Calor não protege do coronavírus, isolamento sim, alerta infectologista
O Sars-Cov2, nome científico do vírus que se alastrou pelo mundo desde dezembro de 2019, “gosta” mais do frio, mas o calor não o impede de se espalhar. O alerta é feito por quem lida todo dia com o surgimento de novos casos doença em Mato Grosso do Sul e viu, na prática, cair por terra expectativa de comportamento diferente da pandemia de novo coronavírus em países tropicais, de clima quente, como o Brasil e, especificamente Mato Grosso do Sul.
O Campo Grande News decidiu fazer a pergunta novamente depois de ser indagado por um leitor sobre convite para pescar no Pantanal, sob alegação de que a região é quente e isso seria barreira para o vírus. O argumento estaria nos números: Corumbá, o destino possível da viagem, não tem casos confirmados de covid-19 nem suspeitas em investigação.
Para esse cidadão interessado em pescaria, a orientação é adiar o passeio. Não há lugar seguro neste momento contra o coronavírus além da própria casa, com todos os cuidados, avisa a infectologista Maria Crodda, assessora técnica do COE (Centro de Operações de Emergência) criado em janeiro pelo governo de Mato Grosso do Sul para lidar com a emergência em saúde.
“A transmissibilidade do vírus é muito grande, independente das condições ambientais”, resume.
Por todo o MS - A fala da profissional de saúde encontra respaldo na distribuição geográfica dos registros de novo coronavírus já confirmados no Estado. A doença está em todas as regiões, das mais frias às mais calorentas: há casos em Ponta Porã, onde o clima é mais ameno, e em Alcinópolis, vizinha ao Mato Grosso, na região norte, que costuma ter temperaturas bastante altas.
Mapa obtido pela reportagem junto ao Cemtec (Centro de Monitoramento do Templo e do Clima) mostra as zonas de calor e de temperatura mais amenas e elas não coincidem com as cidades onde não há casos.
Campo Grande, o epicentro da pandemia em Mato Grosso do Sul, com 71% dos casos, por exemplo, aparece na zona vermelha no mapa de calor, com temperaturas acima dos 30 graus, pondo abaixo a teoria do calor como fator de proteção ao “corona”.
“Nós somos um dos primeiros países tropicais onde a doença chegou. Dentro da nossa perspectiva, de chegar aqui no verão, de não ter tanta aglomeração, tanta gente fechada dentro de casa, era de um comportamento diferenciado”,
“Na prática, o que a gente viu principalmente em locais como Rio de Janeiro, com alta umidade e alta temperatura, não foi isso”, comenta. São Paulo, cita a médica, também leva a crer que as primeiras impressões sobre o coronavírus não se concretizaram.
Porta de entrada da pandemia no Brasdil, durante o verão, a maior cidade do Brasil já acumula 201 mortes.
Só isolamento resolve – Mato Grosso do Sul, até agora, tem 53 casos e um óbito, de uma moradora de Bataiporã, na . A curva ascendente da doença, por aqui, está em “achatamento”, ou seja, mais lenta do que no restante do País. Nos últimos dois dias, foram cinco confirmações, três na quarta-feira e mais duas nesta quinta-feira.
Mariana Croda, novamente, desfaz a esperança de quem acha que o clima tem algo a ver com o avanço mais lento da doença no Estado. “Nós colocamos na conta das restrições à circulação de pessoas”, salienta.
A assessora técnica do órgão criado para monitorar e adotar medidas contra a pandemia em Mato Grosso do Sul reforça que só há uma forma de agir para se proteger: evita sair de casa, lavar as mãos incansavelmente, deixar de tocar o rosto e guardar distância das pessoas.
Uma incógnita é quanto a como vai ser no período do inverno. Ela lembra que os países frios “pereceram mais”. Por isso, não é demais repetir e a médica fez isso: “Fique em casa. Só isso vai segurar a doença”. De acordo com ela, o pico de contágio no Estado está previsto para maio, quando o frio começa a dar as caras.