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Cidades

Ambientalistas apontam risco de desequilíbrio no Pantanal

A preocupação é que água drenada cause poluição e danos ambientais

Maristela Brunetto | 09/03/2023 16:40
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

A notícia de que será autorizada a abertura de valas para drenar a água da chuva em lavouras de municípios da região do Pantanal, como Aquidauana e Anastácio, e da Serra da Bodoquena, como Bonito e Jardim, deixou em alerta ambientalistas defensores do bioma sul-mato-grossense, que já se articulam contra a medida. O temor é que a interferência no ritmo natural de escoamento da água polua rios de lugares turísticos e afete a delicada estrutura hidrodinâmica na bacia pantaneira e a reprodução da vida no local.

Conhecedor do Pantanal desde os anos 80, o presidente do Instituto do Homem Pantaneiro, Ângelo Rabelo, considera que o Pantanal enfrentou um ciclo de seca e, agora, renovado com uma temporada de chuva, seja afetado com a abertura das valas para retirar água de lavouras, para permitir a colheita de soja e o plantio do milho, que estão atrasados diante do excesso de chuva.

Conforme ele, há inúmeros processos ecológicos que se concretizam com a velocidade própria do ecossistema, como o crescimento dos peixes e de larvas, o que poderia sofrer alteração no seu curso natural.

Para Rabelo, a Resolução da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação segue na contramão ao incluir regiões de Bodoquena e do Pantanal entre aqueles em que será possível drenar a água de lavouras. Ele menciona o desastre ambiental que foi o Rio Taquari, nunca recuperado, que, atingido pelo assoreamento, produziu um alagamento de 1 milhão de hectares.

Rabelo ainda cita a situação de cidades turísticas, como Bonito e Jardim, que podem ter rios poluídos com sedimentos e perder público.

O Instituto SOS Pantanal diz que a decisão abre brechas para a ocorrência de grandes estragos ambientais e sociais no Pantanal e permite que qualquer pessoa faça valas e drenos para escoamento de água, inclusive dentro de zonas de proteção de uso restrito, como a planície pantaneira e a Serra da Bodoquena.

De acordo com o biólogo e diretor de Comunicação e Engajamento do instituto, Gustavo Figueirôa, “é inadmissível” liberar a drenagem e a abertura de valas no Pantanal, que é um bioma que, por sua natureza, represa água. Ainda segundo ele, o Pantanal passou por um longo período de estiagem, e este é o primeiro ano com o retorno, ainda tímido, das águas na planície, por isso não faz sentido algum a liberação para drenos em uma paisagem que sequer voltou ao seu auge de cheias.

Figueirôa alerta: “As alterações que podem ocorrer após essa medida ameaçam impactar, desconfigurar e desequilibrar todo esse ecossistema, já ameaçado, de uma forma que nunca vimos antes".

Drenar uma zona de restrição como esta representa um perigo enorme para a biodiversidade, que precisa dessas águas represadas nas planícies para se alimentar e se reproduzir, como as aves, répteis, mamíferos e anfíbios, muitos deles listados na lista vermelha de animais ameaçados de extinção pelo ICMBio. Todos dependem dessas águas que contribuem para a explosão de vida nesse ecossistema. “Drená-las é assinar a sentença de morte para essas áreas alagadas, para toda a vida que depende delas”.

Por ser altamente danosa para o Pantanal e áreas restritas anexas, essa resolução irá permitir que valas e drenos sejam abertos em locais que dependem do represamento da água para que suas funções ecológicas sejam mantidas. Os impactos causados podem ser extensos, descaracterizando e comprometendo uma extensa cadeia de biodiversidade. “Para nós do SOS, uma medida como esta caracteriza uma prática leviana e extremamente danosa ao meio ambiente”, complementa o biólogo. Os ativistas já se articulam com políticos contra a medida anunciada.

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