Alunos da UFMS enfrentam 'maratonas' para chegar às aulas em diferentes blocos
Longas caminhadas e ônibus lotado são rotina de alunos que estudam em universidade pública
A rotina exaustiva de sair de uma aula e ir para outro bloco é corriqueira entre os acadêmicos da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande. O cansaço se torna maior quando precisam lidar com dias chuvosos e ônibus lotados.
Mesmo de diferentes cursos, os estudantes sempre relatam rotina parecida, na qual precisam conciliar horários das aulas com o tempo de deslocamento. Um dos estudantes que passam por essa "maratona" é Gabriel do Nascimento Pires, de 18 anos, aluno de Engenharia de Produção.
Segundo Gabriel, as longas caminhadas começam nos pontos de ônibus, que ficam do lado de fora do campus. Ele relata que para chegar em sua aula, precisa passar por uma caminhada de 1 km, que em média, dura 13 minutos. “Do ponto na Avenida Costa e Silva, perto do pontilhão, até o bloco da Faeng (Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia) ou do Multiuso, é uma diferença considerável. É necessário se organizar e se programar para não chegar atrasado nas aulas”.
No caso do estudante Adolfo Melgarejo, 18 anos, do terceiro semestre de Biologia Licenciatura, a "maratona" acontece entre as disciplinas, onde as aulas ocorrem em blocos muito distantes.
Ele explica que a maioria de suas aulas acontece no Bloco Seis, localizado ao lado da Biblioteca Central. Entretanto, em algumas ocasiões precisa atravessar a universidade e fazer uma longa caminhada para chegar na próxima aula. “Já chegamos atrasados por perder o ônibus. Teve até um dia que tomamos chuva no caminho”, conta.
A estudante Ana Carolina Honorato, 18 anos, também do terceiro semestre de Ciências Biológicas, explica que passa por situação parecida. Segundo ela, sua rotina é bem agitada, uma vez que precisa intercala momentos de descanso com as aulas, que acontecem em vários blocos da universidade, como o Bloco Seis e em salas do Inqui (Instituto de Química), próximo ao Lago do Amor, há 1,3 km do Corredor Central. “Eu e os meus colegas almoçamos e jantamos aqui. Então a gente tem que andar bastante todos os dias”.
Ônibus interno - De acordo com os acadêmicos, o Capi Shuttle, mais conhecido como "businho", é a primeira opção escolhida para fazer os deslocamentos. O ônibus faz o translado de alunos e servidores entre a Biblioteca Central, Famez (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia) e Inqui (Instituto de Química).
As paradas também incluem os condomínios que ficam na Avenida Senador Antônio Mendes Canale, onde muitos estudantes da universidade moram.
Diariamente, cerca de 50 acadêmicos são transportados pelo ônibus interno, conforme levantamento divulgado no site oficial da instituição. Entretanto, estudantes reclamam que em horários de pico, o transporte fica lotado e com poucas vagas. "Às vezes a gente perde o 'businho', outras vezes ele vai muito lotado. Eu não sei quanto ônibus estão na ativa, mas na prática eles demoram para passar. Tipo de uma em uma hora [sic]”, comenta Ana Carolina.
De acordo com o site oficial da UFMS, o ônibus parte do Inqui a cada hora, com o primeiro horário saindo às 6h30 e o último às 22h30. A parada final é na Biblioteca Central, com horários de embarque e desembarque a cada hora, que inicia às 6h45 e termina às 22h45.
Passarela ecológica - Quando é preciso frequentar aulas em blocos localizados ao lado do Lago do Amor, a passarela ecológica é uma opção de trajeto. A última revitalização da passarela ocorreu em 2022, quando foram realizadas melhorias de acessibilidade e estrutura da ponte.
Entretanto, em dias de chuva e em períodos noturnos, estudantes explicam que evitam passar pelo local. “Muitas vezes, quando estou sozinha e está tudo escuro, é comum sentir medo. Até porque ali [ponte] fica difícil identificar quem está se aproximando de nós. Isso é pior para gente que é mulher", diz Ana Carolina.
Para lidar com a questão da insegurança e tornar as longas caminhadas menos estressantes, muitos alunos optam por sair em grupo. É o que relatou Luis Grote, de 18 anos, estudante do terceiro semestre de Ciências Biológicas. Desde que começou a fazer estágio no Biotério, localizado no bloco ao lado do Lago do Amor, ele passou a utilizar a passarela ecológica com frequência. “Eu passo pela ponte todos os dias. Sempre faço o trajeto de atravessar e voltar, pelo menos duas vezes ao dia”.
Para frequentar as aulas do curso, que acontecem à noite, Luis explica que espera um grupo de colegas para passar pela ponte. "Costumamos combinar de ir em grupo e esperamos uns pelos outros. Ou juntamos um grupo de pelo menos cinco pessoas para irmos todos juntos", explica.
Planejamento - A estudante Ariele Menegassi, de 19 anos, do terceiro semestre de Farmácia, diz que seu curso não tem um bloco específico, então precisa lidar com aulas alocadas em vários prédios. “Nesse semestre, temos aulas em vários blocos. E como as aulas dos primeiros anos são espalhadas em vários lugares, a gente tem que correr de uma aula pra outra. O intervalo é de dez minutos”.
De acordo com Ariele, após a experiência corrida no primeiro ano do curso, ela e seus colegas decidiram organizar a grade de aulas de uma forma em que poderiam ter mais tempo de deslocamento. “Ano passado a gente sofreu muito com isso. Tinha aula lá no bloco seis e uma aqui, perto do lago. Nesse semestre tentamos organizar a nossa grade com intervalos de pelo menos uma hora para conseguir chegar com calma nas aulas”.
Silêncio da UFMS - A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da UFMS para saber se há previsão de melhorias na mobilidade interna dos acadêmicos ou se há previsão de expansão da frota de ônibus. Entretanto, até o fechamento desta matéria não obteve resposta. O espaço continua aberto para futuros posicionamentos da instituição.