Assembleia terena traz discurso de união para resistir a “tempos duros”
“A primeira munição do governo foi para os povos indígenas”, diz liderança indígena
No ano em que a demarcação de terras indígenas foi para o Ministério da Agricultura – antiga aspiração dos ruralistas-, e o presidente prometeu enviar à Câmara dos Deputados projeto que isenta de punição proprietários rurais que atirarem em invasores de suas áreas, a 13ª Grande Assembleia Terena abre os trabalhos nesta quinta-feira (dia 9), em Aquidauana, com uma pauta que une esse novos tempos e velhas demandas: conjuntura política e questão fundiária.
O debate, na ensolarada aldeia Ipegue e aberto com o canto “Eu sou terena e para a minha terra vou voltar”, reúne lideranças indígenas, políticos, representantes de órgãos públicos e expoente da música, a cantora Maria Gadú. As entrevistas convergem na análise de que a primeira bala do governo foi para os índios.
“A principal diferença esse ano é o contexto político. De forma a querer atropelar e acabar com os direitos originários. Mas, esse momento tem esse ponto positivo de união, se não for isso podemos perder. A proposta da assembleia é ter uma linha política para Mato Grosso do Sul, o que vamos fazer de enfrentamento, o que as mulheres e a juventude vão deliberar”, afirma Lindomar Terena, organizador da Assembleia.
Violento - Presidente da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Sônia Guajajara, que foi candidata à vice-presidente do Brasil pelo PSOL, afirma que o governo federal, na gestão de Jair Bolsonaro (PSL), é um inimigo declarado e que resgata um discurso integracionista, como na ditadura.
“Mato Grosso do Sul é um Estado violento, com muitos conflitos e disputas. Com o maior número de terras não demarcadas. É importante fazer a nossa unidade. A nossa pauta principal continua sendo a demarcação. O governo é inimigo declarado, isso faz com que a gente tenha uma reação. A gente continua lutando por tudo, mas a nossa prioridade é a garantia do direito territorial” afirma Sônia, que concentra os cumprimentos mais efusivos entre os participantes.
Ela analisa que a flexibilização do porte de armas agrava o litígio fundiário. “A gente já sentiu aumento dos conflitos desde o primeiro dia de 2019. Foi uma simbolização de que seria tenebroso e começou a pipocar conflitos para todos os lados”.
Liderança indígena em Minas Gerais, Célia Xakriabá afirma que há um genocídio legislativo em curso. “A primeira munição do governo foi para os povos indígenas”, diz. Da etnia kadiwéu, Luiz Fernando, participa da assembleia dos terenas interessado no debate da conjuntura nacional.
“O governo está péssimo para os povos indígenas. Todas as nossas conquistas não vem da boa vontade deles. É um trabalho do nosso movimento”, afirma.
Olho no olho - Representando o MPF (Ministério Público Federal), o antropólogo Marcos Homero destaca que uma das funções do órgão é defender os direitos e interesses das comunidades indígenas. Segundo ele, a assembleia é uma oportunidade de diálogo olho no olho.
“Os diversos órgãos se encontram num estado de suspensão de respiração. Não se sabe o que vem por aí. Existe um clima de apreensão. Acabamos de completar 100 dias de governo, ainda é muito precoce, mas as comunidades tem se apresentado bastante preocupadas. Esperamos que os índios possam respirar aliviados”, afirma o antropólogo.
A grande assembleia reúne sete aldeias terenas, como Morrinho, Bananal e Cachoeirinha. A expectativa é reunir, no mínimo, mil pessoas.