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Beba das Crônicas

Jandira e Benitez: "Una carreta cantante"

Nos tempos que a noite de Campo Grande era um canto paraguaio...

Por Edson Contar (*) | 17/04/2024 09:18

A inegável presença da cultura paraguaia em nosso Estado acabou por fazer das noites campo-grandenses, dos bons tempos, um cenário de saudades que acompanha as lembranças dos que viveram as noitadas nas diversas casas que apostaram na música fronteiriça. Da guarânia e da polca paraguaia, romperam-se outras fronteiras trazendo o chamamé e o tango, também muito apreciados pelos brasileiros... Embora executadas ao longo do tempo, a grande explosão guarani chegou com a dupla Jandira e Benitez que abriram portas para artistas paraguaios, argentinos e uruguaios, muitos deles presentes até hoje no cenário musical de Campo Grande. A inesquecível “La Carreta” inaugurada em 1974, marcou época com grandes shows e a presença sempre marcante de Jandira e Benitez, criadores da casa, num inigualável ambiente latino que atraia a nossa sociedade para grandes noitadas, que acabavam se prolongando em memoráveis serestas pela cidade. Impossível nominar os assíduos e fiéis admiradores da dupla e seus músicos especiais.

A cidade toda os admirava.

E com eles tivemos a oportunidade de conhecer a harpa mágica do paraguaio Alvarez Martinez, o bandoneon de Catalino Arguello, o violão requinto do Papi Ávila e o piano do maestro Júlio Cheda (uruguaio), com o violão e vozes de Benitez e Jandira, arrancavam aplausos intermináveis, fazendo o show prosseguir noite adentro... Jandira acabou por transformar a “Carreta” num verdadeiro palco latino-americano, trazendo artistas renomados e dando oportunidades a muitos músicos que por aqui acabaram fincando raízes e criando suas próprias carreiras. Los Mensajeros del Paraguay, Magno Soler, Carlos Lombardi (brasileiro, cantor de tangos), Roberto Gimenez Blanco (chamamecero de Corrientes AR), Júlio Cesar del Paraguai, Los Puma Punku, Los Kimani e grupos de dança folclórica paraguaia foram alguns dos grandes shows que a “La Carreta” ofereceu à cidade... O famoso Hermínio Gimenez foi outro grande bandoneonista e compositor que tocou por aqui com a dupla Jandira e Benitez , nos idos de 1964, ainda em outra casa. A existência da dupla Jandira e Benitez originou-se de um mero acaso: Ciríaco Benites, ainda jovem, veio a Campo Grande como vocal da orquestra “Los Azes del Ritmo” de Assunção (Paraguai), contratada para shows na Cantina Caravelli de propriedade da cantora Jandira Terezinha, natural de Rio Brilhante, MS... A orquestra voltou para o Paraguai e Benites acabou ficando. Aqui, juntou-se a Jandira numa dupla que faria história em todo o País. Começaram cantando na Churrascaria Braseiro com o conjunto “Los Melódicos” que formaram, trazendo músicos de quilate, vindos do Paraguai... Entre eles, o harpista Martinez e o violonista Papi que, por muitos anos, acompanharam a dupla. Casados, Jandira e Benitez partiram para shows no Brasil e no exterior, gravando vários LPs que, até hoje, são guardados com carinho por seus admiradores. Não só pela “La Carreta”, mas por tudo o que esta dupla realizou pela música em Campo Grande, fizeram sempre por merecer homenagens da cidade que adotaram, tendo aqui seus filhos e deixando marcadas as grandes noites da Campo Grande de ontem. Jandira faleceu há alguns anos, sem a glória de receber o título de cidadã campo-grandense, oferecido a tantos que menos fizeram por nós... Benites casou-se de novo e com a nova esposa manteve a aconchegante casa noturna “Arguille. Um recanto envolvente que acabou por se tornar num pedacinho da velha Carreta.: “la carreta es el racho que camina, con el tiempo ha dormido en su rodar...”

Por Edson Contar (Alkontar)

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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