No Centro-Oeste, capitais traçam ações contra coronavírus: "questão de dias"
Campo Grande, Cuiabá e Goiânia adotam estratégias semelhantes, mas só na capital de MS hospitais de campanha foram adotados
A exemplo de Campo Grande, outras duas capitais da região Centro-Oeste preparam-se para o aumento dos casos de infecção para o novo coronavírus (Covid-19). Em compassos estratégicos diferente, apresentam cenários similares de confirmações da doença e expectativa pessimista de que a curva ascendente de infectados é apenas “questão de dias”.
Conforme dados divulgados pelas secretarias até o fim da tarde de ontem, Goiânia (GO) tem 49 casos confirmados da doença e nenhum óbito; Cuiabá (MT), 28 confirmações e nenhuma morte. Campo Grande está com 38 confirmados, sem mortes. No caso do Distrito Federal, são 354 casos positivos para doença e três mortes, mas, como a conta inclui Plano Piloto, Lago Sul, além de Ceilândia, Sobradinho, Gama e Águas Claras, o que expande as regiões administrativas, configura cenário distinto para comparação nesta reportagem.
Em Goiânia, além da proximidade de casos confirmados, há semelhanças no discurso do prefeito Iris Rezende (MDB) com o de Marquinhos Trad (PSD), que costuma recorrer ao divino em seus pronunciamentos.
Lá, no dia 12 de março, Rezende chegou a dizer que “Goiânia é uma cidade protegida por Deus”, que estava “tranqüilo”, pois a capital “não será atingida pelo coronavírus”. Porém, um dia depois de propagar a crença divina, a prefeitura iniciou a decretação de medidas para conter o avanço da Covid-19: declaração de situação de emergência, suspensão da agenda cultural, das aulas na rede municipal, das feiras livres, home office a servidores e restrições ao comércio.
O superintendente de gestão de redes de atenção à saúde da Secretaria de Saúde de Goiânia, Silvio José de Queiroz, diz que o município adotou série de medidas para tentar tratar os pacientes e conter o avanço da epidemia. Nas unidades de saúde,70% dos atendimentos básicos foram suspensos, abrindo espaços para infectados pela Covid-19, mantendo o ambulatorial apenas para pacientes com HIV e para distribuição de medicamentos.
Também foi criado call center com 32 técnicos de enfermagem, oito enfermeiros e oito médicos que tiram dúvidas e, em última análise, se a pessoa apresentar sintomas graves, a indicação de unidade de tratamento. Além disso, há central de monitoramento dos casos suspeitos e confirmados, acompanhamento feito por equipe multiprofissional (médicos, enfermeiros, nutricionistas e até psicólogos). “São medidas que ajudam a reduzir o fluxo de pacientes nas unidades de saúde”, diz.
A preocupação, explica, é quando a doença chegar à população mais carente, que irá recorrer às unidades públicas. “Estamos fazendo todos os esforços, todas as secretarias, aumento de casos é questão de dias, horas”. Silvio diz que ainda está sendo calculada a expectativa de infecção pelo novo coronavírus na cidade.
Um fato que chamou atenção é que o prefeito, que tem 86 anos, contrariou recomendações do Ministério da Saúde de permanecer em casa: no dia 27 de março inaugurou obra na Praça do Cruzeiro.
Subnotificação – em Cuiabá, o número de casos confirmados ainda é extremamente baixo em relação a outras capitais, mas a gerente de doenças e agravos transmissíveis da Secretaria Municipal de Saúde, Flávia Guimarães, não considera que as confirmações condizem com a realidade e que, na verdade, se aproximem dos índices das outras capitais do Centro-Oeste.
“Tem bastante caso suspeito (no dia da entrevista, 85 casos), ainda têm resultados que precisam ser processados”, disse. Flávia também leva em conta que os exames demoram de quatro a cinco dias para que sejam conclusivos, média semelhante do que ocorre em Goiânia. Em Campo Grande, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, os testes são feitos e conhecidos em prazo de 48 horas, o que facilita o mapeamento da situação.
Flávia diz que a cidade adotou decretos que determinam distanciamento social. No site da prefeitura, a lista contém suspensão do transporte coletivo, fechamento do comércio, adoção do home office no sistema público e paralisação das aulas. Além disso, a desinfecção de áreas públicas e a utilização da mídia para informar a população dos cuidados para evitar a infecção. “Está todo mundo fazendo trabalho semelhante, na linha da educação e do distanciamento”. A perspectiva é que pelo menos 6 mil pessoas sejam infectadas pela Covid-19 na cidade.
As prefeituras de Cuiabá e Goiânia ainda não montaram hospitais de campanha, projetos que ainda estão em desenvolvimento. Em Campo Grande, já foram montadas unidades no Hospital Rosa Pedrossian e parques públicos. As três capitais trabalham com o preocupante cenário de pico de contágio no fim de abril e começo de maio.