Diagnóstico tardio esconde perigos da covid e oxímetro é aliado na prevenção
De todas as 357 vítimas da covid-19 em MS, 53 morreram no mesmo dia em que descobriram a doença
De todas as 357 vidas perdidas para covid-19 em Mato Grosso do Sul, 15% das vítimas morreram no mesmo dia em que descobriram que estavam com a doença. Ou seja, 53 das vítimas buscaram atendimento em saúde tardiamente, ou mesmo, podem ter apresentado sintomas leves, mas com comprometimento não percebido.
Uma das razões que pode levar a esse tipo de quadro são as microtromboses, consequência já identificada por especialistas em todo mundo em pacientes com covid-19. São pequenos coágulos formados no sangue, cujo efeito direto é reduzir a oxigenação das células.
Uma das pessoas com diagnóstico tardio de covid-19 foi a aposentada Oceni Maria da Silva, 60 anos, de Cassilândia. Ela morreu no mesmo dia do diagnóstico pela doença. Apesar dos outros fatores que podem ter desencadeado sua partida repentina (leia mais aqui), a demora no diagnóstico não pode ser descartada como um dos que contribuíram para isso.
Problema aumentando - Em transmissão ao vivo na manhã de ontem, da SES (Secretaria de Estado de Saúde), a secretária-adjunta de saúde, Christine Maymone e o infectologista, Júlio Croda, falaram justamente sobre esse acompanhamento tardio, que tem aumentado.
“Vemos por exemplo, a notificação 347, sexo masculino, 38 anos, notificado com covid em 28 de julho e morreu em 28 de julho”, disse Maymone, tentando enfatizar a necessidade de que aos primeiros sinais da doença, a pessoa já procure atendimento médico.
Croda, por sua vez, sustentou que algumas vítimas de covid têm sintomas leves, mas mesmo assim, acabam morrendo, e de repente.
Em sua explicação, ele afirmou que uma das causas desse quadro são justamente as microtromboses, que reduzem a oxigenaçao do sangue, mas que não causam mal estar a ponto da pessoa achar que está grave.
Por conta disso, ele sustentou a necessidade da oximetria, a aferição da saturação, ou seja, a quantidade de oxigênio no sangue.
Fora os testes já comuns – rápido e RT-PCR – a oximetria, segundo Croda, aponta para a necessidade de cuidado mais atento aos casos que podem ser de covid.
“Se a pessoa tem covid ou algum sintoma, não espere piorar para procurar uma unidade de saúde. Vai lá e pede pra checar a saturação. Se estiver em 93 ou menos, é preocupante. Se estiver acima disso, está ok”, afirmou.
Segundo o médico, “as pessoas devem procurar serviço de saúde cedo, ir até uma unidade de atenção primária e medir a saturação. Se estiver menor que 93, vai precisar internar e vai precisar de oxigênio”, declarou.
O especialista disse que na Itália - país que enfrentou uma das piores crises de saúde por causa do novo coronavírus este ano -, como não havia como realizar tomografia pulmonar de todos os pacientes com covid, o protocolo foi adotar a aferição da saturação. “Daí eles sabiam que com menos de 93% teria que internar”.
"Às vezes a pessoa não sente falta de ar, mas esta com a saturação muito baixa”, diz Croda, e por isso o oxímetro é importante e alerta, “não fique em casa aguardando a piora dos sintomas. Você pode ter poucos sintomas, mas trombose pode causar essa falta de oxigenação que a pessoa não vê”.
De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande), todas as unidades de urgência e emergência que são 24 horas – UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e CRSs (Centros Regionais de Saúde) – “contam com aparelhos de oxímetro de pulso para medir o nível de oxigênio (saturação de oxigênio) do sangue de pacientes com suspeita de Covid-19 e outras síndromes respiratórias”.
E informa que a partir de segunda-feira, dia 03 de agosto, “as mais de 114 unidades de saúde da rede, incluindo a Atenção Primária, Saúde Mental e Rede Especializada, contarão com aparelhos para fazer o atendimento da população”.
Segundo nota da Sesau, hoje ainda os aparelhos começam a ser distribuídos. São 285 equipamentos, doados pela OPAS (Organização Panamericana de Saúde) ao município por intermédio do Estado.
A prefeitura, via Sesau, informou ainda que os pacientes que necessitaram de internação e evoluíram para óbito em menos de 24 horas foram apenas três, sendo apenas 2,5% do total de óbitos na cidade. “Em todos os casos notou-se a semelhança pela demora em buscar atendimento médico, dando entrada nas unidades de saúde já em estado gravíssimo”.