Apreendidos em ação da PF, carros de luxo avaliados em R$1,3 milhão vão a leilão
A pedido da PF, sob risco de depreciação, Porsches, BMWs, Honda, Audi e Land Rover serão leiloados
A pedido da PF (Polícia Federal), a Justiça Federal em Campo Grande autorizou o leilão antecipado de sete veículos, dois deles descritos como “de luxo”, apreendidos na Operação La Casa de Papel, realizada em 2020. Os bens, avaliados em R$ 1,351 milhão, foram confiscados na investigação que apura esquema internacional de pirâmide financeira, com atuação em Mato Grosso do Sul.
Os bens foram listados em despachos do juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande. A alienação antecipada foi pedida pelo PF com aval do MPF (Ministério Público Federal), sob alegação de se tratar de bens sujeitos à rápida depreciação. “Há sérios riscos de desvalorização ou descaracterização pelo tempo, pela defasagem, ou pelo simples envelhecimento inevitável, caso permaneçam em desuso (...)”.
Mesmo que ao fim do processo os réus sejam inocentados, a alienação antecipada não é vista como prejuízo, conforme despacho da Justiça Federal, já que os valores vão ficar retidos, em conta judicial e ali conservados até restituição, perda ou destinação por ordem judicial.
Serão leiloados sete veículos. BMW/325, modelo 2011/2011, em bom estado de conservação, mas sem carga de bateria, impossibilitando constatação de quilometragem. O valor é de R$ 44,2 mil; Porsche/Cayenne 2015/2016, em bom estado de conservação com 86 mil km rodados, sendo avaliado em R$ 218 mil; Porsche/Boxster 2014/2014, não sendo constatado funcionamento do teto conversível. Este veículo está orçado em R$ 338 mil; Land Rover 2015/2016, blindado, com 92 mil km, sujo e com marcas de uso, avaliado em R$ 90 mil; Honda/HR-V, 2016/2017, blindado, com 87 mil km, em bom estado e avaliado em R$ 58 mil.
De todos os carros, apenas dois são listados como “de luxo”: BMW/X6, modelo 2021/2022, blindado, com 17 mil km, em bom estado de conservação, avaliado em R$ 540 mil e o Audi/A5 modelo 2015/2015, com câmbio automático, bancos em couro na cor caramelo e outros itens de série, 114 mil km rodados, em bom estado de conservação, avaliado em R$ 62,9 mil. Esses dois veículos estavam em poder de Patrick Abrahão Santos Silva, marido da cantora Perlla. Os dois Porches estão no nome do pai dele, Ivonélio Abrahão da Silva, também investigado.
No dia em que a operação foi deflagrada, 10 de outubro de 2022, Patrick Abrahão foi preso em casa, em condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. Os mandados foram cumpridos também em São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, Maranhão e Santa Catarina.
Todos os carros estão retidos em depósito localizado em Nova Iguaçu (RJ). Agora, com decisão de se realizar o leilão eletrônico, foi determinado que sejam anexadas informações sobre os veículos nos respectivos Detrans e Infoseg.
Conforme despacho, quatro veículos já podem ser leiloados, sendo a BMW/X6, Porsche/Cayenne, Porsche/Boxster e Land Rover. Sobre os outros carros, foi determinada intimação dos proprietários sobre a decisão ou avaliação ainda a ser feita pelo leiloeiro designado.
Origem – A Operação La Casa de Papel apurou crimes de lavagem de dinheiro, estelionato, organização criminosa e crimes contra a SFN (Sistema Financeiro Nacional).
O rastro do esquema começou a ser seguido em 20 de agosto de 2021, na apreensão de cerca de 2 quilos de esmeraldas em Rio Brilhante, avaliados em R$ 508 mil, em flagrante feito pela PRF (Polícia Rodoviária Federal). Um fato, em especial, chamou a atenção do MPF (Ministério Público Federal): um dos presos não soube informar o endereço da própria empresa.
Força-tarefa passou a investigar o caso e identificou grupo que, por meio do conglomerado empresarial Trust Investing, é suspeito de crimes contra o SFN, com especialização na captação de recursos de investidores a pretexto de gerir aplicações extremamente rentáveis. As promessas eram de lucros impraticáveis no mercado comum (com variação de 200% a 500% ao ano), em setores de minas de diamantes, vinhos, viagens e energia.
Segundo anunciado, no segmento Trust Diamond, os recursos dos investidores seriam convertidos em pedras preciosas custodiadas em um banco na Suíça ou no Brasil, as quais serviriam de garantia, caso a Trust não honrasse com o pactuado.
Usadas como atrativo para garantir a segurança do investimento em criptomoedas, as esmeraldas apreendidas totalizaram 268 quilos. As pedras flagradas em MS são verdadeiras.
Conforme a investigação, a Trust Investing contava com uma criptomoeda própria (a Truster Coin), e que, apesar de captar recursos de terceiros, a empresa não tinha qualquer autorização para funcionar como instituição financeira.
De acordo com a força-tarefa, a única empresa constituída formalmente era a Trust Wallet, que funcionava como uma carteira de “produtos” que o investidor adquiria da Trust Investing e que estaria sediada na Estônia, mas que tampouco teria autorização do Banco Central para funcionar como instituição financeira no Brasil.
Em nota anteriormente divulgada, a defesa de Patrick e Ivonélio Abrahão da Silva “negam veemente as acusações e, com deslinde da demanda, pretendem demonstrar suas inocências”.