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Cidades

Chove no Pantanal, mas fim da longa estiagem continua sem respostas

Águas sobem lentamente, percorrendo um solo desértico castigado pela seca e o fogo

Por Silvio de Andrade, Corumbá | 11/02/2025 15:26
Chove no Pantanal, mas fim da longa estiagem continua sem respostas
Tempo chuvoso no Taquari: imagem postada pelo pantaneiro e piloto Francisco Boabaid na rede social

O comportamento das águas no Pantanal mudou em relação aos últimos anos de seca severa, porém, tem chovido forte em algumas regiões e de forma tímida e inconstante numa área mais expressiva do território. O cenário é desenhado pelos pantaneiros, na observação diária em suas fazendas e na vivência com o lugar. A seca deve persistir, contudo, menos impactante.

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O Pantanal enfrenta um cenário de chuvas irregulares após anos de seca severa. Enquanto algumas áreas recebem chuvas fortes, outras continuam secas, o que mantém a estiagem, embora menos intensa. O Rio Paraguai, na parte alta, está em níveis normais, mas a seca prolongada baixou o lençol freático. O assoreamento na bacia alta pode estar influenciando a rápida subida dos rios. Na planície, chuvas intensas ocorrem em algumas subregiões, mas o impacto total será avaliado entre abril e junho, quando o Rio Paraguai atinge seu pico. A expectativa é de uma seca menos intensa, dependendo dos afluentes.

A Embrapa Pantanal ainda não se pronunciou e o Serviço Geológico do Brasil, em boletim divulgado dia 6 de fevereiro, aponta que o Rio Paraguai, na parte alta (Barra do Bugres e Cáceres, em Mato Grosso), está com seu nível dentro da normalidade para o período. Cáceres superou o nível de 2024 (3,86m), atingindo 4,54m no dia 4 de fevereiro, mas já está em vazante.

“Ainda estamos num regime de estiagem”, afirma Carlos Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal, com base em uma avaliação quantitativa de chuvas na bacia ainda preliminar. A se manter o atual índice pluviométrico, em dois meses os rios podem reduzir o volume de água e as áreas úmidas voltarem a secar. Há vários fatores, não apenas a falta de chuvas.

Assoreamento

Com propriedade no Paiaguás, o pantaneiro Manoel Martins de Almeida, 80, ex-presidente do sindicato rural do município, faz uma observação: o prolongando da estiagem, nos últimos anos, baixou o lençol freático na planície e as chuvas esparsas começam a recompor o ambiente pantaneiro. “Algumas vazantes e corixos receberam água, mas chuvarada não tem”, diz.

Chove no Pantanal, mas fim da longa estiagem continua sem respostas
Estrutura exposta do Farol Balduíno, em frente ao porto de Corumbá, mostra o nível crítico do Rio Paraguai. Foto: Silvio de Andrade

A subida repentina dos rios, segundo outro pantaneiro, Armando Lacerda, pode ter como interferência o assoreamento na parte alta da bacia, onde tem aumentado, e menos das precipitações. “As águas estão com maior velocidade, e em Cáceres, onde tem chovido com mais intensidade até a fronteira com a Bolívia, o rio (Paraguai) está totalmente assoreado”, diz ele.

Na planície, em Mato Grosso do Sul, tem ocorrido precipitações mais intensas nas subregiões da Nhecolândia, Rio Negro e Taquari, onde as águas voltaram ao leito até então seco do rio. O acesso de veículos a partir de Coxim está interrompido, devido aos atoleiros. “Pode ser o fim da estiagem”, estima Luciano leite, também ex-presidente do sindicato rural local.

Vai e vem das águas

O nível que o Paraguai atingiu em Cáceres também não seria representativo porque a planície está seca e essa água teria um represamento ao longo de 680 km até chegar a Ladário, ao lado de Corumbá, cerca de dois meses depois. Em Ladário, na Marinha, está localizada a régua considerada referência para avaliar a situação hidrológica do Pantanal.

Chove no Pantanal, mas fim da longa estiagem continua sem respostas
Chegada das águas mudou o comportamento do Rio Paraguai no canal que contorna o Farol do Balduíno. Foto: Silvio de Andrade

Esse cenário será possível diagnosticar com exatidão entre abril e junho, quando o Rio Paraguai atinge seu pico. A cada ano o vai e vem das águas impõe alteração radical do rio. Em Ladário, depois de atingir a marca negativa histórica de -069cm, em 17 de outubro de 2024, o Paraguai se recupera e aproxima-se de 1,47m, altura máxima atingida em maio do mesmo ano.

A subida do rio nesse ponto indica que pode superar os 2,5m, anunciando uma seca menos intensa. Tudo vai depender, também, dos afluentes, os quais, a exceção do Coxim, Cuiabá, Aquidauana e Taquari, estão com níveis abaixo do esperado. A avaliação é do Serviço Geológico do Brasil, que estimou elevação do Paraguai em Cáceres, quando o rio está em declínio.

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