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Cidades

Área explorada pela agropecuária no Pantanal aumentou 3 vezes em 34 anos

Dados do MapBiomas indicam que espaço para lavoura e pasto cresceu de 657,5 mil hectares para 2,3 milhões até o ano passado

Lucia Morel | 19/09/2020 11:36
No maior incêndio florestal já registrado no bioma, Pantanal tem virado cinzas. (Foto: Divulgação Governo do Estado/Chico Ribeiro)
No maior incêndio florestal já registrado no bioma, Pantanal tem virado cinzas. (Foto: Divulgação Governo do Estado/Chico Ribeiro)

Em três décadas, o Pantanal ampliou em três vezes sua área destinada à agropecuária. O aumento representa 259% entre 1985 e o ano passado, conforme dados do MapBiomas, iniciativa multissetorial que analisa, entre outras demandas, a cobertura vegetal no Brasil.

A expansão mais expressiva ocorreu entre os anos de 1989 e 1999, quando o espaço para pastagem aumentou 78,5%, saindo de 822,7 mil hectares para 1,4 milhão de hectares. No ano de 1985, essa área era de 657,5 mil hectares. Já hoje, supera os 2.360,161 milhões, o que representa 12,5% da área total do bioma, que é de aproximadamente, 18,7 milhões de hectares.

Desse total, a esmagadora maioria é de uso de pasto para gado, que há 35 anos atrás representava 410,5 mil hectares e atualmente chega a exatos 2.338,860 hectares, sendo somente 21,271 destinados à agricultura.

Quando se analisam os números referentes exclusivamente à área do Pantanal localizada em Mato Grosso do Sul, têm-se que a expansão foi de 223,1%, saltando de 480,4 mil hectares de espaço para lavouras e gado, para 1.552,841 hectares até o ano passado.

A ampliação mais significativa em proporções, no entanto, ocorreu na área pantaneira localizada no vizinho Mato Grosso, que tem porção menor do Pantanal que MS. Lá, de 177,052 hectares para agropecuária em 1985, o espaço aumentou para 807,290 hectares. Um salto de 356%.

Arte: Thiago Mendes
Arte: Thiago Mendes

Essa expansão se torna preocupante porque o Pantanal é considerado um dos Patrimônios Naturais da Humanidade, pela Unesco ( Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e só pode sofrer alterações mediante autorização do Ibama (Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis).

Com isso, a ampliação de área para agropecuária sem licença prévia é considerada crime ambiental, o que está inclusive sendo investigado pela Polícia Federa, na Operação Matáá, deflagrada no começo desta semana.

Na ocasião, o delegado responsável, Alan Givigi, da PF em Corumbá, afirmou que as queimadas que estão devastando a maior planície alagada do mundo não começaram “do nada” e não podem ser consideradas acidente.

Imagens de satélite, que deram início à investigação, mostram que os incêndios começaram em fazendas da região, em espaços “inóspitos, dentro das fazendas, onde não há nada perto o que nos faz entender que não pode ser acidente. Teoricamente alguém foi lá pra isso (para colocar fogo)”, disse Givigi.

Avião lança água na tentativa de combater o fogo, que já consumiu milhões de hectares do Pantanal. (Foto: Divulgação Governo do Estado/Marcos Antônio dos Reis)
Avião lança água na tentativa de combater o fogo, que já consumiu milhões de hectares do Pantanal. (Foto: Divulgação Governo do Estado/Marcos Antônio dos Reis)

Além disso, ele sustentou também que a inciativa de se colocar fogo só pode ser explicada se for para ampliação de área para pasto. “O fogo nesse caso seria para queima da mata nativa para fazer pasto. Já que não pode desmatar, porque é área protegida, coloca fogo e o pasto aumenta, sem levantar suspeita”, comentou na última segunda-feira, quando a operação foi deflagrada.

Segundo pesquisadores do MapBiomas, há uma mudança de hábitos dos criadores de gado no Pantanal. Antes, o mais usual era levar a boiada para pastos naturais, no período seco. Agora, há cada vez mais pasto plantado, sendo o fogo um elemento usado para limpar áreas.

"Deslocar os bois para pastejar é uma técnica tradicional e bem sustentável. Agora, o fogo é ateado na vegetação retirada e, nas áreas limpas, planta-se braquiária. Houve um aumento substancial desse tipo de pastagem nos últimos anos", disse Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas, ao jornal O Globo.

Somente este ano, a área queimada no Pantanal chega a 2,916 milhões de hectares, sendo 1,742 milhões de hectares no Pantanal de Mato Grosso e 1,165 milhões de hectares no Pantanal sul-mato-grossense.

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