Você pode oferecer sua mão, compartilhar seu conhecimento, e até aliviar parte da carga temporariamente, mas a parte essencial do caminho, a jornada do aprendizado e crescimento, pertence ao outro. Cada um tem seu próprio papel a desempenhar em sua vida e, embora possamos caminhar ao lado, nunca podemos andar por eles.

O equilíbrio entre apoiar e permitir que o outro assuma sua responsabilidade é uma arte que exige sensibilidade. Ao respeitar esse equilíbrio, ajudamos as pessoas ao nosso redor a se tornarem mais fortes, mais autônomas e capazes de lidar com os desafios que a vida inevitavelmente apresenta. Afinal, a parte mais importante da evolução pessoal é aquela que ninguém pode fazer por nós.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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