Chove no Pantanal, mas fim da longa estiagem continua sem respostas
Águas sobem lentamente, percorrendo um solo desértico castigado pela seca e o fogo
O comportamento das águas no Pantanal mudou em relação aos últimos anos de seca severa, porém, tem chovido forte em algumas regiões e de forma tímida e inconstante numa área mais expressiva do território. O cenário é desenhado pelos pantaneiros, na observação diária em suas fazendas e na vivência com o lugar. A seca deve persistir, contudo, menos impactante.
RESUMO
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O Pantanal enfrenta um cenário de chuvas irregulares após anos de seca severa. Enquanto algumas áreas recebem chuvas fortes, outras continuam secas, o que mantém a estiagem, embora menos intensa. O Rio Paraguai, na parte alta, está em níveis normais, mas a seca prolongada baixou o lençol freático. O assoreamento na bacia alta pode estar influenciando a rápida subida dos rios. Na planície, chuvas intensas ocorrem em algumas subregiões, mas o impacto total será avaliado entre abril e junho, quando o Rio Paraguai atinge seu pico. A expectativa é de uma seca menos intensa, dependendo dos afluentes.
A Embrapa Pantanal ainda não se pronunciou e o Serviço Geológico do Brasil, em boletim divulgado dia 6 de fevereiro, aponta que o Rio Paraguai, na parte alta (Barra do Bugres e Cáceres, em Mato Grosso), está com seu nível dentro da normalidade para o período. Cáceres superou o nível de 2024 (3,86m), atingindo 4,54m no dia 4 de fevereiro, mas já está em vazante.
“Ainda estamos num regime de estiagem”, afirma Carlos Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal, com base em uma avaliação quantitativa de chuvas na bacia ainda preliminar. A se manter o atual índice pluviométrico, em dois meses os rios podem reduzir o volume de água e as áreas úmidas voltarem a secar. Há vários fatores, não apenas a falta de chuvas.
Assoreamento
Com propriedade no Paiaguás, o pantaneiro Manoel Martins de Almeida, 80, ex-presidente do sindicato rural do município, faz uma observação: o prolongando da estiagem, nos últimos anos, baixou o lençol freático na planície e as chuvas esparsas começam a recompor o ambiente pantaneiro. “Algumas vazantes e corixos receberam água, mas chuvarada não tem”, diz.
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A subida repentina dos rios, segundo outro pantaneiro, Armando Lacerda, pode ter como interferência o assoreamento na parte alta da bacia, onde tem aumentado, e menos das precipitações. “As águas estão com maior velocidade, e em Cáceres, onde tem chovido com mais intensidade até a fronteira com a Bolívia, o rio (Paraguai) está totalmente assoreado”, diz ele.
Na planície, em Mato Grosso do Sul, tem ocorrido precipitações mais intensas nas subregiões da Nhecolândia, Rio Negro e Taquari, onde as águas voltaram ao leito até então seco do rio. O acesso de veículos a partir de Coxim está interrompido, devido aos atoleiros. “Pode ser o fim da estiagem”, estima Luciano leite, também ex-presidente do sindicato rural local.
Vai e vem das águas
O nível que o Paraguai atingiu em Cáceres também não seria representativo porque a planície está seca e essa água teria um represamento ao longo de 680 km até chegar a Ladário, ao lado de Corumbá, cerca de dois meses depois. Em Ladário, na Marinha, está localizada a régua considerada referência para avaliar a situação hidrológica do Pantanal.
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Esse cenário será possível diagnosticar com exatidão entre abril e junho, quando o Rio Paraguai atinge seu pico. A cada ano o vai e vem das águas impõe alteração radical do rio. Em Ladário, depois de atingir a marca negativa histórica de -069cm, em 17 de outubro de 2024, o Paraguai se recupera e aproxima-se de 1,47m, altura máxima atingida em maio do mesmo ano.
A subida do rio nesse ponto indica que pode superar os 2,5m, anunciando uma seca menos intensa. Tudo vai depender, também, dos afluentes, os quais, a exceção do Coxim, Cuiabá, Aquidauana e Taquari, estão com níveis abaixo do esperado. A avaliação é do Serviço Geológico do Brasil, que estimou elevação do Paraguai em Cáceres, quando o rio está em declínio.